sexta-feira, 2 de outubro de 2009

JOVENS DA PERIFERIA SE TORNAM SOLDADOS DO TRÁFICO DE DROGAS...

FONTE: *** Bruno Wendel (CORREIO DA BAHIA).

De grupos de arruaceiros a donos de “bocas” em Plataforma, no subúrbio ferroviário. Seduzidos pelas ações dos bandidos do Rio de Janeiro e São Paulo - com o agravante da expansão do crack -, jovens tidos como desordeiros se tornaram soldados do tráfico e temidos na comunidade em que vivem. A Organização Plataforma Armada (OPA), denunciada pelo CORREIO na edição do dia 24 de setembro, teve três integrantes capturados pela polícia.
Na quarta-feira (1º), policiais prenderam Hércules dos Santos de Souza, 19 anos, Isael Santos de Souza, 23, e apreenderam um menor de 16 . Entre os materiais encontrados na casa de um deles, após denúncia anônima, os agentes apreenderam um vídeo em que Hércules aparece exibindo revólveres. As imagens foram gravadas através de um celular e entregues a policiais da 5ª Delegacia (Periperi), que recolheram também 17 pedras de crack e 250 gramas do cocaína.
Além da OPA, moradores de Plataforma são reféns de outras quadrilhas que usam da força como forma de intimidação. As siglas OGZ e BZM e os nomes Ciclone e Adidas, também estão estampados pelas paredes do bairro.
QUADRILHAS SÃO RIVAIS NO BAIRRO.
“Quem é do Araçá não passa na Noroeste e vice e versa”. A frase é de um comerciário morador de Plataforma há 20 anos e que teme pela vida de sua família. Evangélico, disse que a briga entre as gangues se intensificou há dois anos com a morte de um “aviãozinho” - nome dado a adolescentes que transportam drogas.
“Antes, um respeitava o espaço do outro. Hoje, a Rua Araçá é controlada pela OPA e a Noroeste pela Ciclone”, contou. “Muitos deles já morreram em brigas. Meninos que vi pequenos se tornaram verdadeiros bandidos”, comentou uma dona de casa.
Em paralelo à disputa das duas quadrilhas, outros grupos foram se formando e intensificando o banho de sangue. “Como se não bastasse, agora tem OGZ, BZM e Adidas”, disse, revoltado, um aposentado.
Questionado quanto ao poder das quadrilhas, o delegado Deraldo Damasceno (titular da 5ª DP, em Periperi) minimiza a situação. “São bandidos que querem, com a intimidação, ganhar status no submundo do crime, mas que a população não deve temer”.
As imagens entregues à polícia farão parte do inquérito. Nelas, que têm duração de uma hora e 47 minutos, o usuário de crack e cocaína Hércules aparece deitado num sofá. Sobre sua barriga estão quatro revólveres 38. Na filmagem, uma jovem lhe pergunta quanto custou cada uma delas. “Comprou por quanto?”, pergunta a jovem que aparece nas imagens com uma touca. “R$ 350”, responde ele. Em outra imagem, o líder da quadrilha, identificado como Nick, aparece de sem camisa e de boné. Ele está foragido.
'ELES SÃO APRENDIZES DE FEITICEIROS’.
O antropólogo Roberto Albergaria diz que a adesão de adolescente a quadrilhas está relacionada à luta pelo poder e pelo prestígio, como forma de autoafirmação. “Pequenos machos que disputam território. O orgulho masculino baseado na violência. Quanto mais se arma, mais poder se tem”.
Albergaria diz que há também uma relação entre violência e desejo: as meninas se sentem atraídas pelos “miseravões”. Para ele, as siglas dos grupos estampadas em paredes das residências e muros de escolas são meramente imitação do modus operandi de quadrilhas conhecidas nacionalmente. “No fundo, estão reproduzindo o modelo carioca, de forma desastrosa. São feitas para demarcar território, intimidar a população e também a polícia. São aprendizes de feiticeiros”, classificou.

*** Notícia publicada na edição impressa do dia 02/10/2009 do CORREIO.

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