quarta-feira, 20 de outubro de 2010

PORTO, BARRACA, CAVALO E LIVRO...


Tem coisas que só acontecem na Bahia e não adianta querer tapar o sol com a peneira. Agora com as barracas no chão da Ribeira ao Flamengo, a multidão (ou mortidão como insiste em dizer o porteiro do meu prédio que não gosta de suburbano, embora more no Mirante de Paripe), está se chegando toda para o Porto da Barra e Farol da Barra.
O domingo passado foi uma loucura. Não dava para andar nas outroras pedras portuguesas (hoje não tem mais. Tem é cimento brabo e uns nacos de granito a título de ilustração). As balaustradas em pensei que fossem cair, tanto era o número de pessoas empoleiradas. Li em algum lugar que no domingo anterior ao feriado de Nossa Senhora, foi tanta gente no Porto da Barra que a delegacia do bairro registrou exatas 200 ocorrências. Uma delas foi da baiana do acarajé que pirou de vez e pegou um tacho de azeite e ameaçou jogar nuns turistas que insistiam que o abará estava cru.
Claro que o aumento do número de banhistas numa praia tão pequena gera confusão. Um maluco saiu correndo, deu um voo em direção ao mar e acertou a cabeça de uma criança, que saiu desmaiada. Pior foi quando uma pessoas sofreu assalto, correu para o policial que estava a cavalo e pediu socorro. Segundo eu li, o soldado disse que não podia ir atrás do bandido, vez que não tinha quem tomasse conta do cavalo. O assaltado disse: - Carregue nas costas! – e foi embora com o prejuízo.
O mundo é mesmo uma loucura. Isso já na ótica de Erasmo de Rotterdam. Tal é a desordem que ela gravita em todas as eras, em suas devidas proporções e com seus elementos próprios. Dentro da velocidade conceitual da insanidade essencial não cabe a distinção imediatista do bem e do mal. Assim é que Scott Fitzgerald (1896 – 1940), um dos maiores escritores norte-americanos caiu nas teias daquilo que se classificou como “geração perdida” da literatura ianque do início do século XX.
Uma das suas obras mais emblemáticas acaba de sair pela José Olympio Editora. Um relançamento que não era esperado, mas que chega com uma preciosa tradução de Brenno Silveira. “Seis Contos da Era do Jazz” reúne o que de melhor pode ser apresentado por Fitzgerald. Obra escrita em 1922 reunindo aquilo que consagrou o autor.
A Era do Jazz é o momento do frenesi que os Estados Unidos viviam naquele período de redescoberta, de crescimento econômico, de abertura cultural. Uma geração saída do núcleo de um vulcão que foi a Primeira Guerra Mundial. Ainda aturdida pela turbulência. Cada um em busca do bom da vida. O plus. Cada momento como se fosse o último.
Entrava-se na modernidade, com as mulheres galgando posições no mercado de trabalho; os intelectuais produzindo aos borbotões e tudo sob o manto da boa música incidental. Do Jazz. Foi neste cenário aturdido e insólito que vicejou a obra de Fitzgerald e o livro que ora está sendo oferecido traz o anima do período. Seus personagens em cada conto são homens de sucesso, boas vidas, mulheres insatisfeitas x maridos apáticos. O autor mesmo diz que “Todos os meus personagens são Scott Fitzgerald, até as mulheres são Scott Fitzgerald”.
Chama a atenção na coletânea o conto “O curioso caso de Benjamin Button”, que serviu de inspiração para o filme de David Fincher que teve 13 indicações para o Oscar e ganhou de melhor efeito visual (Brad Pitt era o personagem). É a história de um homem que nasce velho e vai remoçando, deixando a experiência de vida a cada ano regresso, galgando a total inocência. Um fluxo contrário e que o autor domina, manipula e conduz de forma soberba.
Fitzgerald trata de expor de forma não linear e com forte conteúdo emocional a densidade de uma época especial, onde as mudanças se davam em todo estágio da sociedade. Uma era de grandes feitos econômicos - que iria sofrer um forte abalo com a crise econômica de 1929 -, e cultural: ele era um dos destaques. O livro traz ainda belas histórias como “O Boa-vida”, “As costas do camelo, “O Resíduo da felicidade” e outras”. A obra de Scott Fitzgerald é um caso Button. Viceja.

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