segunda-feira, 19 de outubro de 2009

JUIZ NEGA ‘ROUBADINHA’ E DIZ QUE NÃO SE SENTE CULPADO POR ACIDENTE...

FONTE: *** Dóris Miranda (CORREIO DA BAHIA).

Só a perícia e a Justiça podem definir se o juiz de direito Benedito da Conceição dos Anjos, 62, foi responsável pela morte de Anderson Jorge dos Santos, na sexta-feira passada, após o violento choque da motocicleta do empresário de 31 anos contra a caminhonete Toyota Hilux do magistrado.
A família da vítima afirma que a fatalidade resultou de uma manobra ilegal, alegando que o retorno situado em frente ao Tribunal de Justiça, no Centro Administrativo da Bahia, é proibido. O juiz diz que agiu corretamente e que, segundo testemunhas, Anderson dirigia sua moto em alta velocidade.
Enquanto o caso está sendo apurado, o retorno utilizado por Benedito dos Anjos foi fechado com blocos remanescentes da prova de Stock Car. A Transalvador afirma que não foi responsável pelo bloqueio, atribuindo a ação a algum órgão do CAB.
Segundo um agente de trânsito que pediu sigilo de identidade, não havia no local nenhuma placa indicando a proibição da manobra realizada pelo juiz. Em entrevista ao CORREIO, Benedito, que também é professor universitário, relembra o acidente.

O SENHOR CONSIDERA A MANOBRA QUE FEZ LEGAL?
Aquela manobra é absolutamente legal, utilizada por centenas de pessoas por dia. Não é uma ‘roubadinha’, como se diz. Se fosse ilegal, a Transalvador e o Detran teriam fechado antes. Além do mais, como iam permitir um acesso ilegal na frente do Tribunal de Justiça? Só foi fechado na época da corrida de Stock Car e anteontem, após o acidente.

EXISTEM DOIS PONTOS DE RETORNO PARA ENTRAR ALI: NA FRENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA E EM SEGUIDA NA ENTRADA DA SUSSUARANA. O QUE ACONTECEU EXATAMENTE? O SENHOR VIU O MOTOCICLISTA VINDO NA SUA DIREÇÃO?
Já estava quase no estacionamento do Tribunal de Justiça quando o acidente aconteceu. Não vi nada. Só ouvi o barulho imenso. Tomei um susto, pensei que alguma coisa estava caindo. Estava chegando para trabalhar, por volta das 14h30, quando senti o baque no fundo do carro, saí para ver o que era. Foi quando vi a gasolina espalhada no chão, a moto e do outro lado, o corpo. Ouvi alguém dizer que ele ainda tinha pulso. Mas ele deve ter morrido minutos depois. Fiquei perplexo, em estado de choque. Testemunhas me disseram que ele vinha em alta velocidade.

O SENHOR ESTÁ DIZENDO QUE O MOTOCICLISTA VINHA EM ALTA VELOCIDADE, MAS, POR OUTRO LADO, AFIRMA QUE NÃO O VIU...
Não vi mesmo. Digo isso baseado em testemunhas. É até complicado dizer isso agora, porque a vítima já não está aqui...

COMO O SENHOR ESTÁ SE SENTINDO POR TER TIRADO A VIDA DE UMA PESSOA?
Não tirei a vida de ninguém. Só Deus é quem tira ou dá a vida. Agora, é claro que estou abalado pela fatalidade que me envolveu. Sou católico, juiz de direito, propagador da vida. Estou abalado e sensibilizado com o tratamento do caso. Disseram que atropelei e fugi. Na minha vida não existe mácula alguma. Mas fui tratado como um cidadão irresponsável, como se não conhecesse minhas obrigações.
Quando já não havia mais nada a fazer, fui levado pelos policiais militares para o posto médico do Tribunal de Justiça e fiquei lá, sendo medicado porque tive um pico hipertensivo. Depois, fui para o meu gabinete e fiquei esperando o parecer da perícia. Saí do Tribunal por volta das 18h30. Preenchi eu mesmo o boletim de ocorrência, a Transalvador tirou cópia da minha carteira de habilitação e dos documentos de posse do carro. Como é que fugi?

O SENHOR JÁ ENTROU EM CONTATO COM A FAMÍLIA DA VÍTIMA?
Ainda não. Meu advogado entende que não seria bom entrar em contato com eles no calor das emoções. Pedi então que ele entrasse em contato com a família da vítima para ver que tipo de conforto, de solidariedade, podemos prestar. Não para amenizar, porque uma situação dessa não se ameniza. Mas quero dar apoio moral e espiritual, que é o mais importante. Deus é quem sabe por que me colocou nessa situação. Só o tempo e Deus é quem vão responder por que aconteceu isso comigo e com a vítima.

O SENHOR COGITA APOIO FINANCEIRO À CRIANÇA DE 6 ANOS QUE FICOU ORFÃ?
Não se cogita isso no momento.

MESMO ASSEGURANDO QUE NÃO FEZ MANOBRA ILEGAL, NEM ATROPELOU, O SENHOR SENTE ALGUM TIPO DE REMORSO?
Me confessei, comunguei na missa. Orei não só por mim, mas por aquela família. Mas não me sinto responsável pela morte de ninguém.

AMIGOS E FAMILIARES DA VÍTIMA SE DIZEM PREOCUPADOS COM O FATO DE O SENHOR SER MAGISTRADO E, COM ISSO, O CASO SER ARQUIVADO. QUE COMENTÁRIO FAZ DISSO?
Sou magistrado e não estou acima da lei. Sou uma pessoa como outra qualquer, vou me submeter ao procedimento normal e cabe à Justiça decidir o que vai acontecer. Confio muito em Deus e não sinto medo.

O SENHOR TEM FILHOS? COMO SUA FAMÍLIA ESTÁ LIDANDO COM A SITUAÇÃO?
Tenho três filhos, dois adultos e um menor. Minha família está muito abalada, assim como meus colegas professores e magistrados, que têm me ligado para prestar solidariedade.

QUANDO VAI DEPOR?

O delegado da circunscrição compareceu ao Tribunal e me informou que no transcorrer da semana serei ouvido.

VAI VOLTAR A TRABALHAR NORMALMENTE?
Sim, não pretendo mudar minha rotina.

*** Notícia publicada na edição impressa do dia 19/10/2009 do CORREIO.

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