quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O BRINCO, O BODE E O ORELHUDO...

FONTE: Jolivaldo Freitas (TRIBUNA DA BAHIA).

Foi um Deus nos acuda, valei-me nossa Senhora, Santo Antonio que nos proteja, vade retro Satanás, sai desse corpo, lá nele e te esconjuro quando os políticos de oposição ao governador descobriram ou alguém dedurou, que tinham colocado brincos nas orelhas dos bodes e cabras do sertão baiano. A princípio imaginei que seriam mesmo brincos de verdade, de ouro, prata ou platina, tanto escarcéu, disse-me-disse, presepadas e nigrinhagem. Os brincos, minha gente, são feito de "matéria plástica", como dizem os mais antigos e serviam para controlar os rebanhos.
Então, na segunda parte da querela fiquei sabendo pelos indignados jornais ou pela contrariada mídia que os "brincos" tinham mensagens explícitas do Governo do Estado e que os petistas estavam usando os "brincos" para fazer propaganda política.
- GENIAL! – exclamei com tanto ardor que o porteiro tocou o interfone para saber se estava tudo bem; se eu precisava de alguma coisa e se eu sabia o número do Samu.
Foi então que entabulei uma conversa via interfone com meu porteiro, que vem a ser um cara simples, mas informado, pois não tem jornal que seja entregue ou revista que chegue que ele antes de enviar para o legítimo dono não trate de dar uma olhada em regra. Tanto que muitas das vezes ele dá a manchete quando coloca a publicação no elevador:
- Doutor, o jornal está subindo, mas a manchete é fraca – já avisa.
Às vezes ele se irrita, notadamente quando os jornais não trazem assuntos que ele mesmo vivenciou, a exemplo de assalto no ônibus em que ia ou no dia em que a Van pegou fogo na Suburbana.
Eu disse para o porteiro:
- Veja o senhor. Todo mundo fala mal do pessoal do PT, que não tem criatividade, não está preparado, é tudo um improviso só. Mas, quando um marqueteiro do partido tem uma ideia genial, como essa de colocar mensagens nos "brincos" e prender nas orelhas dos bodes, chamam o cara de "orelhudo".
- A vida é assim mesmo, doutor, mas também os caras já deram uns foras danados, embora possa ser visto a olhos nus que o pessoal do PT é muito sabido: veja o Delúbio e o Zé Dirceu que estão milionários e só tomam vinhos caros e vestem roupas de griffe. Pegaram a mulher de um deles, não sei qual foi, comprando roupa na Daslu. O senhor sabe, a Daslu, aquela loja de muito rico que tem em São Paulo – explicou.
Claro que eu fiz questão de dizer que sabia o que era a Daslu (ele sabido me perguntou se eu já tinha comprado lá alguma coisa para minha mulher, como se estivesse me investigando, procurando sinais externos de riqueza) e voltando ao tema dos bodes eu salientei:
- O senhor veja, se fosse equipe de marketing de Obama que tivesse bolado a ideia estaria sendo aclamada no mundo todo e todos nos partidos iriam querer aprender como se faz.
- É mesmo, doutor. Só porque o moço que bolou a ideia não é americano é chamado de burro. O cara deve ser bom, se o senhor está falando – aquiesceu o porteiro.
- Diga aí meu caro, outro dia eu estava escrevendo no jornal que a Bahia carece de bons criadores de anúncios. Que ninguém aguenta mais na TV letras grandes dos anúncios alttype em que as letras caem umas sobre as outras, escrito liquidação e o áudio é como se estivesse caindo um pedaço de ferro. Como se o público fosse cego, surdo ou burro. Os anúncios imobiliários é um tal de colocar criança, paisagem e casal bonito e jovem que chega a ser repetitivo. E então me vem a ideia do bode. Simplesmente genial.
- É, mais li também no seu jornal que parece foi muita grana e que é proibido usar mensagens de cunho político.
- Sei não, meu caro – disse: "com certeza o governo sabe o que está fazendo. Se fosse uma idéia de Duda Mendonça era para ganhar prêmios. Se fosse de Nizan Guanaes sairia na revista Caras".
- É doutor, mas o cara tinha de ver que ia dar bode, né? – Deu um sorriso de escárnio que percebi do outro lado da linha, não gostei e desliguei o interfone na cara, não sem antes desabafar:
- Chifrudo.
Pois acho que deviam colocar anéis nos pássaros, etiquetas nos peixes do São Francisco, anel no focinho do porco e nas ventas da vaca e, supra-sumo da criatividade, colocar as mensagens do governo nas ferraduras dos cavalos. Pisou na areia fica o carimbo: "Bahia: Terra de Todos Nós."

Nenhum comentário:

Postar um comentário