FONTE: TRIBUNA DA BAHIA.
Na faixa dos 10 aos 13 anos a redução chegou aos
68%.
Recorte
efetuado pela SEI-Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia,
com base em dados da PNAD-Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios realizada
pelo IBGE-Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística referente ao período
de 2002 a 2014, apresentado ontem pelo órgão subordinado à Seplan-Secretaria de
Planejamento do Estado, mostra ter ocorrido uma queda no número de crianças de
5 a 9 anos trabalhando na Bahia da ordem de 82%, significando que 31 mil
crianças deixaram o trabalho infantil.
Na faixa dos 10 aos 13 anos a redução chegou aos 68% (114
mil crianças deixaram o trabalho infantil), com a proporção de ocupação dessa
faixa etária passando de 14,7% em 2002 (quando a PNAD passou a disponibilizar a
análise desse segmento) para 5,4% em 2014, conforme o diretor de Pesquisa da
SEI, Armando Castro. A análise aponta a redução de aproximadamente 351 mil
crianças e adolescentes na faixa etária de 5 a 17 anos em trabalho infantil no
estado, no período mencionado, passando de 647 mil para 296 mil em situação de
trabalho.
A exploração do trabalho infantil, apontada como “principal
chaga que atinge o país” pela superintendente da SEI, Eliana Boaventura,
apresenta, ainda, cerca de 51 mil ‘pessoas’, entre 5 e 13 anos, na condição
ilegal de trabalho no estado. Segundo a PNAD, a população baiana entre 5 e 9
anos, correspondia a 1,4 milhão de pessoas em 2002 e 1,2 milhão em 2014.
Destes, cerca de 7 mil trabalhavam na semana de referência da pesquisa, em
2014, contra 38 mil em 2002. Os números indicam que a porcentagem da população
em situação de trabalho, nessa faixa etária, reduziu-se de 2,6% para 0,6% no
período, sem considerar, contudo, a redução nas oportunidades de trabalho.
Para a faixa etária entre os 14 e 15 anos, quando já é
possível trabalhar de forma legal na condição de aprendiz, verificou-se uma
redução de 41% (72 mil adolescentes deixaram o trabalho infantil) em situação
de trabalho no período – sendo que 104 mil estavam ocupadas em 2014, o
equivalente a 16,3% da população dessa faixa etária. A PNAD não permite
determinar qual proporção destas adolescentes são menores aprendizes. O estudo
também não identifica os territórios de identidade do estado onde há maior
índice de ocorrência da exploração do trabalho infantil, mas, considerando-se a
população de 16 e 17 anos, observa-se um contingente de 131 mil ocupados em
2014, o equivalente a 23,8% da população dessa faixa etária. Em relação a 2002
a redução foi de 133 mil ocupados.
De acordo com o diretor de Pesquisa da SEI, nas zonas
urbanas do estado (principalmente no âmbito do setor de Serviços), o trabalho
para crianças de 5 a 9 anos estaria próximo da erradicação, restando, em 2014,
0,3% de crianças desta faixa etária em situação de trabalho. A taxa de trabalho
infantil na zona rural, com atuação no setor agrário, conforme avaliação da
SEI, “passou de 5,7% para 1,5% entre 2002 e 2014 para o grupo de 5 a 9 anos”.
Na faixa dos 10 aos 13 anos de idade, no mesmo período, “passou de 26% para
10,4%”.
Vale salientar, todavia, que para estas faixas, qualquer
forma de trabalho é considerada inadequada, de acordo com a Constituição de
1988. Para o grupo de 14 e 15 anos pode haver menores aprendizes ou
estagiários, assim como o grupo de 16 e 17 anos de idade, sendo que neste grupo
já é possível ter carteira assinada, desde que o trabalho não envolva risco de
vida, seja noturno ou insalubre.
Importância do Bolsa Família é destacada.
A análise verificou também a redução das horas médias
trabalhadas por aqueles em condição de trabalho infantil e o aumento de
crianças que “só estudam”, que passou de 76,2% para 87,3% entre 2002 e 2014, em
detrimento dos grupos que “trabalha e estuda”, “só trabalha” e “nem trabalha e
nem estuda”. Segundo Armando Castro, a redução do trabalho infantil é consequência
direta do programa Bolsa Família, que condiciona o benefício, dentre outras
coisas, à presença na sala de aula. Para ele, “além disso, o aumento da renda
familiar diminui a necessidade de entrada no mercado de trabalho dos mais
novos”, estipulou.
De todo modo, Castro considera que, diante do quadro de
recessão que o país passou a atravessar desde o final de 2014, “as formas
precárias de trabalho tendem a reaparecer”. Ele avaliou, ainda, que “a depender
do recorte, as pesquisas por amostragem tendem a perder significância ou
confiabilidade” e lembrou que “a Bahia é um dos estados mais pobres do país”. A
avaliação procedida pelo estudo da SEI é a de que “os jovens de 5 a 17 anos
estão frequentando mais a escola e trabalhando menos” e que, “entre os que
ainda trabalham despendem menos horas na atividade laboral do que em 2002”.
O estudo concluiu que os resultados apontados pela
PNAD ”representam um avanço no que tange à melhoria na qualidade de
vida desses jovens e à possibilidade de inserção no mercado de trabalho com
melhor qualificação, possibilitando alcançar melhores salários e condições de
vida”. Em 2014, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego promoveu 701
ações de combate à situação em 54 municípios da Bahia, com 340 pessoas foram resgatadas.
De janeiro a maio deste ano, foram 262 fiscalizações com 83 menores afastados.
O Ministério da Saúde aponta que nos últimos quatro anos o
trabalho infantil ocasionou 15.272 acidentes e provocou 135 mortes de
crianças e adolescentes. Só em 2014, a média de óbitos chegou a 2,5 por mês,
correspondentes a 30 durante o ano. Já os acidentes chegaram a 3.113
(média de 259,4 ao mês). Consequência das desigualdades sociais e do
desenvolvimento econômico, a erradicação do trabalho infantil, de todo modo, ainda
é um grande desafio a ser superado em todas as regiões do Brasil.
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