FONTE: Doris Miranda (CORREIO DA BAHIA).

Era tão original que nunca mais se viu coisa parecida - mesmo ele tendo propagado o bordão de que na tevê“ nada se cria, tudo se copia”. Os saudosos de seu estilo ou os que não tiveram oportunidade de assistir à irreverência do Velho Guerreiro em programas antológicos como O cassino do Chacrinha podem agora viajar no seu mundo surreal através do documentário Alô, alô Terezinha, de Nelson Hoineff, que estreia sexta nos cinemas de Salvador.

CARNAVAL DO EU SOZINHO.
Em cena, o Velho Guerreiro era uma apoteose. Gritava maluquices, inventava bordões jocosos, perseguia os assistentes de palco, exibia as chacretes em shows de dança, jogava farinha de trigo e bacalhau no público e interagia de forma muito pessoal com os artistas.
Fábio Jr. conta que diversas vezes Chacrinha o fez entrar novamente no auditório só porque o público não tinha reagido de forma calorosa o suficiente. “Achava engraçado, mas ia na onda dele. Eu o amava muito”, relembra. Roberto Carlos, quem diria, se apresentou disfarçado dentro do quadro O cantor mascarado. “Chacrinha era único. Nós fazíamos tudo o que ele pedia”, diz o Rei.
Fafá de Belém confirma que bastava o artista cantar no programa para a fama vir instantaneamente: “Ele era a maior parada de sucesso de sua época. Na semana seguinte, estava em primeiro lugar e com música em novela”.

O mais legal, no entanto, no documentário de ritmo irregular é rever as chacretes, algumas das mulheres mais desejadas da tevê brasileira na época. Tirando Rita Cadillac, que estrelou um filme pornô e continua fazendo seus shows pelo país, hoje ninguém mais sabe quem é Loira Sinistra, Fátima Boa-Viagem, Lúcia Apache, Cléo Toda-Pura, Vera Furacão ou Índia Potira, que protagoniza uma das cenas mais comoventes do filme (cinquentona, ela se veste de índia novamente e fica nua no chafariz de sua cidade).
Já muito longe do antigo vigor, as meninas relembram o sucesso e fazem questão de dizer que não eram garotas de programa, como muita gente pensava. O que não significa dizer que não cedessem, vez ou outra, ao encanto de determinado artista. Um a um, elas vão dando nome aos bois: Pelé, Wilson Simonal, Jerry Adriani, Edson Celulari, Wanderley Cardoso, Gonzaguinha, Wagner Montes...
Alô, alô Terezinha é uma obra linear. Ainda assim, faz jus à grande importância de Chacrinha para a construção do imaginário televisivo brasileiro. Mas periga se perder justamente por tangenciar o saudosismo. “Não acho que seja um filme nostálgico. Estou falando de um fenômeno de comunicação”, opina Hoineff, que, embora acalente esse projeto há muitos anos, não conheceu o apresentador profundamente. “É uma pena, só tive a oportunidade de encontrá- lo uma vez só”, diz.
ENTREVISTA - RITA CADILLAC.
De todas as chacretes que povoaram o imaginário masculino, Rita Cadillac foi a única que ultrapassou a etapa de dançarina dos programas do Velho Guerreiro, com quem trabalhou de 1974 a 1983. Desde então, gravou músicas, virou madrinha dos presidiários, foi musa inspiradora do documentário Rita Cadillac, a lady do povo (Tony Venturi / 2007) e protagonizou o filme pornô Sedução (J.Gaspar/ 2004). À personagem que lhe trouxe fama, Rita de Cássia Coutinho, 55, planeja uma última homenagem: quer ser enterrada de bruços. Em conversa por telefone, ela fala de sua relação com Chacrinha.
A Rita Cadillac só existe por causa do Chacrinha. Ele foi importante em todos os aspectos de minha vida. Não só do profissional, mas do pessoal também. Era um paizão, cuidava de mim.
ELE TINHA MESMO ESSA RELAÇÃO PROTETORA COM AS CHACRETES?
ELE TINHA MESMO ESSA RELAÇÃO PROTETORA COM AS CHACRETES?
Ele queria saber tudo sobre nós, como estávamos, com quem a gente namorava, se o cara prestava...Nossos namorados ou maridos não podiam buscar a gente na porta do estúdio porque ele tinha medo que as pessoas confundissem as coisas e pensassem alguma coisa errada da gente.
COMO CHACRINHA ERA NOS BASTIDORES?
COMO CHACRINHA ERA NOS BASTIDORES?
Muito bacana, conversava de tudo. Mas, na hora da palavra final, era sempre a dele.
VOCÊ ACHA QUE ELE FAZIA AQUELAS PALHAÇADAS DE FORMA CONSCIENTE?
VOCÊ ACHA QUE ELE FAZIA AQUELAS PALHAÇADAS DE FORMA CONSCIENTE?
Sim, claro. Ele tinha consciência do efeito de tudo. Mas também tinha um processo intuitivo forte.
POR QUE VOCÊ ACHA QUE FOI A ÚNICA CHACRETE A CONTINURA NA MÍDIA?
POR QUE VOCÊ ACHA QUE FOI A ÚNICA CHACRETE A CONTINURA NA MÍDIA?
Acho que talvez ele tenha me dado mais projeção porque soubesse que eu tinha alguma coisa diferente...
VAI FAZER MAIS CINEMA PORNÔ?
VAI FAZER MAIS CINEMA PORNÔ?
Não, de jeito nenhum. Não é minha praia. Fiz somente por dinheiro e disse a todo mundo na época. Foi bacana mas foi só aquilo. Percebi que Rita Cadillac não precisava daquilo. Ela continua trabalhando bem.
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