Pesquisadores disseram ter provado que a felicidade em si –
ou a falta dela – não tem efeito direto sobre as taxas de morte prematura em
mulheres, afirma um estudo divulgado pela publicação médica britânica The
Lancet na quinta-feira (10/12). Os resultados desfazem o mito de que a
infelicidade e o estresse causam diretamente problemas de saúde.
"A doença faz você infeliz, mas a infelicidade não
deixa você doente", assegura Bette Liu, a principal autora do estudo,
atualmente da Universidade de New South Wales, na Austrália.
Ela acrescentou que sua equipe não encontrou nenhum
efeito direto entre infelicidade ou estresse sobre a mortalidade no estudo que
teve dez anos de duração.
Sofrimento medido.
Os cientistas afirmaram que sua pesquisa é a maior já
feita para avaliar a felicidade e que os dados foram retirados de questionários
respondidos por mais de 715 mil mulheres que participavam de um programa no
Reino Unido chamado Million Women Project.
As mulheres, com idades entre 50 e 69 anos, foram
incluídas no programa nacional de rastreio de câncer de mama a partir do final
da década de 1990. Três anos depois de entrarem no estudo, elas foram
convidadas a responder uma autoavaliação sobre saúde, felicidade, estresse,
sensação de controle e se sentiam relaxadas.
Os autores do estudo afirmam que cinco entre seis
mulheres afirmaram se sentir geralmente felizes, mas uma a cada seis disseram
se sentir geralmente infelizes. As mulheres foram acompanhadas por meio de
registro eletrônico na década seguinte, período no qual 30 mil participantes
morreram.
Constante taxa de mortalidade.
Os pesquisadores descobriram que a taxa de mortalidade de
mulheres infelizes era a mesma das que se diziam felizes.
A equipe afirmou que, devido à extensão do estudo, foi
capaz de excluir a infelicidade entre problemas de saúde em geral, tabagismo e
outros fatores de estilo de vida que podem ter levado a um aumento da
mortalidade em mulheres.
Aquelas que já haviam tido problemas como doenças
cardíacas, acidente vascular cerebral, doença pulmonar ou câncer foram
excluídas para limitar a chamada causalidade reversa. Uma análise em separado
foi feita para distinguir entre aquelas que estavam e não estavam sendo
tratadas contra depressão ou ansiedade e, novamente, o estudo encontrou resultados
similares.
O co-autor do estudo Richard Peto, um professor da
Universidade de Oxford, afirmou que a descoberta significa que as pessoas podem
"se concentrar nos reais problemas que encurtam suas vidas, como o
tabagismo e a obesidade".
E os homens?
O estudo se concentrou totalmente em dados coletados
entre mulheres de meia-idade. Vários estudos têm mostrado que homens são mais
propensos a cometer suicídio, em meio a relatos de uma crescente incidência de
problemas de saúde mental ocultos entre os homens.
Em um comentário de acompanhamento, cientistas franceses
sugeriram que os resultados não poderiam ser os mesmo entre os homens, uma vez
que "homens e mulheres, provavelmente, definem felicidade de forma
diferente". Eles pediram um estudo aleatório para permitir comparações de
gênero, pluralidade cultural e idade.
Sem causa e efeito.
Vários estudos anteriores ligaram a infelicidade à morte
precoce, enquanto outros foram inconclusivos. Mas os autores deste estudo
afirmaram que as pesquisas anteriores podem ter feito uma confusão entre causa
e efeito.
Mas outro estudo, chamado Projeto Longevidade, que
acompanhou 1.500 participantes do nascimento à morte, encontrou um exemplo onde
a mortalidade foi afetada: mulheres que se casaram com homens infelizes tendem
a serem mais doentes e viver menos do que mulheres que se casaram com homens
felizes. O inverso não foi comprovado.
*** Autor: Nik Martin (fc)
- Edição: Francis França
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