A retomada da vida sexual na fase pós-parto costuma ser um momento
assustador para uma parcela significativa das mulheres.
Afinal de contas, a profusão de hormônios circulando no organismo costuma
afetar a lubrificação vaginal, tornando a penetração, em alguns casos, difícil
e dolorosa. É claro que, com calma, uma sessão gostosa de preliminares e um
frasco de lubrificante íntimo à base de água, tudo pode se desenrolar de
maneira mais tranquila.
A alteração hormonal influencia diretamente na libido. "No
pós-parto, a prolactina, que é o hormônio que possibilita a amamentação, pode
inibir o desejo físico e emocional da mulher, que, evidentemente, está com a
atenção quase toda voltada ao bebê", explica a psicóloga e sexóloga Rosely
Salino, que também atua como terapeuta de casal, de São Paulo (SP).
"Algumas conseguem voltar à frequência sexual após três meses, mas vemos
casos que podem alcançar um ano. A nova rotina, a falta de sono e o cansaço
dificultam esse retorno".
É preciso ter paciência e lembrar que alimentar o bebê exclusivamente com
o leite materno é uma orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde) para que
a criança se desenvolva bem. Amamentar também despende energia, o que aumenta
ainda mais a fadiga. Portanto, o casal tem que encarar a situação com diálogo. E,
à medida que forem retomando as transas, os dois precisam lidar com
naturalidade com a situação -- porque, respondendo à pergunta que dá título à
reportagem, é possível, sim, conciliar amamentação e sexo.
Novos papéis.
"Um dos passos fundamentais para isso é ambos compreenderem que os
papéis que exercerão em suas vidas terão espaços, tempos e funções diferentes,
ou seja, na hora do relacionamento sexual, a principal função ali não é de pai
ou mãe, e sim de namorados", fala a psicóloga Denise Figueiredo, sócia-diretora
do Instituto do Casal, em São Paulo (SP). Enquanto a mulher não se sentir
segura nem à vontade para transar, o casal pode investir na intimidade de
várias formas: ficando só nas preliminares, trocando carícias, tomando banhos
juntos, através de massagens etc.
Como os seios são uma zona erógena, é possível que por causa dos
estímulos aconteça um vazamento de leite durante a transa. Se os dois estiverem
cientes disso, a situação não provocará desconforto nem alarde. "O jorro
do leite, para casais que já tinham pouca intimidade sexual, pode causar
afastamento. No geral, porém, as pessoas lidam bem com a novidade, incorporando
em muitos casos até como uma fantasia.
Aleitamento adulto.
O aleitamento adulto é muito praticado, mas ainda considerado um tabu.
Não há nenhum problema se o parceiro quiser experimentar o leite, desde que a
mulher se sinta confortável com a prática", observa Rosely, que avisa que
a brincadeira de mamar na parceira não causa danos à criança." A única
coisa que pode ser prejudicial à criança é quando a prática se torna uma
parafilia e o parceiro acaba exagerando e deixa o bebê sem alimento",
pondera.
Uma boa higiene, no entanto, é necessária. De acordo com o ginecologista
e obstetra Vamberto Maia, diretor da rede Clínica Mãe, os seios são muito
suscetíveis a machucados, infecções e feridas. "Ao se colocar a boca no
seio, bactérias são trocadas. E isso pode ser perigoso para o bebê, que ainda
tem poucas defesas", diz. Portanto, depois da transa é preciso limpar bem
a região com água e sabonete líquido neutro.
Usar o seio para alimentar o bebê e usá-lo como uma região erótica
envolvem prazeres completamente distintos. No entanto, para algumas mulheres a
vivência dessas experiências pode provocar conflito e até culpa. "O
autoconhecimento é muito importante nesse momento, para que ela possa definir o
que a faz feliz e realizada.
Na amamentação é
possível engravidar, sim.
A maternidade não deve ser encarada como um problema ou algo limitante na
prática sexual. Se ainda assim a mulher se sentir confusa ou culpada, é
essencial que procure um sexólogo que a ajude a entender seu momento e a
retomar a vida sexual com qualidade, confiança e segurança", fala Rosely.
Logo após o nascimento do filho, é essencial que o casal converse com o
ginecologista sobre os métodos contraceptivos. Antigamente, havia uma crença de
que mulheres amamentando não podiam engravidar, mas ela já caiu por terra.
Para evitar uma nova gestação indesejada, é bom pensar em alternativas
como camisinha ou DIU (dispositivo intrauterino). "Outra opção são pílulas
anticoncepcionais contendo apenas progesterona. Contraceptivos combinados com
estrogênio e progesterona não são recomendados pela possibilidade de o
estrogênio ser absorvido pelo bebê via leite materno", explica Vamberto.
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