Um estudo realizado
nos Estados Unidos sugere que o câncer é majoritariamente o resultado de
fatores ambientais e hábitos, e não uma ocorrência aleatória.
No começo do ano,
pesquisadores desencadearam um grande debate depois de sugerir que dois terços
dos casos de câncer eram resultado de falta de sorte em vez de comportamentos
pessoais -- como fumar, por exemplo.
Mas, o novo estudo de
uma equipe de médicos do Stony Brook Cancer Center, de Nova York, concluiu que
apenas entre 10% e 30% dos casos de câncer são resultado da forma como o corpo
funciona naturalmente, ou seja, da "sorte".
Especialistas afirmam
que a análise, publicada na revista especializada Nature, é "bem
convincente".
"Fatores
externos têm um papel importante, e as pessoas não podem se esconder atrás do
azar. Elas não podem fumar e falar que é falta de sorte se tiverem
câncer", disse à BBC Yusuf Hannun, diretor do Stony Brook.
"É como um
revólver: o risco intrínseco é a bala. E se jogarem roleta russa, talvez uma em
cada seis (pessoas) terão câncer -- esta é a falta de sorte intrínseca. Mas o
que um fumante faz é acrescentar duas ou três mais balas a esse revólver e
puxar o gatilho. Ainda haverá um elemento de sorte, já que nem todos os
fumantes desenvolverão câncer, mas eles aumentam as probabilidades contra
si."
"De um ponto de
vista de saúde pública, queremos remover o máximo de balas possíveis no tambor
(do revólver)", acrescentou o médico.
Polêmica.
O câncer surge quando
uma das células-tronco do corpo que começa a funcionar mal e se dividir
descontroladamente.
Isso pode ser causado
por fatores intrínsecos que são parte da forma inata como o corpo funciona,
como o risco de mutações que ocorre cada vez que uma célula se divide, ou
fatores externos como fumo, radiação de raios ultravioleta e muitos outros, que
podem ainda nem ter sido plenamente identificados.
A polêmica gira em
torno do peso dos fatores intrínsecos e dos fatores externos no desenvolvimento
da doença.
Em janeiro uma pesquisa divulgada na revista Science tentava explicar a razão de alguns tecidos do corpo serem milhões de vezes mais vulneráveis ao câncer do que outros.
Em janeiro uma pesquisa divulgada na revista Science tentava explicar a razão de alguns tecidos do corpo serem milhões de vezes mais vulneráveis ao câncer do que outros.
A explicação foi o
número de vezes que uma célula se divide -- algo que não pode ser controlado e,
por isso, deu origem à hipótese do "azar" relativo à ocorrência
aleatória.
Neste mais recente
estudo americano, a equipe de médicos do Stony Brook Cancer Centre abordou o
problema a partir de perspectivas diferentes, incluindo modelos criados em
computadores, dados populacionais e genéticos.
Segundo os
pesquisadores, os resultados sugerem que entre 70% e 90% do risco é causado por
fatores externos.
"Eles forneceram
provas bem convincentes de que fatores externos têm um papel muito importante
em muitos cânceres, incluindo alguns dos mais comuns", disse Kevin
McConway, professor de estatística aplicada da Open University, do Reino Unido.
"Mesmo se alguém
é exposto a um importante fator de risco externo, claro que não é certo que ele
vai desenvolver um câncer -- sempre existe o acaso. Mas esta pesquisa demonstra
novamente que temos que analisar além da probabilidade e sorte puras para
compreender e proteger (as pessoas) contra o câncer", acrescentou.
"Ainda que
hábitos saudáveis como não fumar, manter um peso saudável, ter uma dieta
saudável e diminuir o consumo de bebidas alcoólicas não sejam garantias contra
o câncer, eles reduzem de forma dramática o risco de se desenvolver a
doença", disse Emma Smith, da ONG Cancer Research UK.
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