quarta-feira, 7 de julho de 2010

MEDO DE VINGANÇA DE PMs FAZ EX-CANTOR DO TCHAN SUMIR...

FONTE: Bruno Villa, Bruno Wendel e Alexandre Lyrio; CORREIO.

Orientado pela própria polícia, acusado de matar PM em boate de Salvador se esconde.

Enquanto jornais e sites de todo o país dão destaque ao cantor Kléber Menezes, em Salvador ele virou um fantasma. Seu nome paira sobre a cidade, mas sua figura permanece invisível.
Assombrado depois de matar o sargento Gepson Araújo Franco em uma briga na boate de strip-tease Eros, na madrugada de sábado, o pagodeiro preferiu se esconder. Kléber tem medo que integrantes da Polícia Militar queiram vingar a morte do colega.
A orientação partiu da 16ª Delegacia, na Pituba, que investiga o crime. A polícia sugeriu que ele saísse da casa onde mora, não atendesse ao telefone e não falasse com a imprensa para não se expor.
Nem à mãe Kléber deu notícias. “Soube do que aconteceu pelo jornal. Ainda não falei com ele. Tem meses que Kléber não aparece aqui”, contou. Com medo de sofrer represálias, ela não quis revelar o nome.
Depois da morte do sargento, familiares e amigos do ex-cantor do É o Tchan! temem falar sobre o assunto. “Nós sabemos como as coisas funcionam. Mesmo que não tenha culpa, o fato é que Kléber matou um PM. E eles não vão deixar barato”, afirmou um amigo.


Eles têm medo de falar com jornalistas, porque acreditam que podem ser procurados por policiais para dar informações sobre o cantor. “A gente diz uma coisa aqui e depois vira alvo ou pode ser perseguido por falar demais”, diz um antigo colega de banda.





DISPARO.
De acordo com depoimentos prestados na 16ª DP, Gepson, à paisana, entrou na boate com um amigo, conhecido como Gordo, e com um casal - que logo depois decidiu deixar o estabelecimento.
“O rapaz que estava acompanhado achou que o local não era um ambiente para a mulher dele frequentar. Como todos estavam no mesmo carro, Gepson e Gordo deixaram o casal em algum lugar e depois retornaram para a boate”, relatou um dos policiais que investigam o caso.
Após muita bebida e de dançar com algumas jovens da casa, Gepson mexeu com a namorada de Kléber, filha do dono da Eros, Ivan de Assis. Na ocasião, pegou na cintura da jovem, provavelmente acreditando que fosse uma das dançarinas da boate - momento em que o pagodeiro peitou o rival.
O sargento sacou a arma e apontou em direção a Kléber. Mas o pagodeiro não se inibiu e se atracou com o PM na disputa pela pistola. Na briga, a arma disparou e a bala atingiu o sargento no tórax. Logo o pânico tomou conta do local. “Foi um corre-corre de funcionários e clientes”, contou outro agente.
Durante o tumulto, algumas pessoas tentaram deixar o estabelecimento, inclusive Kléber, que foi contido por populares e entregue a uma guarnição da 16ª DP, que passava na hora. No ocasião, Kléber contou ao delegado plantonista, André Carneiro Cunha, que tinha atirado em legítima defesa.
DEPOIMENTO.
À frente do caso, o delegado André Carneiro Cunha deve ouvir ainda nesta semana o gerente da boate, de prenome Fernando, e o empresário Ivan de Assis, dono da Eros. Esta não foi a primeira vez que a boate ganhou as páginas policiais.
Em 2007, Valdeniz Lima de Jesus, 24 anos, dançarina da Eros, foi assassinada. Assis é proprietário de outra boate, a Free Night Club, localizada também na Pituba. O delegado aguarda agora os laudos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) para encaminhar o inquérito ao Ministério Público Estadual (MPE). “A perícia vai apontar se a arma usada no crime foi mesmo a do policial, vai revelar a distância e a direção do disparo”, explicou.
Cunha pediu também exame de chumbo particulado das mãos de Kléber e de Gepson para saber quem apertou o gatilho na briga. Além disso, pediu o exame da arma do PM e da munição e a análise das impressões digitais de Kléber.
TESTEMUNHAS.
As imagens registradas pelo circuito interno da boate já foram entregues aos peritos. Através delas será possível apontar se não havia outros envolvidos no episódio. “Vamos esgotar todas as possibilidades”, assegurou o delegado. Os laudos devem ser enviados à 16ª DP no prazo mínimo de 30 dias.
Ainda segundo Cunha, outro fator importante na investigação são as testemunhas. No dia do crime, ele chegou a ouvir, informalmente, funcionários e clientes da boate, mas até agora só oito pessoas compareceram à delegacia. “Os relatos serão importantes para confrontarmos com as declarações do acusado”.
Além das testemunhas, o delegado disse que fará parte deste inquérito a fase de acareação e a reconstituição dos fatos. Ontem,o CORREIO procurou a direção da boate Eros, mas o estabelecimento estava fechado.
CASO REPERCUTE EM TODO PAÍS.
Depois do CORREIO publicar ontem, em primeira mão, que o responsável pela morte na Boate Eros foi o ex-cantor das bandas É o Tchan! e Parangolé, o caso ganhou repercussão em todo o Brasil. Os maiores portais do país, a exemplo do G1, Uol e Terra, destacaram a história e reforçaram que Kléber Menezes responde o crime em liberdade por não ter sido preso em flagrante. Versões on-line dos jornais Estado de São Paulo (SP), O Dia (RJ) e O Povo (CE) também noticiaram o ocorrido. Sites do Mato Grosso do Sul, Paraíba, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Piauí, além de diversos portais e blogs do interior da Bahia também destacaram o caso.

