terça-feira, 5 de janeiro de 2010

DITADURA JAMAIS...

FONTE: Janio Lopo (TRIBUNA DA BAHIA).

Em absoluto comungaria com a ideia de passar uma borracha no passado e deixar as ondas fluírem conforme a velocidade do vento. No artigo de ontem critiquei o secretário nacional de Defesa dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, por querer retornar ao passado e promover uma espécie de reconstituição dos mais de 20 anos de ditadura militar, colocando as Forças Armadas como alvo a ser investigado. Ponderei apenas se há, efetivamente, episódios novos que justifiquem a retomada de um processo cujas sequelas ainda estão no seio da parcela da sociedade mais massacrada pelo arbítrio. Se houver, ótimo.
Há muito deixamos de ser reféns dos homens de farda por conta de nossas posições políticas. Não há o que temer. Aliás, diria que os dois lados que estiverem em confronto direto não têm motivo para ver assombrações. Se há – e há – arquivo para ser aberto e que pode esclarecer enes casos de torturas, assassinatos e desaparecimento de pessoas, vamos trabalhar redobrado para que conheçamos logo o seu conteúdo. O governo legítimo que está não fará nenhum favor em escancarar os documentos secretos da era militar. O brasileiro, independentemente daqueles perseguidos ou não pelo regime duro, tem sede da verdade.
Não será escondendo-a que teremos uma sociedade mais justa. Ao contrário, teremos uma sociedade constantemente medrosa. Medrosa e imatura. Ora, devemos sepultar qualquer tipo de retrocesso. Acredito que os próprios militares não estão – ou pelo menos não deveriam estar- temerosos com revelações por mais cruéis que elas sejam. De uma forma ou de outra, elas fazem parte da nossa história. Destruí-las seria um crime. Necessitamos ter a visão exata do que ocorreu e do que está acontecendo para que possamos conviver com um passado de agouros, um presente maduro e compreensível e um futuro verdadeiramente democrático, com instituições livres e sólidas.
Tínhamos, de um lado, uma juventude sedenta por liberdade. Essa juventude assistiu seus sonhos escaparem ralo abaixo graças às ações violentas de um regime de exceção, de uma ditadura sangrenta. Mas, mesmo assim, enfrentou os fuzis, os cacetetes, os choques elétricos, as noites escuras e tenebrosas. Noites que jamais amanheceram para muitos daqueles idealistas. Hoje, restabelecido o Estado de direito, cabe a ambas as partes recorreram a favor do que consideram justo e digno.
Aos militares contrários à abertura dos arquivos da época ditatorial, resta apelar ao Supremo Tribunal Federal contra a abertura de uma cortina que parecia já estar fechada. Aos civis restam também os caminhos jurídicos para que saibamos o que porventura esteja ainda acumulado nos tapetes dos órgãos repressores de então. Esse é o jogo democrático. A nenhum dos lados é dado o direito de ferir as leis ou burlá-las. Ditadura, jamais. Seja civil ou militar.

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