FONTE: Thamires Andrade, do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).

A técnica consiste em implantar um dispositivo impermeável, chamado de "endobarrier", para revestir o duodeno e excluir o papel dessa parte do intestino na digestão. "A comida entra e não tem contato com a parede do intestino, isso faz com que órgão pare de fabricar hormônios produzidos nesta etapa, melhorando a produção de insulina pelo pâncreas", explica Almino Ramos, presidente da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica).
Criado com base na cirurgia bariátrica, o método menos invasivo pode ser realizado por endoscopia ou videolaparoscopia. "Os resultados são semelhantes em ambas as abordagens. Portanto, para casos menos graves e iniciais de diabetes é mais indicado fazer por endoscopia, que é a opção menos invasiva. Já os mais complexos, quando há muito excesso de peso, o ideal é fazer a operação por vídeo", recomenda Ramos.
A colocação do dispositivo deve ser feita numa fase do diabetes em que ainda é possível reverter a função pancreática. "A doença é crônica e progressiva, portanto não adianta colocar o dispositivo quando a capacidade do pâncreas de produzir insulina for nula. Ele é indicado para os pacientes que tomam medicação regularmente e não conseguem controlar o diabetes tipo 2", destaca Ramos.
A técnica praticamente é livre de efeitos colaterais. O presidente da SBCBM explica que alguns pacientes podem ter alguns problemas gastrointestinais nas duas primeiras semanas. "É comum sentir um pouco de náuseas e cólicas no estômago, mas depois de tomar medicação e se adaptar ocorre uma melhora", orienta.
O procedimento é reversível e tem duração de um ano. "Hoje, a recomendação é que o tratamento não ultrapasse um ano; o dispositivo deve ser retirado e recolocado só depois de dois meses", explica Ramos. Esse benefício faz com que os médicos possam indicar o procedimento para pacientes em que ainda não se sabe se a cirurgia bariátrica traria bom resultado. "Ele é menos invasivo e tem os mesmo benefícios. Se ele for eficiente, significa que a cirurgia também será e o paciente pode ser submetido a ela."
O método é contraindicado para pacientes com diabetes tipo 1, visto que não existem estudos que comprovem eficácia da técnica para esses pacientes, e em casos de úlceras e inflamações. "Para colocar, é necessário tratar úlceras e inflamações antes", explica.
Já utilizado em pesquisas clínicas no mundo há 10 anos, o método deve ser aprovado pelo Ministério da Saúde ainda este ano. "No Brasil ele já é testado em pesquisas há 4 anos e, no mundo todo, pelo menos 500 pacientes já foram submetidos ao procedimento", diz Ramos.
O dispositivo já é comercializado em vários países da Europa e no Chile. "A FDA (agência reguladora de alimentos e medicamentos nos EUA) também já começou seus próprios estudos sobre o produto", acrescenta.
Custo-benefício.
Com a vantagem de ser menos invasiva e reversível, a exclusão duodenal não tem a mesma eficácia das cirurgias bariátricas invasivas. "A lógica é simples: uma técnica menos invasiva, como colocar um anel no estômago, é menos eficaz para o diabetes tipo 2 do que uma redução de estômago com desvio de intestino. As técnicas mais invasivas são mais eficientes", explica Ramos.
Já o custo-benefício do procedimento é um outro atrativo para quem busca opções para curar o diabetes tipo 2. "O procedimento ainda não é aprovado no Brasil para eu dar um valor exato, mas o custo é metade do valor de uma cirurgia bariátrica por videolaparoscopia", revela Ramos. O valor médio de uma operação por vídeo varia de R$ 15 a 25 mil, segundo a SBCBM.
Peso e colesterol.
O estudo avaliou a segurança do método em indivíduos com diabetes tipo 2 e IMC inferior a 35 (sobrepeso e obesidade leve). Um ano após a operação, 12 pacientes tiveram queda elevada dos índices que monitoram a glicemia no sangue e aumentaram a sensibilidade do organismo à insulina. Apenas quatro pacientes não responderam satisfatoriamente ao dispositivo de exclusão duodenal. Os cientistas mantiveram o uso do antidiabético oral metformina durante os 12 meses de observação.
Depois de 52 semanas, o peso também foi reduzido. A média de IMC do grupo passou a ser de 28,5 uma redução média de 3,6 kg/m². Mas os pesquisadores concluíram que a melhora provocada pelo dispositivo a partir da primeira semana após a cirurgia não tem relação direta com a perda de peso.
O estudo também revelou melhora em outros indicadores metabólicos. Ao final de um ano, a taxa de colesterol dos pacientes teve redução média de 135 mg/dL para 108 mg/dL e o nível médio de triglicérides passou de 299 mg/dL para 219 mg/dL. Ambos indicam uma resposta metabólica significativa no controle de doenças cardiovasculares.
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