FONTE: Florence Williams, The New York Times (noticias.uol.com.br).
Um bebê engoliu uma
bala calibre 22. Chorando, a mãe corre à farmácia. "O que devo
fazer?" E o farmacêutico responde: "Dê a ele um frasco de óleo de
rícino, mas não o aponte para ninguém".
Achar essa piada
engraçada depende de mais variáveis do que provavelmente você possa supor.
Depende de uma compreensão cultural comum das propriedades técnicas do óleo de
rícino. Como muitas piadas e qualquer aluno do quarto ano pode comprovar,
depende de sua delicadeza em relação às funções corporais. De forma menos
óbvia, o senso de humor também depende da sua idade, gênero, QI, inclinação
política, grau de extroversão e da saúde do seu circuito de recompensa de
dopamina.
Se você acha toda
essa análise pouco engraçada, [o escritor norte-americano] E.B. White estaria
com certeza lhe apoiaria. Ele escreveu um dia que desmontar piadas é como
dissecar sapos: poucas pessoas se interessam e o paciente sempre morre no
final.
Felizmente, o
neurocientista cognitivo Scott Weems não tem medo de parecer sem graça. O humor
merece um estudo acadêmico sério, ele argumenta em seu livro, "Ha! The
Science of When We Laugh and Why" (Há! A ciência de quando rimos e por
quê, em tradução livre), porque produz vislumbres de como nosso cérebro
processa um mundo complexo e como isso, por sua vez, nos transforma em quem
somos.
Mais tempo
rindo.
Embora animais riam,
os humanos passam mais tempo rindo do que exibindo qualquer outra emoção.
Porém, o que confere a algumas pessoas um senso de humor melhor do que o de
outros? Sem surpresa, os extrovertidos costumam rir mais e produzir mais
piadas; contudo, em testes que medem a capacidade de escrever legendas de
charges, as pessoas mais neuróticas, agressivas, manipuladoras e dogmáticas
eram as mais engraçadas. Como diz o velho ditado, os melhores humoristas são
tristes.
Talvez, escreve
Weems, as pessoas infelizes são "mais propensas do que as outras a falar
de forma desajeitada ou não aceitável socialmente para fazer uma boa
piada". Ou como pessoas de Aristóteles a Gertrude Stein ressaltaram, a
infelicidade pode gerar a criatividade, e as melhores piadas exigem ginástica
intelectual e uma observação astuta da natureza humana.
Analisar o humor às
vezes exige dissecar piadas. Weems desmonta as piadas da
"compreensão" em três componentes básicos: construção (examinar
conhecimento relevante, experiência e expectativas), avaliação (descartar
nossos erros e expectativas errôneas) e resolução (chegar a uma conclusão
satisfatória e muitas vezes surpreendente). Veja como seu cérebro rapidamente
faz essas três coisas ao ler o seguinte título merecedor de ser citado pelo
apresentador Jay Leno: "Doutor testemunha em julgamento de cavalo".
Para Weems, essas
três etapas são as mesmas que usamos para solucionar problemas diários, quer
logísticos, interpessoais ou existenciais.
Segundo ele,
"interpretar nosso mundo é um evento criativo". Em sua raiz, as
piadas têm a ver com conflitos e "detectar erros é a forma pela qual
nossos cérebros transformam conflitos em recompensas". Sem essa
capacidade, não seríamos capazes de tomar decisões, aprender novos truques ou
nos darmos bem com os outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário