FONTE: Raquel Paulino/iG
São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
Nas relações humanas, quase nada
acontece de uma hora para outra. Vínculos afetivos precisam de tempo e de um
conjunto de atitudes para amadurecer positivamente e também para se
deteriorarem. Assim acontece com o relacionamento entre pais e filhos:
por mais que o amor seja, em teoria, incondicional, pequenos e grandes gestos
podem criar um abismo de distância na família. O problema é quando esse
afastamento só é percebido quando já está grande o suficiente para incomodar
uma das partes.
A maior vilã, alega a maioria dos adultos, é
a correria do dia a dia. “Aliada aos desafios profissionais de homens e
mulheres, ela afasta as pessoas, que passam a se encontrar pouco. É comum os
pais chegarem em casa quando as crianças já estão dormindo, por exemplo”, diz a
psicopedagoga Ana Clara Bretos Lima.
Mas o tal “tempo cada vez mais
curto” não é motivo suficiente para evitar a comunicação entre pais e filhos,
segundo Aline Alves, psicóloga e psicoterapeuta da clínica Macfit. “É preciso,
antes de tudo, vontade de incluir as crianças e os adolescentes na rotina da família. Não é
obrigatório ter filhos. É preciso ponderar se haverá tempo, vontade e
disponibilidade emocional para criá-los”, afirma. “Isso precisa vir desde a
primeira infância. Não adianta querer falar sobre drogas e sexo quando a
adolescência se aproxima se não tiver sido construída uma base de diálogo.”
Pela construção de uma estrutura sentimental
forte entenda-se aproveitar todo o tempo livre em casa para brincar e conversar
com os filhos, organizar passeios e programas em família – idas ao parque,
viagens de fim de semana, um piquenique em um dia bonito –, acompanhar a lição
de casa. São atitudes que fazem toda a diferença na felicidade familiar.
Sem essa dedicação, os efeitos do
distanciamento podem afetar, além da estabilidade psicológica, o desempenho
escolar da criança, como explica a coach parental e educacional Regina Shudo:
“Dependendo das circunstâncias, os danos provocados podem chegar a uma
dispersão, uma falta de atenção nas
aulas, o que os pais costumam demorar a perceber em casa. Uma boa relação com a
escola, para saber se seu filho está aproveitando bem seu potencial de
aprendizado, pode revelar algum problema”.
Sempre é tempo de
reverter o afastamento.
Não é do interesse de ninguém manter essa lacuna entre pais e filhos. Ao notar
que algo está errado, os adultos podem e devem correr atrás do prejuízo. “É
possível reverter o quadro com atenção especial, boa educação. Não é uma
questão de recuperar, pois o que passou, passou. É dar a volta por cima”,
defende Regina.
“A relação deve ser reavaliada. Por meio do
diálogo, todas as diferenças podem ser amenizadas”, complementa Ana Clara.
Aline, por fim, aconselha: “Se o afastamento já for muito grande e a
reaproximação estiver difícil, principalmente no caso dos adolescentes, vale
procurar ajuda profissional, fazer psicoterapia familiar”.
Confira abaixo 15 atitudes dos pais que os
afastam dos filhos. E, para manter um vínculo de qualidade com as crianças e os
adolescentes, faça de tudo para evitá-las.
1. Levar
trabalho para casa todos os dias: as horas em que todos estão juntos são para
brincar e conversar. Dedique-se às burocracias apenas no horário comercial;
2. Brigar com
o cônjuge na frente dos filhos: presenciar discussões entristece especialmente
os menores. Em suas fantasias, eles são os culpados pelas brigas;
3. Aparelhos
eletrônicos nas refeições em família: usados à mesa, alienam os usuários, que
ficam hipnotizados pela internet na tela e não conversam;
4. Usar o
trajeto de casa até a escola só para dar broncas: o tempo que poderia ser usado
para criar conexões acaba se tornando um momento temido e traumático;
5. Terceirizar
a educação dos filhos: avós, babás e escola podem auxiliar, mas não devem ser
os responsáveis pela criação dos pequenos. Esse papel cabe aos pais;
6. Tentar
comprar o amor dos filhos com presentes: dar um brinquedo não compensa a falta
de carinho no dia a dia. A criança se sente ‘à venda’ e fica infeliz;
7. Mexer no
celular do adolescente: no aparelho estão conversas e fotos que, se ele
quisesse tornar públicas, colocaria nas redes sociais. É o fim da confiança;
8. Bisbilhotar
armários e gavetas do adolescente: procurar provas de deslizes demonstra falta
de diálogo e, se o filho descobrir, nunca mais confiará nos pais;
9. Não
participar das brincadeiras infantis por achar que vai atrapalhar: a criança
fica frustrada, pois espera que os pais ajudem e se divirtam com elas;
10. Não dar
espaço para os adolescentes: a partir dos 14 anos, é normal querer ficar só ou
com os amigos. Entrar nesse espaço sem que eles solicitem os irrita;
11. Distrair
a criança com eletrônicos no restaurante: os pais que fazem isso alegam querer
mais tranquilidade, mas filhos acabam se sentindo alheios à família;
12. Não
prestar atenção quando a criança conta algo: ela perceberá e perderá, aos
poucos, a vontade de conversar, criando uma barreira de diálogo entre vocês;
13. Reprovar
todos os namoros dos adolescentes: se está namorando, é porque viu qualidades.
A reprovação apenas fará o filho ou a filha namorar escondido;
14. Excesso
de cobrança por notas sem acompanhar a lição de casa: pais que cobram ‘porque
estão pagando’ deixam a criança insegura e se sentindo uma mercadoria;
15. Tratar os
filhos eternamente como bebês: pode até ser por carinho, mas eles entendem que
eram mais queridos quando pequenos, que maiores são ‘sem graça’.
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