domingo, 4 de outubro de 2009

UM DILEMA PARA O GOVERNADOR...

FONTE: Ivan de Carvalho (TRIBUNA DA BAHIA).

O governador Jaques Wagner é brasileiro, de maior, vacinado. Ele poderia aderir a opinião nada justificada de alguns, no sentido de que “roupa suja se lava em casa”, o que seria, além de uma desculpa para não falar do assunto, uma espécie de repreensão ao líder do PT na Assembleia Legislativa por ter feito o espetacular discurso sobre o “aparelhamento” da Bahiapesca por Mário Negromonte Filho, dirigente da empresa, candidato a deputado estadual e filho do presidente do PP na Bahia e líder do partido na Câmara dos Deputados, Mário Negromonte.Mas não creio que o governador venha a aderir à filosofia de que “roupa suja se lava em casa”, quando há, do seu líder na Assembleia Legislativa, denúncias de que uma empresa pública está sendo eleitoralmente “aparelhada” e de que nesse aparelhamento o líder inclui a compra, a uma empresa privada, de serviços ou produtos por preços duas vezes maiores que os de mercado. Aí já entra em jogo (ou sai pelo ralo) o dinheiro do contribuinte e não pode prevalecer a tese de que roupa suja há de ser lavada em casa. Porque roupa pública há sempre que ser lavada bem no meio da praça. São as exigências da transparência, que o governador sempre faz questão de proclamar e valorizar.Vale assinalar, embora a memória dos leitores a este respeito ainda esteja fresca, que o PP foi atraído recentemente para a base política e parlamentar do governo Wagner e para a aliança eleitoral que deve sustentar a candidatura do governador à reeleição. O PP tem atualmente no governo o secretário da Agricultura (deputado estadual Roberto Muniz) e o secretário da Infraestrutura (deputado federal João Leão) – duas secretarias importantes – além de outros representantes de não tanta relevância na administração, como é o caso de Negromonte Filho no comando da Bahiapesca.Bem, deixemos desta vez aos bastidores o que se haja passado nos bastidores – sem levar em conta rumores de que o governador teria sido informado antecipadamente da intenção do líder petista de fazer o discurso e vamos nos concentrar no dilema que tal pronunciamento – feito da tribuna da Assembleia Legislativa para perplexidade geral – põe diante do governador.Antes, note-se que o líder Paulo Rangel mirou no coração do importante partido aliado ao atacar o filho-candidato do presidente estadual e líder da bancada nacional do PP na Câmara dos Deputados. Mirou também no coração do governo, porque a oposição tem batido sem parar na tecla de que o PT “aparelhou” a administração estadual. Agora vem o líder petista e diz que o PP “aparelhou” a Bahiapesca, que é um segmento dessa administração. É como se confirmasse que o “aparelhamento” está liberado. E o governador, que não há de concordar com isto, não pode omitir-se nesse momento de uma pontual, mas aguda crise no seu governo, envolvendo questões éticas.Qual o dilema em que está o governador? É simples. 1) Pedir ao seu partido – e ele teria não só poder como justificativa política e ética para isto – que substitua o deputado Paulo Rangel na liderança, devido a acusações graves e injustas a um integrante do governo que representa importante partido aliado; 2) Demitir Mário Negromonte Filho do comando da Bahiapesca, sem deixar de mandar instaurar o competente processo administrativo e dar-lhe as consequências administrativas e judiciais cabíveis.O governador não pode (não deve) adotar qualquer das duas medidas sem adquirir antes a certeza sobre a veracidade ou não das denúncias do líder do PT e, consequentemente, sobre a inocência ou não de Mário Negromonte Filho. Mas é legítimo esperar que uma investigação informal (estamos falando em função de líder parlamentar e em cargo de confiança), mas eficaz, não seja demorada.

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