O leite materno pode
ser a melhor nutrição para uma criança, mas dois estudos recentes estão mudando
o debate entre amamentar versus dar mamadeira, sugerindo que as mães, não
apenas os bebês, podem ganhar muito com a prática.
Uma pesquisa
descobriu que amamentar pode proteger as mulheres de um tipo particularmente
cruel de câncer no seio. A outra diz que dar o peito pode agir como uma espécie
de botão "recomeçar" para o metabolismo depois da gravidez, ajudando
as mulheres que tiveram diabetes gestacional a evitar que a doença continue.
As descobertas
complementam pesquisas anteriores mostrando que mulheres que amamentam têm
risco mais baixo de câncer de seio e ovários, de diabetes tipo 2 e de artrite
reumatoide. Amamentar também melhora a saúde cardiovascular e deixa a pressão
sanguínea mais saudável.
"Só tem
benefícios – e é bom para o bebê também", diz a doutora Eleanor Bimla
Schwarz, professora de Medicina da Universidade da Califórnia, em Davis. Ela
explica a importância da licença-maternidade paga, afirmando que uma pesquisa
anterior mostrou que, se a amamentação fosse quase universal nos Estados
Unidos, o país poderia eliminar cerca de cinco mil diagnósticos de câncer de
seio todos os anos e diminuir o número de ataques do coração em 14 mil.
"Serve para
todas as mulheres que querem fazer alguma coisa para diminuir o risco de câncer
no seio. Temos que ter certeza de que fará parte do debate."
Os últimos relatos
sobre os efeitos da amamentação no câncer de mama analisaram dezenas de estudos
abrangendo quase 40 mil casos da doença em todo o mundo. O estudo, publicado no
Annals of Oncology, descobriu que amamentar reduziu o risco de tumores de
hormônio receptor negativo, um tipo de câncer muito agressivo, em cerca de 20
por cento. Mesmo que a criança mame no peito por um período breve, o risco
desses tumores difíceis de tratar, que são comuns em afro-americanas e mulheres
mais jovens, diminui.
Lactação é importante em
maturação dos seios.
A doutora Marisa
Weiss, principal autora do trabalho, diz que a gravidez e a lactação são passos
importantes no longo caminho de maturação dos seios, com a segunda produzindo
mudanças nas células dos canais de leite que tornam as mamas mais resistentes
ao câncer.
"A glândula da
mama é imatura e incapaz de fazer seu trabalho – que é produzir leite – até que
passa por um bat mitzvah que é uma gravidez", compara Marisa Weiss.
"Amamentar força a mama a finalmente crescer e arrumar um trabalho,
produzir leite, aparecer no emprego todos os dias e todas as noites e parar de
brincar."
Mas as mudanças
fisiológicas da lactação vão além do seio. Alguns cientistas começaram a se
referir à amamentação como o "quarto trimestre" da gravidez que
completa o ciclo reprodutivo, restaurando o corpo da mulher para a saúde
metabólica e cardíaca de longo prazo.
Mulheres que
desenvolvem diabetes relacionada à gravidez, e que têm sete vezes mais chances
do que o normal de continuar com a doença depois do parto, são tipicamente
encorajadas a amamentar, porque a lactação melhora o metabolismo da glicose e a
sensibilidade à insulina. Fazer o bebê mamar também incentiva o metabolismo de
lipídios, queima calorias e mobiliza as reservas de gordura que foram
acumuladas durante a gravidez (embora isso nem sempre leve a uma grande perda
de peso).
Diabetes.
Mas os médicos
disseram não ter certeza se deixar o bebê mamar no peito diminui as chances de
as mulheres desenvolverem diabetes de longa duração. Para testar essa
possibilidade, pesquisadores identificaram 1.010 mulheres que desenvolveram
diabetes gestacional e as monitoraram de perto por dois anos depois do
nascimento. Elas vinham de realidades diversas: um terço tinha antecedentes
asiáticos; um terço, hispânicos; cerca de 9 por cento eram negras; e 25 por
cento, brancas.
Das 959 que foram
avaliadas, 113 – ou cerca de 12 por cento – desenvolveram diabetes tipo 2. Mas,
aquelas que amamentaram cortaram o risco pela metade, e quanto mais tempo seus
bebês mamaram no peito e mais elas apostaram em seu leite ao invés de dar
fórmula aos filhos, maior foi a diminuição do risco.
Aquelas que
amamentaram por mais de dez meses cortaram o risco de diagnóstico de diabetes
em cerca de 60 por cento nos dois anos em que foram acompanhadas pela pesquisa.
Das 205 mulheres que apenas amamentaram e não usaram fórmula nos dois meses
primeiros da vida do bebê, 17 – ou 8 por cento – desenvolveram diabetes,
comparadas com 27 mulheres – ou 18 por cento – das 153 que não amamentaram e
usaram apenas fórmula. O estudo foi publicado recentemente no Annals of
Internal Medicine.
"A gravidez é um
desafio metabólico", explica Erica P. Gunderson, que conduziu o estudo e é
pesquisadora do Kaiser Permanente Northern California. Durante a lactação, os
níveis de glicose estão mais baixos e há menos demanda por insulina, diz ela.
"Uma das explicações biológicas possíveis é que isso dá às células beta
pancreáticas da mulher um pouco de tempo, permitindo que se recuperem das
demandas da gravidez", completa.
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