FONTE: Wanderley Preite Sobrinho - iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
As mortes cometidas por policiais militares
em dia de folga cresceram 53% no primeiro semestre deste ano em São Paulo na
comparação com o mesmo período do ano passado. O volume dessas ocorrências já
se aproxima do número de óbitos efetuados pelo agentes da Polícia Militar
quando estão em serviço.
O levantamento feito
pelo iG revela que subiu de 75 para 115 as pessoas que perderam a
vida pelas mãos de policiais sem farda, número próximo às 150 mortes cometidas
por oficiais fardados. Esses números não são divulgados nas estatísticas
oficiais da Secretaria da Segurança Pública (SSP), mas publicados pelo Centro
de Inteligência da PM uma vez por mês, em dias alternados, no Diário Oficial do
Estado.
Esse aumento se deve às 78 mortes
justificadas pelos PMs como reação a assaltos, ou “homicídio doloso com
provável excludente de ilicitude”, no jargão policial. Entre janeiro e junho do
ano passado, 37 ocorrências foram registradas assim.
Os outros 37 óbitos por PMs de folga no
primeiro semestre foram registrados como “dolosos” (com intenção de matar), mas
sem qualquer indicação de que tenham sido em legítima defesa. Nesse caso, os
números se assemelham aos dos seis primeiros meses do ano passado, quando foram
registradas 38 mortes.
Responsável por um recente estudo sobre a
atividade policial, a secretária executiva do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, Samira Bueno, pede que o aumento desse índice seja investigado pelo
Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que não respondeu
ao iG até a publicação desta reportagem. “Os policiais tiveram mesmo
que atirar ou a Corregedoria está usando uma outra categoria para justificar
homicídios de policiais?”, questiona.
Para a especialista, o aumento de homicídios
sob essa justificativa faria sentido se a quantidade de assaltos no Estado
também tivesse crescido no período analisado, o que não ocorreu. De acordo com
a SSP, o total de roubos e assaltos caiu 5% no primeiro semestre deste ano em
relação aos mesmos seis meses de 2012.
Para o coronel da PM e vereador Paulo Lopes
Telhada (PSDB), os policiais estão reagindo mais violentamente aos roubos
depois que 82 PMs foram assassinados fora de serviço em 2012 no acerto de
contas com o Primeiro Comando da Capital (PCC). “O número elevado de atentados
criminosos deixou o policial mais arisco, pronto para abater o inimigo antes de
ser abatido”, afirmou.
O vereador comemorou o aumento do índice:
“quando morriam mais PMs era pior. Se for para chorar a mãe de alguém, que seja
a do bandido e não a do policial.”
A estudiosa concorda com a tese de que a
guerra contra o PCC alarmou os oficiais. “Pode haver alguma correlação",
diz ela. "Esses dados são uma caixa preta.”
Samira considera “difícil até para
pesquisadores experientes” o acesso a essas informações no Diário Oficial. “A
legislação que rege o assunto tem mais de 10 anos, é preciso regulamentar uma
nova. Se a polícia tem de publicar essas informações, por que não colocá-las na
internet?”
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