FONTE: Flávio
Ilha | O Globo, CORREIO
DA BAHIA.
Nos dois casos, as
vítimas tiveram convulsões cerca de uma hora após receberam a primeira dose da
medicação.
A Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul está
investigando dois casos graves de reação à vacina anti-HPV, que vem sendo
aplicada na rede pública em adolescentes do sexo feminino entre 11 e 13 anos
desde o dia 10 de março.
Nos dois casos, as vítimas tiveram convulsões cerca de
uma hora após receberam a primeira dose da medicação e precisaram de
atendimento de urgência para reverter o quadro. Ambas passam bem e não correm
risco de vida.
Os dois casos foram registrados na semana passada. Um
ocorreu em Caxias do Sul e outro em uma cidade não revelada do interior do
Estado. Nem a idade e nem a identidade das duas meninas foram informadas pela
Secretaria, que também não divulgou os casos publicamente.
As reações são consideradas graves pelo Ministério da
Saúde porque não há descrição na literatura médica de convulsões como efeitos
colaterais após a aplicação da vacina anti-HPV.
Segundo a coordenadora do Programa de Vacinação da
Secretaria, Tani Ranieri, as duas adolescentes não precisaram de internação,
mas continuam sendo acompanhadas para medir a extensão do problema neurológico
que apresentaram.
Nenhuma delas tinha histórico de epilepsia, causa mais
comum de convulsões, e necessitaram de atendimento de emergência para reverter
o quadro. Segundo a coordenadora, o socorro rápido às adolescentes impediu
danos maiores.
"Ainda não podemos afirmar que as convulsões foram
causadas pela vacina, estamos investigando. ê necessário ter cuidado nesses
casos porque o medicamento pode levar a culpa por problemas anteriores, que não
eram conhecidos e que foram apenas desencadeados pelo produto, o que não é a
mesma coisa", advertiu a coordenadora.
Além desses dois casos, foram registrados mais 30
ocorrências de reações adversas leves, como náuseas, tonturas e desmaios, no
Estado.
A aplicação da vacina tem como meta proteger cerca de 2,5
milhões de adolescentes contra a infecção pelo HPV em todo o país - 80% da
população feminina da faixa etária entre 11 e 13 anos, segundo o IBGE.
Até a quarta-feira (26), cerca de 85 mil meninas já haviam
sido vacinadas no Rio Grande do Sul. No Estado, a meta é vacinar pelo menos 206
mil adolescentes de uma população de 258 mil na faixa etária incluída no
benefício.
O vírus HPV pode causar câncer de colo de útero em
percentual de 0,5% a 1% das mulheres infectadas. Nos homens, o percentual de
câncer de pênis é ainda menor - cerca de 0,05% dos infectados.
A vacina, que é a mesma oferecida na rede privada a um
custo médio de R$ 400 por dose, é fornecida pelo laboratório norte-americano
Merck Sharp & Dohme. O produto protege contra quatro cepas do vírus,
considerados os mais oncogênicos dos mais de 500 tipos de HPV já
identificados.
A segunda dose será aplicada a partir de setembro, seis
meses após a primeira aplicação, com reforço final daqui a cinco anos. A
vacinação prossegue até 10 de abril na rede pública de saúde e nas escolas
públicas e privadas.
Segundo a Sociedade Gaúcha de Pediatria (SGP), o Centro
de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos inclui a convulsão
na categoria de eventos adversos graves pós-vacina, junto a outros efeitos como
tromboembolismo, apendicite e reações alérgicas. Nenhum dos eventos já
relatados, entretanto, foi relacionado diretamente à aplicação da vacina de
forma científica. Os Estados Unidos já aplicaram cerca de 57 milhões de doses
do medicamento.
"Em campanhas massivas como essa, o surgimento de
reações adversas raras acaba sempre aparecendo. O recomendável é que a segunda
dose não seja aplicada e que essas adolescentes sejam acompanhadas", disse
Juarez Cunha, do Comitê de Infectologia e Cuidados Primários da SGP.
A vacina anti-HPV, entretanto, tem alta incidência de
reações adversas segundo o CDC. Uma em cada dez pacientes tem febre leve e três
em cada dez registram dor de cabeça. Os dois casos investigados no Rio Grande
do Sul já foram relatados ao Ministério da Saúde, que está acompanhando as
análises. Nenhuma autoridade do órgão quis se manifestar sobre as
ocorrências.
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