FONTE: Maria Laura Albuquerque, do UOL, em São Paulo (mulher.uol.com.br).
Um dos maiores cuidados dos pais desde que o bebê nasce tem a ver com a alimentação. Ainda bem: as boas práticas alimentares são responsáveis por fornecer, em quantidade e qualidade, o necessário para suprir as necessidades nutricionais definidas pelo crescimento e desenvolvimento, de acordo com o "Manual de Orientação do Departamento de Nutrologia", da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Até os seis meses de vida de uma criança saudável, não há muito com o que se preocupar. O leite materno deve ser o alimento exclusivo de acordo com recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde). Depois desse período, dúvidas podem surgir. Muitas delas têm a ver com a introdução, na dieta do filho, dos alimentos consumidos pela família.
Depois do sexto mês de vida, o leite materno não supre mais todas as necessidades do bebê. A partir desse ponto, ele precisa –e tem condições para tal– consumir outras fontes nutricionais. Segundo a nutricionista Glauce Yonamine, supervisora do ambulatório do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e uma das autoras do livro "Alimentação no Primeiro Ano de Vida" (editora Manole), a partir dessa idade, a criança é capaz de mastigar e engolir.
"O estímulo para a mastigação tem início com a alimentação complementar de consistência de purê, mesmo que a criança ainda não tenha dentes. A gengiva está suficientemente endurecida", diz Glauce.
O corpo do bebê começa a se preparar para mastigar e engolir pedaços já na época da amamentação, de acordo com Clery Bernardi Gallacci, pediatra do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo, e professora de pediatria e neonatologia da Santa Casa de São Paulo. "Nessa fase, a musculatura facial das crianças é estimulada pelo ato de sugar o peito da mãe, o que é fundamental para fortalecer a região para as mastigadas e mordidas futuras."
O que dar.
"As papas ou purês são comidas pastosas, amassadas com garfo, que devem ser dadas ao bebê em colheradas", diz Fabio Ancona Lopez, professor titular aposentado da disciplina de nutrologia do Departamento de Pediatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Segundo Clery, o mal de usar o liquidificador no preparo das receitas, ou passar os alimentos em uma peneira, tem a ver com facilitar demais a vida da criança, que recebe um alimento fácil demais de engolir. "É essencial que ela tenha a oportunidade de aprender e exercitar o ato de mastigar", fala a pediatra.
No preparo da papa doce, qualquer fruta pode ser utilizada. Nenhuma é contraindicada, mas não se deve acrescentar açúcar nem mel. Este último é proibido até um ano por causa do risco de contaminação com a bactéria Clostridium Botulinum, causadora do botulismo.
Quanto à receita salgada, Lopez diz que, inicialmente, ela deve ser oferecida no almoço ou no jantar e complementada com a amamentação. A receita deve conter sempre cereais (como arroz e milho), tubérculos (batata, mandioca, inhame e cará, dentre outros), verduras (como agrião e acelga), legumes (cenoura e abobrinha, por exemplo), leguminosas (tal como feijão, soja, ervilha, lentilha e grão de bico) e carne desfiada (de vaca, de frango, de porco, de peixe ou vísceras, em especial fígado). "Com pouco sal e óleo e evitando caldos e temperos industrializados", diz. De acordo com o "Manual" da SBP, o ovo inteiro pode ser introduzido às receitas somente depois do sexto mês, sempre cozido.
Cuidados.
Entre o sétimo e o oitavo meses, a segunda papa salgada está liberada e é aí que os primeiros pedacinhos podem começar aparecer no prato da criança, de forma lenta e gradativa, acompanhando o nascimento dos dentes. Nesse momento, os pais devem ficar atentos às colheradas que oferecem ao filho e à habilidade de mastigação dele para que assim possam ir aumentando a quantidade e o tamanho dos pedaços.
"Não existe uma medida certa e ninguém precisa se preocupar em picar os ingredientes de forma milimétrica. Se os pedaços estiverem grandes, o bebê vai recusar porque não consegue mastigar", fala Lopez.
De acordo com Glauce, no cardápio dos bebês, é importante evitar alimentos inteiros que possam provocar engasgos, como uva, ovo de codorna e tomate-cereja, por causa do formato e da dificuldade de controle na boca. "Miolo de pão também não é indicado, porque pode grudar na boca, formando um bolo", fala Clery. Se mesmo com pedacinhos o bebê engasgar, nada de dar água para ajudá-lo a engolir. O líquido pode piorar a situação.
A pediatra recomenda dar tapinhas nas costas da criança para estimulá-la a tossir e assim se livrar do que está obstruindo a garganta. Outros cuidados devem ser tomados para evitar engasgos: sempre alimentar a criança sentada no cadeirão usando o cinto de segurança para deixá-la bem acomodada –nunca no colo ou deitada no bebê-conforto–, e atentar se ela está desperta. "Mesmo crianças com um ano de idade ainda não têm competência motora nem concentração para comer sem a supervisão de adultos", diz Clery.
Vale lembrar ainda que nem sempre os bebês aceitam e gostam do que experimentam logo na primeira vez, seja doce ou salgado. Por isso, Lopez diz que é importante fazer entre oito e dez tentativas. "A exposição frequente facilita a aceitação." Outro cuidado tem a ver com o histórico familiar de alergias. Antes da introdução de novos alimentos, a SBP recomenda pesquisar o assunto e discutir a questão com o pediatra que acompanha a criança.
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