FONTE: Marli Moreira - Repórter da Agência
Brasil, TRIBUNA DA BAHIA.
A constatação está na tese de
doutorado de Carla Manuela Crispim Nascimento, formada em educação física,
trabalho conjunto da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCAR).
Uma
pesquisa desenvolvida em Rio Claro, no interior paulista, comprovou que, ao
sair do sedentarismo, um grupo de idosos conseguiu reduzir sintomas
característicos de uma predisposição ao Alzheimer, doença degenerativa que
afeta os neurônios e leva à demência.A
constatação está na tese de doutorado de Carla Manuela Crispim Nascimento,
formada em educação física, trabalho conjunto da Universidade Estadual Paulista
(Unesp) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).
“A
nossa ideia foi a de trabalhar com uma terapia não farmacológica que auxiliasse
na prevenção da doença porque, uma vez diagnosticado, [o Alzheimer] não tem
mais o que fazer já que a evolução [do mal] é contínua”, explicou a
pesquisadora.
Ela
recomenda que as pessoas observem sempre se episódios de déficit de atenção
estão atrapalhando atividades diárias e, caso esse problema cresça de forma a
prejudicar o dia a dia, o ideal é procurar auxílio médico, como um
neuropsiquiatra.
Entre
2010 e 2013, Carla e mais cinco pesquisadores atuaram no projeto “A influência
de marcadores genéticos específicos sobre os efeitos do exercício físico na
inflamação e no neurotrofismo em idosos com comprometimento cognitivo leve”,
que selecionou 300 pessoas, com idade entre 60 e 75 anos, que não tinham o
hábito de praticar exercícios físicos e apresentavam quadro clínico de
comprometimento cognitivo leve.
Nessa condição,
a pessoa manifesta alguma dificuldade de memória, mas sem grande impacto na
rotina diária. De acordo com a pesquisadora, essa perda está relacionada ao
desenvolvimento de placas amilóides, que são cadeias de proteínas levadas ao
cérebro pela corrente sanguínea. “Ao aderir ao tecido neural, essas placas
ocupam o lugar das células saudáveis, impedem a chegada de oxigênio e
interrompem a função dos nerônios”, explicou.
Os
pesquisadores observaram que os processos inflamatórios comuns em quem se
encontra nesse estágio, bem como a perda de memória, entre outras deficiências
cognitivas, tiveram sensível melhora após uma dinâmica de quatro meses de
exercícios físicos. As atividades foram aplicadas três vezes por semana com
duração de uma hora em cada um dos dias.
“O
trabalho mostra que a atividade física estimula respostas biológicas do sistema
nervoso que podem conferir maior resiliência contra as perdas que ocorrem em
função da idade e da presença da patologia da doença de Alzheimer”, concluiu
Orestes Vicente Forlenza, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade
de Ciências Médicas da Universidade de São Paulo (FMUSP) e pesquisador no
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.
No
entanto, Forlenza adverte que não se pode afirmar que será possível evitar o
Alzheimer por meio da atividade física, mas observa que o exercício pode sim
“fortalecer o indivíduo e melhorar sua sobrevida funcional diante da doença”.
Testes.
O
pesquisador relata que, antes e depois da intervenção com a prática de
exercícios físicos, os idosos foram submetidos a testes para medir as
concentrações de neurotrofinas e citocinas (mediadores pró e
anti-inflamatórios). “Clinicamente, os pacientes são submetidos a testes
cognitivos (que medem memória, atenção, capacidade visuo-espacial, de
abstração, etc) e ao exame neuropsiquiátrico”, explicou.
Segundo
Forlenza, o comprometimento cognitivo leve “é uma situação de risco para a
demência, particularmente o Alzheimer, mas não é sinônimo da doença em estágio
incipiente”. A identificação do Alzheimer é feita por meio de métodos
bioquímicos, entre os quais pela análise do liquor e de imagens cerebrais.
Anualmente,
de acordo com o especialista, 10% dos pacientes que apresentam esse quadro
acabam atingindo um grau de demência, mas uma proporção significativa não
apresenta evolução para o Alzheimer, já que “os sintomas podem ter várias
causas distintas, algumas delas reversíveis, como a depressão e os distúrbios
metabólicos”.
O
estudo já foi apresentado em dois congressos fora do Brasil – nos Estados
Unidos e na França – e publicada em duas revistas estrangeiras.
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