FONTE: iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
A fase dos 20 e poucos anos é
importante e pode definir como será a vida adulta de
um jovem. É o que defende a psicóloga americana Meg Jay no livro A idade
decisiva (Ed. Sextante), recém lançado no Brasil.
Com o slogan "você decide sua vida
agora mesmo", a autora busca com tom provocativo tirar jovens “eternos
adolescentes” do conforto e desconstruir a ideia de que vivem um período de
transição até os 30 anos, quando realmente abandonariam os hábitos juvenis.
“Como cerca de 80% dos fatos mais
importantes da vida ocorrem até os 35 anos, depois disso geralmente damos
prosseguimento – ou corrigimos – as ações que iniciamos na década anterior”,
diz autora no livro.
Para ela, no decorrer de uma geração, uma
mudança cultural caracterizou os 20 anos como “anos da odisseia” e
“adolescência estendida”. Mas, acreditar nisso pode ser contraditório e
perigoso, alerta Meg.
O livro soma centenas de
experiências que Meg presenciou no próprio consultório, nos EUA. Baseada nelas,
a psicóloga diz que o cenário é preocupante. Inúmeros jovens apareceram em sua
sala perdidos e sem confiança para
enfrentar a maturidade. E o assunto ganhou força após a palestra “Why 30 is not
the new 20” na conferência TED, em julho do ano passado. O vídeo registra mais
de 5 milhões de visualizações.
Na ocasião, Meg gerou certa polêmica ao
dizer que esperar a maturidade instantânea dos 30 anos poderia ser tarde
demais.
“Muitos já terminaram a faculdade, dedicaram
certo tempo no trabalho, e têm parceiros estáveis, que podem até virar
parceiros da vida. São responsabilidades que dificultam uma mudança na
direção”, defendeu na palestra.
A psicóloga culpou ainda a mídia e o
“turbilhão de campanhas publicitárias” por banalizarem a década mais importante
e transformadora para a vida adulta.
Não é bem assim...
Categórico e muito taxativo. Essa é a
opinião de duas psicólogas ouvidas pelos Delas sobre a tese da americana. Para
os que estão a poucos anos dos 30 não há motivo para desespero, garante
Elizabeth Monteiro, psicóloga e escritora.
“Não dá para tratar o tema dessa forma tão
taxativa. O processo de busca e descoberta tem muitas variáveis.”
Além disso, explica a psicóloga, o discurso
não é aplicável a todas as culturas. Quando Meg cita a alta incidência de
oportunidades na fase jovem, ela desconsideraria cenários sociais de outros
países, como o Brasil, onde muitos precisam trabalhar ou até criar os filhos
para depois arcar com os próprios estudos.
“Talvez funcione lá nos EUA, mas com certeza
não é uma regra para nós.”
Elizabeth conta ainda que muitos costumam
acertar – e encontrar o que realmente gostam – na faixa dos 35 e 40 anos.
“Eu mesma com 18 queria uma coisa, com 20
fiz outra e aos 40 resolvi fazer aquilo que dava prazer”, defende a
especialista, afirmando que há exceções. Algumas crianças, por exemplo, nascem
com uma habilidade específica e isso pode traçar a vida adulta.
Duas vidas.
Para a psicanalista Vera Zimmermman é
preciso considerar o histórico do jovem. Se o desenvolvimento ocorreu sem
traumas familiares ou vícios, como as drogas, a pessoa terá toda a energia para
conquistar a vida adulta.
“Às vezes lidamos com pessoas instáveis e
desencontradas, mas tampouco significa que irão fracassar. Talvez elas só
encontrarão a felicidade mais tarde”, conta a profissional, que é especializada
em adolescentes.
E não há pressa para encontrar a vida
perfeita, garante Vera. Segundo ela, como as pessoas são ativas na sociedade
por muitos anos no período da velhice, há tempo para reinventar.
“Acredito que até com 50 anos você pode se
reinventar. Com a vida mais longa e útil, podemos viver até duas vidas”.
No entanto, o conceito de “adolescência
estendida” ganhou força no século 21 por culpa dos pais, explica Vera, que
acabam segurando os adolescentes em casa, adiando a maturidade dos filhos. O
conforto financeiro, as vontades atendidas e o apoio dos pais deixam a
caminhada para a vida adulta mais íngrime e desafiadora.
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