sábado, 24 de outubro de 2009

CENAS DE LUA DE MEL...

FONTE: Jolivaldo Freitas (TRIBUNA DA BAHIA).

Tem certas coisas que, está na cara, não vão dar certo. Ainda mais quando ocorrem logo de saída, no largar das malas. Então não sei por que as pessoas ainda insistem em levar em frente. Talvez seja aquele sentimento de esperança. A certeza etérea de que vai acontecer uma mudança de atitude; um tal repensar ou refazer convicções, hábitos e manias. Uma nova postura. É o que acontece, geralmente, com mulher de bandido. Veja que no final da semana passada um preso matou a mulher dentro do presídio na área de encontros íntimos. Claro que ela estava lá por acreditar que seu homem um dia iria se transformar num cara de bem. Pagou com a vida. Como diz o jargão policial: "Foi imprudência da vítima".
Vendo um documentário na TV sobre roteiros para a lua de mel, fiquei extasiado com lugares lindos que o mundo dos ricos contém. Foi quando entrou em cena um casal mais ou menos jovem, sendo recebido em alto estilo num resort paradisíaco. O homem cheio de amor para dar, carregando a mulher na praia, correndo, brincando, beijando. À noite ele teve uma boa surpresa. Enquanto esperava na sala de jantar a mulher aparece com uns pratos bem decorados e que se dependesse disso deveriam estar muito saborosos. Ele, na maior inocência e maravilhado pergunta:
- Você fez para mim?
A mulher de forma grosseira responde:
- Para mim e pra você seu Zé Mane!
 Assim mesmo! Na cara, sem pensar duas vezes. Está claro que não vai dar certo esse casamento. Se na lua de mel a mulher já deu um coice, imagine quando tiver com um ano de casada. Vai sair para beber, jogar sinuca, ver jogo em Pituaçu, pegar praia, jogar no bicho, ficar papeando com os amigos até tarde e ele que se vire choramingando na cama esperando ela chegar. Foi este o perfil que vi do casal. Sem falar nos tabefes que ele vai levar quando não lavar os pratos (de comida que ele mesmo cozinhou ou pediu num delivery).
 Coisa quase igual eu presenciei certa vez na cidade de Juazeiro. Uma advogada levou uma vida dando em cima de um gerente de loja de material de construção e o rapaz renitente, parecendo que estava adivinhando. Até que ele cedeu aos encantos da moça, namorou uns meses e casaram. No dia do casamento eu colado, a convite do moço, acho bonito tocar Led Zepelin na entrada da noiva e músicas barrocas a seguir.
Tudo lindo e maravilhoso, com o padre inspirado, querendo aparecer para o desembargador que era um dos padrinhos e manda que troquem as alianças. O rapaz raspa todos os bolsos do terno risca de giz, não acha, procura mais e no silêncio da nave da catedral vem uma voz gutural de dentro da noiva, parecendo personagem de Roman Polansky:
- Cadê as alianças, ô inútil?
O silêncio dobrou, a aliança estava com uma das crianças guardas-de-honra. Desta vez, entretanto, uma voz que meio escondida atrás da pilastra disse:
- Se pica Carlinhos que essa mulher vai te estropiar depois de casar.
Com certeza ele até que titubeou, mas não teve coragem. Casou, quando o padre mandou beijar a mulher com má vontade respondeu:
- Não precisa.
 Terminado o casamento, um constrangimento total, e ela já foi levando o marido pelo braço, falando horrores, ele calado. Na festa ficaram num canto discutindo e ninguém teve coragem de ir lá dar um apoio psicológico para o rapaz. Passei perto e ele, como se pedisse uma ajuda perguntou num sorriso quase sépia: "Ta gostando do casamento?"
 - O olho de sogra está uma delícia – respondi com a boca cheia e achando uma saída.
   Dizem que a lua-de-mel foi um terror e ele nega  que tenha sido jogado fora de uma jangada em Fortaleza por ter esquecido de levar o filtro solar. Eles estão casados já faz bem uns dez anos. Nasceram duas lindas criancinhas que ele cuida com o maior desvelo enquanto ela viaja para o fórum da capital e atende seus clientes de Juazeiro e Petrolina. Carlinhos garante que a mulher está mudando, ficando com a natureza melhor, mas outro dia quase enfia o espeto do churrasco em seu olho.
Quem quiser que se meta.

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