terça-feira, 13 de outubro de 2009

APOSENTADOS BAIANOS LIDERAM NO NÚMERO DE DÍVIDAS NO NORDESTE...

FONTE: *** Perla Ribeiro (CORREIO DA BAHIA).

Ele pode ser considerado o salvador da pátria nos momentos de aperto. Mas é também o responsável pelo endividamento de milhares de baianos. O vilão tem nome, e se chama crédito consignado. De janeiro a agosto deste ano, somente na Bahia, aposentados do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) realizaram 459.556 operações nessa modalidade e movimentaram mais de R$ 960 milhões. Especialistas alertam: recorrer à prática de forma indiscriminada pode ser uma grande cilada. “O crédito consignado é a grande armadilha para o endividamento do aposentado. É uma solução paliativa que combate o efeito e não a causa de um endividamento já existente”, avalia o educador financeiro Reinaldo Domingos.
O problema é que, muitas vezes, em vez de encontrar uma solução, a pessoa acaba entrando em um ciclo vicioso. Os números da Previdência Social colocam a Bahia em primeiro lugar no ranking nordestino dos estados que mais recorrem a este tipo de empréstimo, com 25,8% do total da região. Só para ter uma noção, o montante destinado aos aposentados baianos é maior do que asomado valor nos estados da Paraíba, do Piauí, do Rio Grande do Norte e de Sergipe.
Preocupado com a forma com que os aposentados baianos têm lidado com a oferta fácil de crédito, o presidente da Casa dos Aposentados, Gilson Costa de Oliveira, chama a atenção. “Embora necessário em algumas circunstâncias, ele é um complicador na vida do aposentado. Foi muito vulgarizado. E, mesmo sem precisar, há quem recorra a ele e hoje tem muita gente chorando”, diz.
ARREPENDIMENTO.
Quem se arrepende da experiência é a aposentada Maria Augusta Santos, 67 anos. Quando precisou recorrer ao último empréstimo para colocar em dia contas de água, luz e telefone, ela tinha um saldo devedor de R$ 800 de outra operação com a Caixa Econômica Federal (CEF).
Além de não quitar a dívida, saiu da financeira com R$ 1.200 em mãos e uma nova dívida para ser amortizada em três anos. Desde então, ela tem subtraído, mensalmente, do contracheque, o valor de R$ 108. Detalhe: o problema que buscava resolver não foi sanado. “Me arrependo profundamente. Minhas contas estão todas atrasadas de novo e parece que nunca acabo de pagar”, diz Maria Augusta, que terá que conviver com os descontos em folha até dezembro e, até lá, terá que manter o malabarismo para viver sem a renda completa.
Reinaldo Domingos explica que somente trocar de credor não funciona. “Não resolve a verdadeira causa do problema, que é o desequilíbrio financeiro. Para isso, é preciso um bom diagnóstico financeiro para saber para onde está indo cada centavo. A prestação de um consignado pode ser um grande câncer para acabar com o equilíbrio nas finanças”, orienta o consultor.
A aposentada Maria Eulina Conceição Santos, 65 anos, sempre soube que se endividar com o banco não era boa coisa. No entanto, diante de problemas de saúde, não teve como fugir disso. “Como sei que não é boa coisa, não pego empréstimo para besteira. Mas, como sou cardíaca, às vezes, preciso para ajudar no tratamento”, conta.
QUANDO O EMPRÉSTIMO VALE A PENA.
Se endividar não é bom em nenhuma circunstância. Mas, se a pessoa já está com a corda no pescoço, há situações em que o empréstimo consignado pode funcionar como uma luz no fim do túnel. Como possui taxas de juros mais baixas do que as praticadas no mercado, o crédito é uma boa pedida para quem está pagando juros altos no cheque especial ou no cartão de crédito.
“Nesse caso, basta fazer uma matemática simples. Como os juros do consignado são mais baixos, melhor trocar de credor. Mas é fundamental ter um plano de ação para realizar uma faxina financeira para adequar o padrão de vida ao que ganha”, adverte o educador financeiro Reinaldo Domingos.
Os conselhos do presidente da Casa do Aposentado, Gilson Oliveira Costa, vão na mesma linha de raciocínio. Ele alerta que o consignado pode ser útil para gastos por motivos de saúde, para quem está com o nome em serviços de restrição ao crédito ou para quemquer adquirir um bem durável.
“O aposentado deve estar atento ao fato de que, no mês seguinte, a renda dele será menor. O crédito só é bom dentro de um limite de consciência do que está fazendo”, sugere.
EMPRÉSTIMOS EM NÚMEROS.
1,2 milhão é o número acumulado de contratos ativos na Bahia desde 2005 R$ 2 bilhões é o valor aproximado de recursos emprestados na Bahia desde 2005.
R$ 2,4 mil é o montante médio do valor dos empréstimos consignados na Bahia.
R$ 2,5 mil é o valor da média nacional do empréstimo consignado de aposentado.
25,8% do valor destinado para empréstimos no Nordeste ficam na Bahia.
QUANDO RECORRER.
1. Para quem está pendurado no cheque especial ou cartão de crédito, é uma ótima opção para sair do sufoco porque tem juros menores e prazos maiores. Nesse caso, vale a pena mudar de credor para garantir gastar menos.
2. Quem está no crédito pessoal parcelado ou no carnê da loja tem que analisar o desconto que será dado pelo pagamento antecipado da dívida. Se a taxa de juros do desconto for maior que a do empréstimo consignado, faça a troca.
3. Se você está cogitando um empréstimo, analise seu orçamento e veja se a prestação não vai comprometer outras despesas essenciais. É bom lembrar por quanto tempo você ficará comprometido com aquela prestação.
4. Se hoje você não consegue reservar uma pequena parcela do salário para fazer uma poupança, como irá conseguir subtrair o valor da prestação mantendo as mesmas despesas? Isso tem que ser levado em conta.
5. A facilidade para tomar esse tipo de empréstimo é muito grande, particularmente para os aposentados. Evite tomar o empréstimo para fazer favores a familiares ou a terceiros. Portanto, fuja das ciladas familiares.
6. Antes de decidir pelo empréstimo, estabeleça prioridades em sua vida. No caso de se endividar para comprar um bem, avalie bastante se é uma transação de fato importante para a sua vida e o impacto que ela terá em seu orçamento.

*** Notícia publicada na edição impressa do dia 13/10/2009 do CORREIO.

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