terça-feira, 13 de julho de 2010

UMA VISITA PARADOXAL...

FONTE: Ivan de Carvalho, TRIBUNA DA BAHIA.

Um dia, o presidente da URSS e secretário geral do PCUS, Mikhail Gorbachev, abandonou as muralhas do Kremlim e apresentou-se ao povo numa das mais famosas praças do mundo, a Praça Vermelha. Levava, suponho, uma pequena expressão pronta na mente, com um propósito imenso.
E em meio à conversa com pessoas comuns, mas, para melhor garantia de êxito, em presença de jornalistas, encaixou a expressão inspirada do Alto: “Graças a Deus”. As mudanças que a frase provocou – começando pela instauração da liberdade religiosa – foram tão grandes quanto o espanto que gerou. Certamente não foram tão grandes as mudanças produzidas e nem o espanto provocado pela visita, na terça-feira passada, de uma importante mãe-de-santo ao comitê da campanha da candidata socialista a senadora na chapa do governador petista Jaques Wagner.
Mas há que considerar que não se pode negar nem uma coisa nem outra. Quanto ao espanto, fica por conta da aparente incompatibilidade entre as concepções do Universo da deputada Lídice e do ex-deputado Leonelli e aquilo no que acredita uma mãe-de-santo. Terá sido uma visita aparentemente paradoxal, mas, já dizia o governador Octávio Mangabeira: “Pense em um absurdo. Na Bahia tem precedente”. Acrescento: e é normal.
Além disso, a frase famosa de Gorbachev na Praça Vermelha pareceu um paradoxo muito maior. Ainda mais se considerarmos que, na Bahia, há um estonteante sincretismo religioso que alcança inclusive muitos ateus e até há “ateus, graças a Deus”. Como era Gorbachev.
Voltando à visita da importante mãe-de-santo, ela aconteceu quando a candidata socialista a senadora (companheira de chapa do petista Walter Pinheiro) ainda não sabia das pichações petistas que incluíam Pinheiro (junto com Wagner, Dilma e Lula) e excluíam Lídice da Mata.
Mas esta já estava desconfiadíssima (as pichações apenas confirmaram a desconfiança) e terá tido suas razões para acolher a mãe-de-santo e ser grata ao “sacudimento” – na deliciosa terminologia do site Política Livre – que terá levado “novos fluidos” a todos os cantos e recantos do comitê de campanha.
Quando apareceram as pichações, Lídice partiu para o ataque. Ou contra-ataque. Esteve inclusive examinando a possibilidade de renunciar à candidatura a senadora e refluir para disputar um novo mandato de deputada federal. Aliás, esta ideia por si só justificaria uma iniciativa de Domingos Leonelli (num lampejo de premonição) de fazer gestões, como sugere o site Política Livre, junto à respeitada pessoa que fez o “sacudimento” no comitê central de campanha.
Bem, o governador Jaques Wagner entrou no jogo para domar a jabulani, que estava prá lá de desgovernada. E garantiu duas suplentes interessantes para a candidata do PSB a senadora. Uma delas, a mulher do deputado e ex-secretário da Agricultura Geraldo Simões, do PT, e ex-prefeito de Itabuna. A mulher dele é do PT e foi candidata à prefeitura de Itabuna em 2008. Entradas na chapa para envolver o PT com a candidatura de Lídice, porque é exatamente aí que está o nó cego.
Apesar dos acertos ou consertos, Lídice ainda está aborrecida e preocupada, pelo que dizem pessoas muito próximas a ela. E estará – e digo isso apenas porque seria o que eu faria se estivesse em seu lugar – muito atenta a cada lance da campanha, a cada olhar atravessado, ao calor ou à frieza de cada abraço ou aperto de mãos. Com a vantagem dela (em relação à hipótese impossível em que me incluí) de que mulher é mais sensitiva, perdão, intuitiva.

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