FONTE: Sergio Toniello Filho REPÓRTER, TRIBUNA DA BAHIA.
No período mais crítico do tratamento de um câncer na laringe, o ex-Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, comparou o tratamento de radioterapia que então realizava como “uma bomba de Hiroshima”, em entrevista publicada pelo jornal “Folha de S.Paulo”.
Lula foi submetido à sessões de quimioterapia e depois passou por 33 sessões de radioterapia, quando os médicos declararam que o tumor havia regredido sensivelmente.
No entanto, procurando desmistificar a ideia de que a radioterapia é altamente agressiva à saúde, o presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), Robson Ferrigno, afirmou, no seminário sobre Câncer no Brasil – Os Desafios no Tratamento e o Papel da Radioterapia, realizado na quarta-feira (25) em São Paulo, que “hoje em dia o tratamento tem evoluído muito, permitindo que o tumor seja retirado com eficácia e segurança, não prejudicando outros órgãos sadios do organismo.”.
Em entrevista, Robson Ferrigno minimizou as declarações do ex-presidente Lula. “Ele fez apenas um desabafo à época do tratamento. O ex-presidente está feliz agora, porque ficou curado.”, explicou.
O presidente da SBRT destacou que a radioterapia é uma das técnicas mais recomendadas para tratar o câncer. É um tratamento feito com aparelhos chamados de aceleradores lineares que utilizam radiações ionizantes para destruir ou inibir o crescimento de células anormais, que formam um tumor.
“Em torno de 60% dos novos casos de câncer terão indicação de radioterapia em pelo menos uma fase do tratamento. As últimas tecnologias em radioterapia aumentam a precisão ao tratamento, além de reduzir os efeitos colaterais.”, informou.
É o caso da radioterapia de intensidade o modulada (IMRT), uma técnica que libera doses variadas de radiação conforme a região que o médico quer atingir. “O IMRT, já disponível em alguns centros de excelência no Brasil, diminui a toxicidade do tratamento e as sequelas tardias.”, pontuou Ferrigno.
Além de Ferrigno, o seminário, realizado no hotel Renaissance, em São Paulo, contou com a participação de diversos profissionais na área de saúde, como o oncologista Rafael Kaliks, diretor científico do Instituto Oncoguia, o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Anderson Silvestrini, o diretor da Radioterapia do Instituto Nacional de Câncer (INCA), Carlos Manoel Mendonça e a presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz.
Os profissionais alertaram sobre o preocupante aumento do número de casos de cânceres no Brasil. De acordo com o INCA, em 2012 serão mais 520 mil novos casos de câncer no país. Porém, outro dado alarmante preocupa o diretor de radioterapia do Inca, Carlos Manoel Mendonça.
“Desses 520 mil novos casos de câncer, 312 mil brasileiros terão indicação para a radioterapia. Entretanto, 90 mil pacientes deixarão de receber o tratamento devido, porque o serviço de radioterapia não é oferecido em todo o país, e mesmo nos estados onde funciona as filas de espera são muito grandes.”, alertou Mendonça.
Segundo o presidente da SBOC, Anderson Silvestrini, existem poucos aparelhos e faltam profissionais especializados para atender à grande demanda de atendimentos de radioterapia no Brasil.
“Há estados, como Roraima e Amapá, que sequer oferecem serviços de radioterapia. O nosso país tem uma carência de aproximadamente 140 aparelhos de radioterapia no Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, o país conta com aproximadamente 230 aceleradores lineares, atendendo apenas 66% da demanda.”, disse Silvestrini.
INVESTIMENTO DE R$ 505 MILHÕES.
Reconhecendo o problema, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou, na semana passada, que vai investir R$ 505 milhões em radioterapia. Segundo Padilha, os recursos fazem parte de um conjunto de ações do ministério para o combate ao câncer, que inclui compra de equipamentos.
O oncologista Rafael Kaliks, diretor científico do Instituto Oncoguia, espera que os investimentos não sejam apenas para adquirir máquinas.
“Talvez a política homogênea seja um problema para as diferenças no número de pessoas que morrem de câncer de região para região.
A política de prevenção que é utilizada aqui em São Paulo, não pode ser a mesma para Estados do Norte e do Nordeste, por exemplo. Essa é uma das grandes preocupações dos oncologistas do Brasil, pois temos conhecimento dessa situação, mas iniciativas do governo ainda são modestas.”, ressaltou.
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