FONTE: REINALDO JOSÉ LOPES, EDITOR DE "CIÊNCIA E SAÚDE" (www1.folha.uol.com.br).
A ideia de que as mulheres são incapazes de produzir óvulos novos na vida adulta, quase um dogma da medicina reprodutiva, pode estar prestes a cair por terra.
Cientistas acabam de mostrar que uma fração minúscula das células do ovário (cerca de 0,014% do total) corresponde a células-tronco. Em laboratório ou implantadas no ovário de camundongo, elas conseguiram originar óvulos novos.
Ainda há uma série de barreiras técnicas e de bioética para saber se o mesmo aconteceria se elas fossem implantadas num ovário humano. Mas a descoberta, se confirmada, poderia ter um impacto enorme sobre a reprodução in vitro e, em tese, permitiria até que mulheres que já passaram da idade reprodutiva pudessem conceber com seus próprios óvulos.
A pesquisa, liderada por Jonathan Tilly, do Hospital Geral de Massachusetts (EUA), é uma continuação de um trabalho, publicado em 2004, que mostrava que há células-tronco produtoras de óvulos em camundongos.
Nos anos seguintes, a equipe refinou a técnica de identificação dessas células extremamente raras, descobrindo um gene que, quando ativado, é uma espécie de carteira de identidade das que têm potencial para virar óvulo.
Eles usaram esse gene para flagrar uma versão de tais células em mulheres. O que soava quase como heresia. Acreditava-se que toda menina já nasce com o estoque completo de óvulos que chegarão à maturidade.
Foi graças a biópsias do ovário de seis mulheres que passaram por cirurgia de mudança de sexo e doaram o órgão para pesquisa que essas células se mostraram presentes no organismo humano.
Ao implantá-las no ovário de roedoras, eles chegaram ao estágio equivalente de um óvulo imaturo. Em camundongos, os cientistas foram mais longe e mostraram que os óvulos derivados podem produzir filhotes saudáveis. As considerações éticas, claro, impedem esse tipo de experimento com pessoas.
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