FONTE: Ivan de Carvalho, TRIBUNA DA BAHIA.
1. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o cantor e compositor baiano Caetano Veloso, que apoia declaradamente a candidatura de Marina Silva, do PV, a presidente da República, compôs uma bela composição política para sustentar a importância, para o país, da realização de segundo turno nas eleições presidenciais. Mesmo entendimento que, sem a mesma inspiração, já expressei aqui neste espaço, pelas razões que alinhei na ocasião, aliás, muito recente.
Caetano Veloso tem suas próprias razões, das quais, aliás, não discordo. Muito pelo contrário. “Eu torço para que tenha segundo turno. Porque o tom que Lula e Dilma estavam na campanha, ela insuflada por ele, era um pouco desmedido. E até irrealista. Eufórico demais. Não era bom. Não era bom que fosse uma eleição no primeiro turno, e uma presidente fosse empossada nesse tom”, disse o compositor.
E explica com absoluta clareza seu raciocínio. Em sua opinião, a realização de segundo turno daria “uma sensação de que há críticas, há gente de olho, há dúvidas na sociedade, que a vida é mais complexa. Aquele negócio de Lula pensar que pode dizer tudo quando chega no comício não é bom. Se a eleição se definisse nesse tom, seria um sintoma de que o Brasil realmente estaria em uma regressão populista primária, que eu suponho que o Brasil não tenha mais idade para estar”.
Creio que é exatamente isto e mais alguma coisa.
Creio que é exatamente isto e mais alguma coisa.
A vitória em primeiro turno de uma candidatura simplesmente inventada pelo presidente Lula – beneficiados ambos pela imensa popularidade deste último e pela boa avaliação que a grande maioria do eleitorado faz do governo – daria ou dará a impressão de que não existe nem existirá barreira, oposição a qualquer coisa que venha a fazer, se vencedor em primeiro turno, o futuro governo do PT e aliados – estes, talvez, com o tempo, tornando-se perfeitamente descartáveis.
O segundo turno, como observou Caetano Veloso – que, pelo que tem dito ocasionalmente, parece ter consciência política mais bem formada e acurada do que a grande maioria dos políticos brasileiros – será ou seria capaz de mostrar, se vitoriosos, como quase certamente seriam, os atuais governistas na segunda fase do pleito, que há oposição, há resistência, há divergência democrática, há barreiras e diques contra eventuais malfeitorias, a exemplo de algum populismo autoritário.
Até porque populismo autoritário é coisa muito em moda na América do Sul e ligeiramente ensaiada em alguns recentes momentos da campanha eleitoral no Brasil, sob a regência do presidente da República, como diz ele, fora da “hora do expediente”, como se presidente da República tivesse dispensa do expediente em algum momento sem passar o cargo ao vice.
2. O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro César Peluzo, disse tudo em poucas palavras, ao votar pela manutenção legal da exigência de dois documentos (o título eleitoral e um documento oficial com fotografia) para votar.
Ao decretar, por ampla maioria (oito votos contra dois) que, apesar de obrigatório o título, o eleitor pode votar sem ele, apenas com um documento com foto, o STF estava determinando “a extinção do título de eleitor”.
O título de eleitor ainda não foi sepultado. Mas já está morto. Você não precisa se preocupar em procurá-lo no fundo do baú. Pegue sua cédula de identidade, vá e vote.
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