FONTE: Anahad O'connor, Do The New York Times (noticias.uol.com.br).
Cerca de 28 milhões de americanos têm apneia do sono, o que provoca despertares repetidos e pausas na respiração durante a noite, muitas vezes resultando em roncos altos e arfadas. Há décadas, o tratamento padrão tem sido a "pressão positiva contínua nas vias aéreas" (CPAP), uma máscara usada durante a noite que empurra o ar em direção às fossas nasais, permitindo facilitar a respiração.
A CPAP reduz e em alguns casos previne totalmente episódios de apneia. Mas a máscara parece ter saído de um filme ruim de ficção científica: ela é grande, volumosa e intrusiva. Muitos pacientes simplesmente se recusam a usá-la ou a arrancam durante o sono. Estudos mostram que cerca de metade de todas as pessoas que são orientadas a utilizar máquinas de CPAP param de usá-las em uma a três semanas.
"Para muitas pessoas, a máquina de CPAP se transforma em um trava-porta", diz Joseph Golish, ex-chefe de medicina do sono da Clínica Cleveland. "A CPAP é muito eficaz no laboratório do sono. Mas quando as pessoas vão para casa, há grande chance de que elas não a usem, e o êxito obtido com uma máquina de CPAP não utilizada é absolutamente nulo."
Agora, uma forma alternativa ao CPAP está ganhando popularidade: um emplastro que se ajusta sobre as narinas. Com nome de Provent, o emplastro tem dois plugues pequenos, um para cada narina, que criam pressão de ar suficiente para manter as vias aéreas abertas durante a noite. Ele é muito menos intrusivo do que a máquina de CPAP tradicional. É também mais caro, e não funciona para todos os pacientes
Aprovado pela FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos) em 2008, o Provent se espalhou principalmente de boca em boca. Mas se tornou conhecido rápido. Seu fabricante, o Ventus Medical, afirma que vendeu 1 milhão de dispositivos nos últimos 12 meses, em comparação a um total de meio milhão nos dois anos anteriores. Para os médicos, o emplastro representa uma nova arma, segundo eles, na luta contra a apneia do sono, e muitos pacientes que encontraram dificuldades com a CPAP o consideram um presente divino.
Bob Bleck, que é dono de uma empresa de redes de computadores em Ohio, lutou por décadas contra o sono e a fadiga crônica. Mas foi apenas há um ano e meio que ele finalmente recorreu a uma clínica do sono, estimulado por sua esposa, que se preocupava com seu roncar intenso.
O diagnóstico foi de apneia do sono grave. Os testes mostraram que em uma noite típica, Bleck, de 47 anos, acordava ou parava de respirar 42 vezes por hora.
O médico receitou uma máquina de CPAP, e Bleck a odiava. "Eu me sentia sufocado", disse ele. "E essa sensação era combinada a sonhos nos quais eu estava amarrado, como no filme 'Alien'. Era mais difícil dormir com aquela coisa do que passar a noite com apneia."
Bleck se livrou da máquina após descobrir o Provent. "Depois que comecei a usá-lo, notei uma diferença de imediato", afirma. "Meus sintomas diminuíram drasticamente."
COMO FUNCIONA.
O Provent funciona como uma máquina de CPAP tradicional, mas tem apenas uma fração do tamanho. Quando as pessoas com apneia adormecem, os músculos de sua garganta entram em colapso, constringindo as vias aéreas e levando o corpo a lutar para obter ar. As máquinas de CPAP usam uma pressão de ar suave para impedir que as vias aéreas se constrinjam.
O Provent também faz isso, mas de uma maneira diferente. O dispositivo contém dois orifícios do tamanho de válvulas, um em cada narina. As válvulas permitem que o ar entre facilmente – a maioria das pessoas respira através das narinas durante o sono – mas há resistência quando o usuário expira. Essa resistência cria uma contrapressão nas vias aéreas, dilatando os músculos que de outro modo entrariam em colapso no meio da noite. Pela manhã, o emplastro é removido; a cada noite, usa-se um novo.
No ano passado, em um grande estudo que envolveu 250 pessoas que sofriam de apneia do sono, publicado pelo periódico médico Sleep e subsidiado pelo Ventus, pesquisadores revelaram que aqueles que usaram dispositivos Provent ao longo de um período de três meses vivenciaram uma queda drástica em seus episódios de apneia, em comparação com as pessoas que receberam um dispositivo simulado ou placebo. Um estudo seguinte acompanhou pessoas ao longo de um ano e teve resultados semelhantes.
Porém, nem todo mundo que tem apneia se sente aliviado com o Provent. Em entrevistas, especialistas do sono afirmam que pelo menos um terço dos pacientes acabam não o utilizando.
BOM PARA ALGUNS.
"Ele funciona muitíssimo bem para algumas pessoas e não funciona para outras", diz Nancy Appelblatt, cirurgiã otorrinolaringologista de Sacramento, Califórnia, que o receitou para cerca de 100 pacientes. "Nem toda apneia do sono se desenvolve da mesma forma".
Algumas pessoas, por exemplo, respiram pela boca durante a noite, e não pelas narinas. Para elas, o Provent normalmente não funciona. Também não deve funcionar muito bem em alguém com graves alergias nasais que tenha nariz entupido à noite, disse um dos líderes dos estudos acerca do Provent, Meir H. Kryger, professor da Faculdade de Medicina de Yale e fundador da Fundação Nacional do Sono.
Ao contrário da CPAP, o Provent não é coberto pelo Medicaid e pelas seguradoras mais importantes, embora alguns médicos afirmem que esperam que isso mude em um futuro próximo. Entretanto, um suprimento de 30 dias dos emplastros custa de 65 a 80 dólares.
Lee A. Surkin, cardiologista e especialista em medicina do sono de Greenville, Carolina do Norte, conta que os pacientes normalmente começam com um pacote de teste de 10 dias que custa 10 dólares. Ele receitou Provent a cerca de 300 de seus pacientes.
"A principal razão pela qual as pessoas não continuam a usá-lo é que elas têm que pagar do próprio bolso por ele", disse ele.
Por enquanto, Kryger e outros dizem que a CPAP continuará a referência universal, e certamente a primeira opção para pacientes com apneia grave. Mas para os cerca de 50 por cento dos pacientes para os quais a CPAP não funciona, o Provent pode ser uma alternativa confiável.
Surkin disse que alguns pacientes utilizam a CPAP em casa, mas levam seus emplastros de bolso Provent quando viajam para evitar o incômodo de carregar uma máquina pelos aeroportos.
"Para mim, é um milagre", disse Joyce Nemoga, de 64 anos. Nemoga vive em Baldwin Harbor, Nova York, e tem apneia moderada, o que a leva a roncar e engasgar durante o sono. Ela experimentou a CPAP, mas não conseguia dormir confortavelmente com o dispositivo.
"Toda vez que a pessoa se vira, tem que levar a mangueira com ela", disse ela. "Eu tentei usá-la por seis meses, e acho que não consegui dormir por uma noite inteira nenhuma vez durante esse tempo todo."
Um médico sugeriu Provent e Nemoga teve resultados rápidos. "Estou muito feliz por tê-lo encontrado", comemora.
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