quinta-feira, 5 de agosto de 2010

NEM TUDO QUE VAI PARA O LIXO DEVE SER JOGADO FORA...

FONTE: Roberta Cerqueira, TRIBUNA DA BAHIA.
As novas regras determinadas pela lei sancionada pelo presidente da República em relação à reciclagem do lixo ainda dependem de regulamentação, mas já estão provocando discussões. Em Salvador, diariamente, são coletadas 2.760 toneladas de resíduos domiciliares – que engloba residências e estabelecimentos comerciais –, o que gera para a prefeitura uma despesa mensal de R$ 9,5 milhões.
Separar o lixo doméstico é um hábito da advogada Maria do Carmo Alves, 60 anos, há mais de 20 anos. A expressão “consciência ambiental” ainda era pouco conhecida, quando ela começou a doar jornais, latas, potes e garrafas de vidro para vizinhos e instituições empenhadas no reaproveitamento econômico dos materiais.
Assim como Maria do Carmo, muita gente já assumiu esse compromisso com o meio ambiente. Entretanto, outras tantas não sabem ou simplesmente ignoram os riscos do descarte inadequado de tudo que vai para a lata do lixo, mas que nem sempre é lixo.
O reaproveitamento de materiais ainda é tímido em Salvador e a conta do desperdício é a população quem paga. O descarte domiciliar representa 60% de todo resíduo recolhido na capital baiana, que, somado ao lixo da construção civil (37,56%), aos resíduos vegetais, provenientes de feiras livres e podas de árvores (2,43%) e ao que é produzido pelo serviço de saúde (0,01%), contabiliza 4,4 mil toneladas/dia.
A coleta do lixo domiciliar é de responsabilidade exclusiva do poder público. No total, 3,5 mil agentes de limpeza e 120 veículos dão conta do processo, que custa à gestão municipal R$ 78 por tonelada. Para o transbordo, gastam-se mais R$ 22/t e com o aterro sanitário, mais R$ 38/t, o que representa um gasto, diário, de R$ 382 mil, que poderia ser minimizado com pequenas atitudes.
ATERROS - Atualmente, Salvador conta com dois aterros sanitários. O Aterro Metropolitano Centro, compartilhado com os municípios de Simões Filho e Lauro de Freitas, recebe os lixos doméstico e o de Canabrava, onde são depositados podas de árvores e entulho (até 2 metros cúbicos).
A partir da nova lei, que deve ser regulamentada em menos de três meses, conforme promessa do presidente Lula, fabricantes, distribuidores e vendedores serão obrigados a recolher embalagens usadas de materiais agrotóxicos, pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas e eletroeletrônicos. A nova legislação também determina que as pessoas separem o lixo doméstico nas cidades onde há coleta seletiva. Catadores e a indústria de reciclagem receberão incentivos do governo federal.
Na capital baiana, 22 cooperativas e 744 catadores coletam materiais recicláveis em diversos bairros da cidade, mas, segundo a chefe da assessoria de planejamento da Limpurb (Empresa de Limpeza Urbana de Salvador), Ana Vieira, o número ainda é insuficiente. “Apesar do trabalho de todas estas cooperativa ainda é muito tímida a coleta seletiva em Salvador e não cobre nem 20% da demanda”, ressalta.
Gestora do serviço, a Limpurb orienta as cooperativas, disponibilizando galpões e veículos, além de contribuir no processo de captação de recursos, para a aquisição de novos equipamentos.
Com as novas diretrizes, Vieira espera que sejam criadas centrais de recebimento de materiais recicláveis, em Salvador, impedindo assim a atuação dos atravessadores. “Eles (os atravessadores) se aproveitam da falta de indústrias de reciclagem, na cidade, para comprar os produtos mais baratos das cooperativas”, explica.
CATADAORES GANHAM ATÉ R$ 650 MENSAIS.
Dados da Limpurb apontam que cada habitante de Salvador produz diariamente cerca de 1 kg de lixo (domiciliar), o que significa uma geração de 3 mil toneladas/dia, sendo que 2,760 t são coletadas, pelas empresas terceirizadas e as outras 240 toneladas não têm destino certo.
Formada em 2003, ano em que o antigo lixão de Canabrava foi extinto, a Cooperbrava (Cooperativa Recicláveis de Canabrava) conta com 50 catadores, cada um recebe entre R$ 400 a R$ 650. Eles recolhem diariamente cerca de três toneladas (80 t/mês) de papel, plástico e outros materiais recicláveis, mas, só atendem aos grandes geradores. “Temos 70 parceiros, entre estes supermercados, condomínios, órgãos públicos e minis shoppings”, conta Moises Leão Gil, assessor técnico da cooperativa.
De acordo com ele, a gratuidade da coleta seletiva inviabiliza que um maior número de bairros seja atendido. “Além dos nossos parceiros, só atendemos locais que estejam próximos do nosso roteiro, fora isso, abrimos mão para não ter uma despesa maior que o lucro”, explica, torcendo que em breve as cooperativas passem a ser pagas para desempenhar o trabalho. “Desta forma, a prefeitura iria economizar muito”, garante.
Professora do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Ufba, Viviana Zanta acredita que a nova lei irá compartilhar as responsabilidades, mas, ressalta que o caminho, para uma efetiva política de reciclagem, no estado, ainda é longo. “Pelo menos já sabemos como devemos fazer, o primeiro passo já foi dado” reforça.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos determina que União, estados e municípios elaborem estratégias para tratar do lixo, estabelecendo metas e programas de reciclagem. Fica proibida a importação de resíduos sólidos perigosos e rejeitos.
Os endereços e telefones das 22 cooperativas, presentes em Salvador, estão disponíveis no site da Limpurb (www.limpurb.salvador.ba.gov.br) ou podem ser fornecidos por telefone (3186-5112/13).

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