sexta-feira, 9 de outubro de 2009

QUAL É O PÓ?...

FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

Voltei a ser contatado ontem por uma pessoa de confiança de Raimundão - Ravengar como é mais conhecido. Infelizmente, mesmo pelo telefone, não tive a oportunidade de uma conversa direta com o ex-homem do Morro do Águia. Queria ele saber através do intermediário como me saíra junto ao secretário de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania ( ai que vontade incontrolável de explodir numa bela gargalhada ao citar expressão tão pomposa e ao mesmo tempo tão inoperante) Nelson Pellegrino. Afinal, conseguira-me a tal permissão para entrar no presídio onde faríamos à entrevista? Mandei dizer-lhe que lamentavelmente não obtive resposta. Melhor: praticamente recebi um tremendo não na cara. Mas insisto em questionar a negativa. Não há, rigorosamente, um motivo sequer para barrar a minha presença junto a Ravengar.
Há duas realidades inexoráveis. Primeira: nunca fui homem violento, apesar do meu avantajado porte físico. Não tenho e nunca tive qualquer envolvimento com o tráfico de drogas. Dei algumas carreirinhas, mas quando criança e assim mesmo atrás da bola Pelé, famosa marca esportiva naquela época. Segunda, Ravengar certamente não me faria refém ou algo semelhante. Não me usaria como sequestrado para fugir nem tampouco para exigir resgate milionário. O máximo que a família (minha, claro) poderia oferecer era uma casa semiconstruída no bairro da Massaranduba. O que Ravengar quer de mim eu não sei. Mas sei o que quero dele. Gostaria imensamente de saber pormenores sobre sua suposta clientela nos áureos tempos em que, diziam, ele era mais conhecido em Salvador do que prefeito, vereador, deputado, governador e até mesmo presidente da República. Afinal, quais os círculos sociais que seus amigos freqüentavam? Duvido que Raimundão diga alguma coisa. Porém, se recordar é viver, eu ontem tive um dia horrível graças à postura arrogante, autoritária, desumana e injusta do deputado Pellegrino.
Não tem nada não. Vou mexer meus canudinhos. Confesso não saber por onde começar. Imaginei mobilizar os órgãos de defesa dos direitos humanos (como Pellegrino fazia antigamente, lembram?) ligados à OAB –BA, Ministério Público e até da Anistia Internacional. Procurarei pessoalmente o arcebispo dom Geraldo Majella Agnelo para fazer meu protesto. Irei ao ouvidor-geral do Estado, Jones Carvalho, a quem solicitarei, em meu nome, sua intervenção no caso. Ouvidor ouve. Eu quero que ele ouça Ravengar e me diga o que ouviu. O off é garantidíssimo. Por fim, se tudo der inútil, entro em greve de fome, mas antes, falaria com o governador Jaques Wagner. Afinal, temos de reconhecer que qualquer preso, independentemente do crime cometido, tem ao menos direitos a resquícios de cidadania. E o irônico é que o homem que hoje veta ou desconhece o significado de cidadão é o responsável pela pasta de Direitos Humanos.
Anteontem, quando busquei falar com Pellegrino, a burocracia se expôs em toda plenitude. O velho (no bom sentido) Pellegrino das fábricas, das feiras, dos botecos, dos diques, das docas e das ruas hoje se encanta com os tapetes bem aprumados e os sofás aconchegantes dos gabinetes luxuosos encastelados nas periferias do poder baiano. Mas se necessário agendarei um encontro com o papa. Refiro-me a um político cujo respeito e admiração pessoais nunca neguei. Chama-se Luiz Caetano, prefeito de Camaçari, que já chegou a contribuir com sua popularidade com mais de 20 mil votos para a eleição de Pellegrino à Câmara dos Deputados. Quem sabe, Caetano consiga dar uma aula de cidadania, de justiça e direitos humanos aos que se arvora em ser doutores nessas matérias, mas, infelizmente, deixam sofríveis marcas de rábulas quando o que está em roga é o direito de expressão daqueles que estão presos como Ravengar ou impedir o direito sagrado do jornalista de informar a opinião pública, como é o meu caso. Afinal, qual é o pó? Para que tanta loucura por tão pouca aventura? De um secretário que se dizia democrático espera-se tudo. Inclusive um pouco de democracia.

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