Uma pesquisa liderada por uma
brasileira mostra que problemas de nutrição durante a gravidez podem fazer recém-nascidos terem uma
resposta mais intensa ao sabor doce. O trabalho, apresentado na Reunião
Anual da Sociedade para o Estudo do Comportamento Ingestivo (SSiB), nos EUA,
sugere que as preferências alimentares de um indivíduo são moldadas bem cedo,
mesmo antes do nascimento.
Os recém-nascidos de espécies diferentes
reagem ao sabor doce demonstrando expressões faciais de prazer, tais como mexer
a língua e chupar o dedo. Essas respostas estão relacionadas a atividades em
regiões do cérebro que respondem ao prazer e à recompensa.
No estudo, filhotes de ratos descendentes
de fêmeas que experimentaram desnutrição (e, portanto, tiveram crescimento
intra-uterino restrito) receberam uma gota de solução de sacarose (açúcar) ou
água em seu primeiro dia de vida. Quando comparados aos controles, os
recém-nascidos cujas mães haviam sofrido com a falta de nutrientes demonstram
uma resposta mais intensa e prolongada ao açúcar.
Vários estudos já demostraram, em
humanos, que fetos com crescimento restrito tornam-se indivíduos com tendência
a comer mais açúcar e gordura e menos frutas e vegetais. Ou seja, têm risco aumentado
sofrer doença cardiovascular, diabetes tipo 2 e aterosclerose na vida adulta.
A conclusão do estudo é que as
adversidades na gestação contribuem para o desenvolvimento dessas enfermidades.
"Esta abordagem translacional nos permite estudar diferentes sistemas que podem afetar as preferências
alimentares em indivíduos com crescimento intra-uterino restrito, que apontam
para metas de planejamento de intervenção", afirma a coordenadora do
estudo, Roberta Dalle Molle, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Como mais de 20 milhões de crianças
nascem baixo peso ao nascer
em todo o mundo anualmente, é de se considerar que parte deles terá doenças
crônicas na vida adulta.
O estudo foi financiado pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul, pelo National Counsel of
Technological and Scientific Development e pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.
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