terça-feira, 13 de outubro de 2009

CETEDRÁTICO EM FISIOTERAPIA...

FONTE: Tasso Franco (TRIBUNA DA BAHIA).

Nesta terça-feira, 13, comemora-se o Dia da Fisioterapia uma profissão bastante disputada nos dias atuais diante da possibilidade real de alongamento da vida dos brasileiros. Como os clientes desse segmento quase sempre são os mais idosos, as clínicas andam repletas de velhinhos como eu, pessoas chamadas da "terceira idade", o que é completamente absurda tal classificação, assim como ridículo chamar-nos da "melhor idade". Somos mesmos velhinhos lenhados e entrevados com os pinos batendo bielas nos ombros e nos joelhos.
Eu próprio, diante de uma tendinite bicepital no ombro direito com irradiações pelo esquerdo e braços, porque a dor anda, caminha, é impressionante como ela se desloca, mais até do que o meio de campo do Bahia que vive aos cacos, batendo cabeças, sou cliente da Sofísio há anos e até já sei de cor e salteado o nome das doutoras, aliás, duas Denises, e das meninas que nos atendem, Danielle, Juliana, Tereza, Ana Paula, Pulquéria, e também meus colegas de infortúnio – Sêo Mário, Sêo Rui, Riva, coronel Sérgio e outros – numa troca de experiências fantástica.
Daí que, embora não tenha alisado os bancos da UFBA ou da Unijorge, muito menos da FTC e UCSAL nesta matéria já me considero um catedrático no assunto, visto que, nos ensinamentos práticos com "nossos" pacientes comuns é cada coisa que se aprende, desde o uso do sebo de carneiro quente a gengibre, ou mesmo doses de Red Label quando a dor chega, mais às noites, exatamente quando o corpo relaxa e ela vem para nos tirar o sono.
Tem um paciente colega nosso que fica zanzando e mancando quase a noite toda entre o quarto de dormir e a sala, porque dor é um negócio miserável, e seu joelho parece que adora as madrugadas e quando chega assim por volta da meia noite ele apita, ele começa a latejar, e aí não tem jeito, parece pisca-pisca de carro novo, tic-tac, tic-tac, acendendo e apagando, que a solução é levantar, flexionar, andar, capengar e gemer. Aí o sujeito disse que a mulher dele ainda fica chateada porque também atrapalha seu sono e ainda recebe esporros em plena madrugada.
De repente, meu vizinho de tendinite, com gelo trançado nos dois ombros, pergunta se ele já tinha experimentado acupuntura e o dito responde que já fez acupuntura Tui-Na e Qi-Cong com mestre Yu Lihong, lá na Avenida Centenário, perto do Cemitério do Campo Santo (que local miserável) e que o nobre chinês capaz de conseguir que o sujeito pare de fumar, que o camarada ganhe potência no bilau, que cura otite e afonia, não deu solução no seu joelho e retornara a Sofísio porque essas meninas aqui são gentis, embora já fiz umas 50 sessões e não conseguiu avanços significativos.
Riva, que é servidor do Banco do Brasil, entra na conversa: - Ah! Já fiz mais de 100 sessões. O problema é que trabalho no caixa e uso um maldito computador. E aí, a dor volta. É o efeito sanfona e o banco ainda não quer me dar uma licença. Na hora do meu pitaco adicionei que, realmente, computador é um inferno, não o computador em si, mas, as diferentes mesas de uso do trabalho, cadeiras tortas e assim por diante. Tanto que, tomei aulas de postura com Alfredo paginador, o camarada que diagrama livros, e ele me mostrou como se senta corretamente, em cadeira dura, e também qual a altura certa de por a mão no ratinho.
Outra lição de Alfredo, usar o dito ratinho (mouse para os mais chiques) com as duas mãos. Se vê é destro, treina a mão esquerda para tratar o equipamento. E, sendo canhoto, faz o contrário. É pá e bola. Nada disso adiante, confessa o coronel Sérgio, seguido conselhos de um nobre advogado também "nosso" ciente que, o negócio é procurar Dra Gorete da Clínica Sem Dor, na Garibaldi. Tinha um camarada entrevado na maca e suspirou de sua parte: - Essa é boa, pois já tomei uma infiltração na coluna e fiquei bom. – E a dor não voltou mais? - questiona o advogado. – Nada, já tem dois anos, tô bom todo.
É uma delícia frequentar a Sofísio. Na saletinha de espera ficam as senhoras que são atendidas noutra sala. Na medida em que sai uma, entra outra. Mas, enquanto estão na saleta tome tricô. Curioso é que as conversas ou giram em torno de doenças, quase sempre, ou em relação à família, o cotidiano, as novelas e assim por diante. Tanto que, uma senhora dizia que novela boa tinha sido "Caminho das Índias" e essa "Viver a Vida" não tava com nada, sendo aparteada por uma santinha que confessou: - Não. Essa é melhor. Aquelas cenas de Paris, na beira do Sena lembram muito uma viagem que fiz com meu amado.
- Ah!, rebate a outra, "Caminho das Índias" tinha mais enredo, mais emoção. Agora, esse negócio de viagem todo mundo já fez uma vez na vida. Então, relatou uma terceira paciente: - Como minha nora não tem quem viaje assim. Ela anda direto fazendo compras em Nova Iorque. Já falei ao meu filho para ele abrir os olhos. - E que sejam bem abertos, retrucou sua vizinha, porque nos tempos de hoje, com essa modernidade toda, eu hem!
Bem, com licença que vou a sala da irometria balançar uns pesinhos e puxar borrachas 60 segundos de cada vez. – Um, dois,... cinqüenta... sessenta. – Sêo Tasso, o senhor ta indo muito rápido. Barriga pra dentro, peito pra fora, devagar, repreende-me a fisioterapeuta.

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