FONTE: RICARDO BONALUME NETO, DE SÃO PAULO (www1.folha.uol.com.br).
"Arrependimento mata", diz o ditado popular; já uma equipe de cientistas na Alemanha mostrou que a coisa não chega a tanto, mas deixou claro que o arrependimento pelo que você não fez e poderia ter feito vai tornar a sua vida menos saudável quando estiver com mais idade.
O estudo foi feito com 21 jovens sadios com cerca de 25 anos de idade, 20 voluntários com cerca de 65 anos e sintomas de depressão (que surgiram depois dos 55 anos) e outros 20 da mesma idade, mas sem problemas psiquiátricos.
A pesquisa é assinada por quatro pesquisadores da equipe de Stefanie Brassen, do Centro Médico Universitário Hamburg-Eppendorf, de Hamburgo, na Alemanha, e saiu na revista especializada americana "Science".
O teste de "arrependimento" envolvia abrir oito caixas em sequência em um jogo de computador. O resultado podia ser positivo ("ouro"), uma recompensa monetária; mas uma das caixas tinha um desenho de um diabo. Quando ele surgisse, o voluntário perdia tudo o que tinha ganho antes ao abrir as caixas anteriores.
Eles tinham a opção de parar quando quisessem antes de perder tudo, pois a probabilidade de aparecer o diabinho na frente aumentava com cada caixa aberta. A estratégia mais segura era parar na quarta caixa; a chance de o diabo não aparecer cairia para menos de 50% em seguida.
Quando o voluntário desistia, era revelada a localização da caixa "diabólica", induzindo arrependimento pelas oportunidades perdidas.
Os participantes fizeram 80 sequências desse tipo, e seus cérebros foram "escaneados" por ressonância magnética.
DEPRIMIDOS.
O resultado mostrou que os jovens e os senhores mais velhos deprimidos que perceberam que tinha perdido chances de ganhar mais dinheiro passaram a se arriscar mais ao longo do experimento. Mas os "velhos" saudáveis não foram afetados.
O escaneamento do cérebro mostrou atividade semelhante entre os garotos e os "tiozinhos deprimidos" em lugares que se sabe estarem envolvidos na sensação de arrependimento e na regulação de emoções.
Os autores sugerem que os voluntários mais velhos e sem problemas psiquiátricos usam estratégias mentais sensatas, como lembrar que os resultados do jogo surgem do acaso, enquanto os deprimidos tenderiam a colocar a culpa neles próprios pelos resultados ruins.
"Teorias sobre o tempo de vida explicam o envelhecimento bem sucedido como um gerenciamento adaptativo de experiências emocionais, como o arrependimento. Como as oportunidades para desfazer situações de arrependimento declinam com a idade, um envolvimento reduzido nessas situações representa uma estratégia potencialmente protetora, que mantém o bem-estar na idade avançada", escreveram os autores.
"Nossos resultados sugerem que o desengajamento do arrependimento reflete um fator crítico de resiliência para a saúde emocional na idade avançada", concluíram os pesquisadores.
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