KLÉBER CANTOU NO CARNAVAL.
Antes de ficar conhecido pela morte do sargento da Polícia Militar Gepson Araújo Franco, 37 anos, Kléber Menezes cantou em várias bandas de pagode. Antes de assistir às acrobacias das dançarinas da boate de strip-tease Eros, na Pituba, Klebinho, como era conhecido, dividiu o palco com as dançarinas do É o Tchan!.
Ao lado de Cumpadre Washington, ele participou dos carnavais de 2009 e 2010 com a banda, ambos em Brasília. Antes de chegar ao grupo, ele passou pelo Patrulha do Samba, em 2008 e 2009, e pelo Parangolé, em 2005, 2006 e 2007. Entre um pagode e outro, ele encontrou em 2009 tempo para protagonizar uma campanha publicitária da prefeitura sobre os perigos do deslizamento de encostas. Longe dos palcos e da televisão, Kléber é descrito por amigos como uma cara tranquilo. “Ele não bebe e não se mete embriga. Só que ele encontrou um maluco que botou uma arma na cara dele”, disse um amigo.
VIZINHOS DIZEM QUE PM ERA VIOLENTO.
Vizinhos e familiares do sargento da Polícia Militar Gepson Araújo Franco, 37 anos, têm opiniões diferentes sobre o temperamento do policial. Segundo o pai de Gepson, o taxista Divaldo Araújo Franco, 60 anos, o filho não era de se envolver em brigas. Ele confirmou que o sargento sempre estava armado. “Ele andava armado como todo policial. Sempre tive medo porque a gente sabe como está a violência”, afirmou.
Já vizinhos contaram que o rapaz tinha pavio curto e que era comum ele sacar a arma quando a discussão esquentava. Alguns amigos que moram na rua Artur Silva, no Acupe de Brotas, onde Gepson vivia com a família, se afastaram dele por medo. Um clássico do sargento aconteceu quando ele brigou com um vendedor de caranguejos. Nervoso, Gepson disparou vários tiros contra os animais. Segundo a polícia, ele perdeu quatro revólveres de uma só vez quando foi passear na Ilha de Itaparica.

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