terça-feira, 30 de novembro de 2010

DOZE MIL INFECTADOS NA BAHIA PELA AIDS...

FONTE: LUCY ANDRADE, TRIBUNA DA BAHIA.
Mais de cem pessoas morrem por ano na Bahia em decorrência da Aids. No estado, há mais de 12 mil pessoas infectadas, destes casos, 51% foram registrados em Salvador, o que corresponde há 5.935 pessoas com o vírus. Dos 417 municípios do Estado, 84% já notificaram - pelo menos – um caso de Aids, sendo 386 deles em crianças e adolescentes de até 13 anos.
E, enquanto especialistas correm contra o tempo para achar um “inibidor” para combater o vírus, especialistas da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) alertam para outro problema: o vírus HIV pode provocar quadros de demência nos portadores.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, - 40% dos 630 mil pessoas infectadas com o vírus da Aids em 2010, ou seja, - cerca de 252 mil indivíduos, podem apresentar algum sintoma desse quadro demencial, sendo mais prevalente o complexo cognitivo-motor leve.
Esse quadro de demência associada ao HIV acomete, em sua maior parte, indivíduos jovens. Das 48.141 notificações registradas em 2008 e 2009, aproximadamente 73% referem-se a pessoas de 25 a 49 anos.
A neurologista e membro do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN, Jerusa Smid, explicou que a demência associada ao HIV se dá por meio da infecção do sistema nervoso central (SNC) e do cérebro pelo vírus.
“O HIV infecta as células de defesa, monócitos e outras células CD4, e é transportado ao SNC, onde se replica e pode infectar outras células. As células infectadas apresentam resposta inflamatória com substâncias neurotóxicas que provocam a morte de neurônios”, explicou.
Os sintomas são caracterizados por dificuldades de concentração, na memória de curta duração e lentidão do pensamento, além de prejuízo do desempenho motor e, em casos mais avançados, surgem dificuldades para andar e de linguagem, além de comprometimento da memória.
O diagnóstico desse tipo de demência, conforme Jerusa Smid, é sobretudo, clínico, porém exames de ressonância magnética do encéfalo ou tomografia computadorizada e de análise do liquor são fundamentais para a exclusão de causas secundárias de comprometimento do SNC.
De acordo com a neurologista, o tratamento da demência decorrente do HIV é realizado através da terapia anti-retroviral de alta eficácia, com escolhas de medicações que tenham boa penetração no SNC.
“Haverá melhora do sistema imunológico do paciente, mas o quadro não é revertido, apenas a doença tem seu processo de evolução apenas interrompido. Para sua eficácia é preciso ser tratada inicialmente, assim pode haver melhora do declínio cognitivo”, ressaltou.
Exames oftalmológicos –O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito por meio de testes realizados a partir da coleta de uma amostra de sangue, que podem ser realizados em unidades básicas de saúde e em laboratórios particulares.
E, buscando melhorar o acesso da população, a fundação Osvaldo Cruz desenvolveu um kit de teste rápido de HIV, que fornece o resultado em 30 minutos.
Além dos métodos convencionais para detecção, exames oftalmológicos também podem detectar a presença do vírus. “Há casos de doenças oculares, como as uveítes, por exemplo, que ocorrem em pacientes com imunidade comprometida (imunodeprimidos).
O diagnóstico exige exames específicos para identificar o agente causador”, explicou o oftalmologista Victor Saques Neto, do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB).
A uveíte é um termo genérico para a inflamação de um ou todos os segmentos da úvea, que é composta pela íris (parte mais colorida do olho), corpo ciliar (estrutura vascular do olho que produz o líquido transparente no globo ocular) e coróide (camada de vasos sanguíneos e tecido conjuntivo entre a esclera, parte branca do olho, e a retina). “As uveítes normalmente vêm acompanhadas de dor, vermelhidão, fotofobia e baixa visual”, explica o especialista.
DOENÇA JÁ MATOU 25 MILHÕES.
Em quase 30 anos de epidemia, a doença já contaminou quase 60 milhões de pessoas, a maioria na África, e matou 25 milhões. E, pelo menos 33 milhões são contaminadas pelo vírus por ano.
No Brasil, cerca de 630 mil brasileiros vivem com o vírus. Com a expansão da doença, pesquisadores brasileiros que atuam no combate à Aids aceleram para tentar encontrar armas contra o vírus.
Ainda em fase de análise, especialistas estão estudando uma nova medicação oral para prevenir a infecção pelo HIV ou Sida “Síndrome da Imunodeficiência Adquirida”.
Em julho deste ano, foi divulgado o anúncio do gel vaginal microbicida que poderia reduzir o contágio do vírus HIV nas relações sexuais, em até 54%. A descoberta foi divulgada em Viena, onde aconteceu a conferência internacional sobre a Aids.
Desde 27 de fevereiro de 2007, o produto estava sendo testado para comprovar a eficácia e a segurança do uso do mesmo para a prevenção do vírus entre as mulheres. O gel é composto de 1% de tenofovir, um componente muito utilizado como antiretroviral.
Os testes foram realizados na África, onde se estima que 70% dos casos de contaminação registrados no mundo, e 60% desses são mulheres.
Apesar de esperançosos, infectologistas baianos disseram que esse será um grande avanço da medicina, mas que ainda está longe de acontecer a descoberta da cura da doença. “Essa é uma luta de pesquisadores de todo o mundo e será um grande avanço da medicina, que é uma caixinha de surpresa.
Existem várias pesquisas, entre remédios, vacinas e gel, para imunizar o individuo contra o vírus, porém nenhum método comprovou sua eficácia. Há expectativa que no futuro possamos encontrar uma solução”, disse o infectologista Claudilson Bastos.
“Não há pílula do dia seguinte para AIDS. Assim como não há remédios que bloqueiem o vírus, como os anticoncepcionais. A melhor forma de prevenção é o preservativo”, enfatizou o infectologista Fernando Badaró.
O HIV pode ser transmitido pelo sangue, sêmen, secreção vaginal e pelo leite materno. Além da relação sexual, há outras portas de entrada para o vírus, como utilização da mesma seringa ou agulha por mais de uma pessoa, o uso de material cortante e perfurante sem esterilização, como os alicates de unha, entre outras. As mulheres grávidas devem fazer o pré-natal e serem acompanhadas, para evitar que os filhos sejam contaminados.
Dados – A epidemia começou em 1980, e até junho de 2009 cerca de 545 mil diagnósticos foram realizados. Durante esse período, 217.091 pessoas morreram em decorrência da doença, segundo o Ministério da Saúde. Por ano, são notificados entre 33 mil e 35 mil novos casos.
A região Sudeste é a que tem o maior percentual (59%) do total de notificações, com 323.069 registros da doença. O Sul concentra 19% dos casos, o Nordeste, 12%; o Centro-Oeste, 6% e a região Norte, 3,9% dos casos.

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