FONTE: Kelly Cerqueira, TRIBUNA DA BAHIA.
Toda quarta-feira de cinzas é a mesma coisa. Tristes com o fim da festa, turistas dos quatro cantos do mundo mostram-se infelizes por ter que voltarem para casa, após curtirem os seis dias da maior festa a céu aberto do mundo.
A capital baiana parece enfeitiçar os visitantes que chegam a dizer que, se pudessem, mudariam imediatamente para cá. Mas, para os soteropolitanos, a folia já não é mais motivo de tanta alegria, o que faz com que boa parte da população queira fugir da agitação do período, como mostra o resultado parcial de uma enquete realizada no site da Tribuna.
Nela, mais de 75% das pessoas que responderam à pergunta “O que você vai fazer no carnaval?”, responderam que irão ficar longe da folia.
Diante de a maioria esmagadora assumir querer distância dos grandes centros da festa, a reportagem da Tribuna foi às ruas saber o que mantém os soteropolitanos longe dos circuitos. Questões ligadas à religião, ao tumulto nas ruas e à violência apareceram como as principais causas.
É o caso da funcionária pública Ticiane Vieira. Casada e com um filho, ela diz que, geralmente, passa os seis dias em família, descansando. “Não dá mais para curtir como antes, é muita confusão, gente demais nas ruas, não temos mais essa disposição de enfrentar multidões”, confessou.
A caixa de supermercado Verônica de Oliveira compartilha da mesma opinião que a funcionária pública. “Não gosto de pagode, nem de axé, acho tudo muito repetitivo, sem contar o perigo que a gente sofre, com tanta gente nas ruas. É muita confusão”, opinou.
Já o frentista Alberto da Silva Santos prefere assistir a folia pela televisão. “Pode até ser que eu vá algum dia, porque acho legal, mas a violência, principalmente as brigas, estão me afastando da avenida”, opinou.
Mas, com tantas críticas em relação à festa, o que faz com que a cidade ganhe cada vez mais adeptos de outros lugares do mundo? Para o corretor de imóvel Fernando Soares, a elitização da festa é o que tem causado o afastamento dos soteropolitanos das ruas no período. “Quem é de Salvador só serve para sustentar a mão de obra da festa, porque quem é trabalhador não tem pique, nem dinheiro para curtir os seis dias de carnaval. Há muito tempo, carnaval é uma festa para turistas”, assegurou.
Segundo ele, o carnaval só se torna uma festa interessante para quem tem condições financeiras para curtir da melhor maneira. “Eu até entendo que os turistas sejam tão apaixonados pelo carnaval daqui. Eles passam os seis dias dentro de camarotes maravilhosos, que serve tudo do bom e do melhor, ou dentro de blocos caríssimos, cheios de segurança, e depois vão embora. Não precisam passar pelo aperto na pipoca, que é o lugar que sobra para quem é da casa”, continuou Soares.
Ele creditou a maioria das brigas causadas no percurso do carnaval à falta de espaço para o folião pipoca. “É um aperto tão grande, que as pessoas, já embriagadas, acabam achando que empurrão é motivo para briga”, pontuou. Mesmo com todos os problemas apresentados por ele, o corretor assume que irá, ao menos dois dias da festa, para um camarote.
Paixão.
Para quem é apaixonado pela festa, nenhuma das críticas apresentadas justifica perder sequer um dia da folia. “Problemas a gente tem em todo lugar. Basta saber curtir e ir na paz, relevar certas coisas e moderar na cachaça”, disse o cobrador de ônibus Evandro Ribeiro.
Soteropolitano e apaixonado pela festa, ele se orgulha em contar apertos que já passou nos circuitos, mas garante que nada vai afastá-lo da folia. “Carnaval tem uma energia contagiante, pessoas do mundo inteiro, com um único propósito, o de se divertir. Bel tocando, gringa dando mole. É tudo bom demais”, afirmou.
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