FONTE: Odília Martins, TRIBUNA DA BAHIA.
Dados de centenas de pacientes atendidos no Hospital Antonio Firmo Leal, em Ibirataia, a 337 quilômetros de Salvador, foram usados para forjar procedimentos médicos. Atendimentos eram adulterados dando origem a cirurgias e internamentos fantasmas. Dessa forma, a unidade filantrópica recebia ilegalmente verba federal do Sistema Único de Saúde (SUS).
O episódio veio à tona quando o número de infecções chegou a sinalizar um surto a ponto de o município ser apontado como o quinto no Estado por internamento no tratamento de doenças infecciosas. Embora as secretarias municipal e estadual de saúde e o Ministério da Saúde tenham realizado auditoria no ano passado, a fraude continua acontecendo.
O fato chamou a atenção da Secretaria Municipal de Saúde de Ibirataia, que, ao verificar as fichas de internamento através de entrevistas com os pacientes, descobriu que o motivo pelo qual deram entrada no hospital era completamente diferente do que constava no prontuário médico.
“Havia paciente que teve uma simples gripe e constava no registro como infecção. Como havia também um número muito alto de cirurgias cardíacas, fomos averiguar essa relação e para nossa surpresa o funcionário que olhava se deparou com o nome da própria mãe”, disse o ex-secretário Cidy Clei Câncio Lima, que ocupava o cargo na época em que a fraude ocorreu (em 2008), e atualmente é coordenador de atenção básica.
Já o funcionário Fábio Nery, que é técnico em Tratamento Fora de Domicílio (TFD) e coordenador do CPD, ficou pasmo. “Foi uma surpresa. Minha mãe tem problema de pressão e ela apenas esteve no hospital, tomou um comprimido e foi embora pra casa.
O nome dela estava na relação de pacientes cardíacos e me deparei com a adulteração do laudo, constando quadro clínico como se ela tivesse sofrido um infarto do miocárdio”. Por conta disso, a análise dos dados dos pacientes passou a ser geral.
Numa amostra de 300 fichas de internamento foram constatadas 216 fraudadas por diversas irregularidades.
“Os registros revelavam um número alto de derrame e infarto na cidade. O número de infecção intestinal, por exemplo, que originou a apuração dos laudos, foi superior ao dobro de um ano para o outro, conforme Cidy.
“Em 2007, quando a cidade chegou a ser a quinta no Estado por internamento no tratamento de doenças intero-infecciosa, ocorreram 378 internamentos.
Em 2008, os registros subiram para 856 internamentos por infecções”. A diversidade de procedimentos fantasmas foi destacada pelo atual secretário de saúde de Ibirataia, Victor Fair Luedy. “Dentre as irregularidades, muitas cirurgias de reconstrução de vagina.
O detalhe é que no hospital não existe nenhum cirurgião plástico para que este procedimento pudesse ser feito”.
Para cada cirurgia de reconstrução de vagina “é pago em torno de R$ 400 a R$ 500. Aliados à requisição de cirurgias, mais R$ 500 são liberados para custear o internamento”, segundo o ex-secretário Cidy.
Nenhum comentário:
Postar um comentário