quinta-feira, 8 de julho de 2010

MAIS QUE DOR DE DENTE...

FONTE: Leo Barsan, TRIBUNA DA BAHIA.

Investimento de mais de R$ 21 mil e um saldo de muita dor de dente, de cabeça e no bolso. O pavor ao dentista é pouco diante do prejuízo contabilizado pelo gerente de transportes Gilson Fontes, 41, que em abril de 2008 vendeu um automóvel para custear o tratamento de dez implantes dentários recomendado pela empresa Imbra – Tratamentos Odontológicos, na Barra. O orçamento inicial chegou a R$32 mil.
A proposta de ter um sorriso mais bonito, segundo o cliente, logo foi ‘amarelando’ com o descaso da empresa. “No início, era tudo uma maravilha. Quando assinei o contrato para os implantes, tive a garantia de que o meu tratamento duraria entre seis e oito meses. Cheguei a fazer todos os implantes, mas, por falta do acompanhamento necessário que também estava incluído no acordo, acabei tendo duas perdas de dentes implantados e corro o risco de perder mais um”, relata Fontes.
Em 29 meses, as queixas em relação à empresa só acumulam. “Eles fizeram dez implantes e cobraram o valor de 11. Quando me dei conta, recorri e a Imbra devolveu o valor de R$750 retirando os juros com a alegação de que eu havia pagado o tratamento com descontos”, expõe Fontes. Ele lembra, ainda, que perdeu duas oportunidades de trabalho por causa do tratamento.
“A dificuldade para ser atendido era tão grande que, quando eles marcavam uma data, eu só tinha a opção de aceitar”, ressalta o cliente ao mesmo tempo em que reclama da transferência do laboratório de prótese da clínica para São Paulo.
A insatisfação com o atendimento não para por aí. “A Imbra não tem nem um canal de relacionamento específico para Salvador. A gente nunca consegue resolver nada. É um empurra-empurra desde a porta de entrada quando a informação que recebemos dos atendentes é que devemos voltar em outros horários para tentar resolver qualquer problema. Além disso, só tem gente inexperiente”, denuncia.
Gilson Fontes garante que vai entrar na Justiça contra a empresa após o fim do tratamento. “Fui orientado por um advogado para que não faça nada enquanto não terminarem os procedimentos. Mas, depois disso, vou procurar uma empresa especializada para fazer uma perícia a fim de verificar se o tratamento atendia realmente às minhas necessidades”, assegura ele, que tem consulta marcada para o próximo sábado, quando vai fazer a reposição de um dos dentes implantados.
CONSELHO REGIONAL DE ODONTOLOGIA AFIRMA QUE ESTÁ ATENTO AO CASO.
No que depender do Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), a Imbra pode ser obrigada a suspender os serviços na Bahia. A promotora de Justiça de Defesa do Consumidor Joseane Suzart ajuizou uma ação civil pública contra a empresa e solicitou deferimento de medida liminar que determine a suspensão das atividades da Imbra no estado. Na Bahia, já existem cerca de 114 representações.
“Ela (a empresa) não está cumprindo totalmente com os contratos firmados, já que não realiza os serviços odontológicos conforme prometido. Além disso, a Imbra, através dos seus profissionais, impõe que os consumidores sejam submetidos a tratamentos desnecessários com o intuito de obter lucro indevido e dificulta o cancelamento dos contratos firmados, ainda que o consumidor não utilize os serviços”, explica a promotora de Justiça.
Segundo a representante do MP-BA, os consumidores são condicionados a firmar contratos de financiamentos com o Banco Cacique S/A para que tenham acesso aos serviços prestados pela Imbra. “A prestadora de serviços odontológicos faz isso por meio de um instrumento de financiamento que apresenta anexo ao contrato de serviços”, esclarece Suzart, acrescentando que a Imbra contratualmente possibilita o pagamento dos serviços prestados por diversos meios, mas, na prática, impõe o financiamento por meio da instituição bancária.
A promotora de Justiça destaca na ação que, quando o cliente tenta rescindir o contrato com o banco, encontra dificuldades porque ele obstaculariza o cancelamento do contrato alegando que isso não é possível porque os valores são antecipadamente destinados à Imbra. “Há um flagrante conluio entre as demandadas, pois a Imbra impõe a contratação do financiamento e o Banco Cacique repassa os valores mesmo ciente de que o contrato de prestação de serviços não será cumprido”, alerta.
Para pôr fim às irregularidades, a representante do MP solicita ainda que a Justiça obrigue a Imbra a não realizar publicidade e nem propaganda sobre a disponibilização dos serviços, já que não estão sendo concretizados em conformidade com os ditames legais; a efetivar e finalizar, de forma adequada e eficiente, os serviços odontológicos já contratados pelos consumidores que objetivem dar continuidade à relação contratual; a restituir, em dobro, os valores pagos pelos consumidores cujos contratos não foram devidamente cumpridos e que não objetivem dar continuidade ao liame contratual, entre outros. Joseane Suzart ressalta que procurou a ré para que apresentasse defesa, mas não houve resposta.
O presidente da Comissão de Ética do Conselho Regional de Odontologia do Estado da Bahia (CRO-BA), Ulisses Anselmo, destaca que o órgão está atento ao caso. “O processo vai ser investigado também pelo Conselho. Vamos chamar a ré para que apresente sua defesa. Caso sejam constatadas as veracidades das denúncias, o órgão vai ‘em cima’ do responsável técnico da empresa. A punição vai desde uma advertência até à cassação do registro. A depender do que for apurado, a empresa pode sim deixar de exercer suas atividades em nosso estado de forma permanente”, esclarece.
Em nota, a Imbra informou que até o momento não recebeu notificação oficial e que desconhece os fatos mencionados em comunicado publicado pelo site do Ministério Público do Estado da Bahia, em 06 de julho de 2010.

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