sexta-feira, 2 de outubro de 2009

SE NÃO GOSTOU VÁ AO BISPO...

FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

Assim como a política, o jornalismo é de um dinamismo alucinante. O leitor mais atento pode reparar: nem sempre as manchetes dos jornais de um dia são abordadas nos dias subsequentes. É que surgem assuntos mais escabrosos a cada momento e, aí, acabamos dando bobeira e postergando o tema em torno do qual destacamos a cada edição. Pessoalmente carrego esse defeito. Nem sempre dou prosseguimento a um comentário polêmico porque aparece uma outra questão aparentemente mais séria e cabeluda. Resolvi, entretanto, mexer, o quanto puder, com algo delicadíssimo. Tão delicado que poucos articulistas se arvoram a meter a mão na cumbuca. E com razão. Talvez seja o mais covarde de todos eles, mas é daí que vem o meu sentimento de revolta. E essa indignação faz com que as palavras – apropriadas ou não – brotem normalmente na minha mente, que anda cada vez mais imunda em função das imundices que eu, como cidadão e como profissional de imprensa, tenho a obrigação de acompanhar e até presenciar.
Há um tabu que aos poucos vai se deteriorando por conta da sua própria fragilidade. Refiro-me à Justiça da Bahia. Desde que o Conselho Nacional de Justiça determinou o afastamento do desembargador Rubem Dário, acusando-o de vender sentenças, sinto-me como a maioria da população desta terra. Sinto-me traído. O pior: vem-me a sensação de que estamos longe, muito longe de alcançarmos a democracia plena. Não, não estou inventando moda. Democracia, para mim é, acima de tudo, respeito aos cidadãos e divisão de direitos e deveres. Se alguém que tem a obrigação de ser exemplo de retidão, probidade e, sobretudo, honestidade, resolve remar contra a maré, passa a temer não por mim, mas por uma juventude que está aí perdida. Ou, na linguagem da meninada, o único caminho é se dar bem. Somos todos uns bandas voou. Não sou louco de dizer aqui que o magistrado é péssimo espelho para a atual e para as futuras gerações. Deixo que CNJ o julgue.
Mas insisto num ponto: não acredito que o doutor Rubem Dário seja a palmatória do mundo – ou da Justiça baiana. Não quero dizer nem insinuar que há outros casos suspeitos de ações ilícitas, apesar de, volta e meia, assistirmos no noticiário ( independente) o envolvimento de juízes em situações escabrosas. Daí que cabe ao próprio Tribunal de Justiça baiana chutar a primeira bola em gol. Ao agir desta forma, punindo infratores, cortando na própria pele (palavrinha inútil) , o TJ ganha vida, ganha ares de sabedoria e lisura, tornando-se uma instituição acima de qualquer suspeita. Vou ser mais objetivo: se eu cometo um deslize (xinguei a mãe do guarda, por exemplo) e por azar dos azares esse meu processo, depois de milhares de recursos, acaba caindo nas mãos de dr. Dário, vou me sentir à vontade de contestar qualquer decisão mesmo que seja favorável a mim.
Puxa, o TJ tem todas as condições de separar o joio do trigo. Não faz por que, pelo amor de Deus? O que o impede de ser rígido consigo mesmo? Definitivamente não entendo – aliás, finjo que não entendo. O curioso é que se você coloca uma palavra com duplo sentido mesmo que não haja qualquer intenção em fazê-lo aparecem logo autoridades para ameaçá-lo prender ou levá-lo às barras dos tribunais para você responder um crime que não cometeu. A propósito, um desembargador amigo sabe muito bem do que estou falando.
Para encerrar temos que dar um basta nas hipocrisias que rondam os poderes aqui na Bahia em todo o país. Hoje se você chega para discutir com um policial de trânsito e diz que a temperatura está quente ou fria corre-se o risco de ser preso por desacato à autoridade. Até provar que não é nada disso, a porrada já comeu no centro. Tenho um conhecido que não faz muito tempo acabou sendo interrogado pela Polícia Federal. Lá pelas tantas, diante de uma pergunta impertinente, ele (esse conhecido) deu uma risadinha meio irônica pelo absurdo do questionamento. Quase ficava preso. Ouviu um esporro que o marcou para o resto da vida. Chega. Basta. Vamos, enfim, deixar de ser uma republiqueta de coisa nenhuma ( queria dizer outra coisa).

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