quarta-feira, 13 de junho de 2012

ARTIGO DENUNCIA MANIPULAÇÃO DE PESQUISAS COM NOVAS DROGAS...



FONTE: DÉBORA MISMETTI, EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE" (www1.folha.uol.com.br.

A "tortura" de dados para obter resultados favoráveis em estudos sobre medicamentos novos no mercado é uma prática comum dos laboratórios, segundo denúncia publicada ontem no "British Medical Journal".

De acordo com o autor, um ex-funcionário de um grande laboratório que escreveu sob anonimato, os estudos realizados após a aprovação das drogas têm como objetivo alavancar as vendas dos produtos, e não determinar sua segurança de uso.

O artigo foi publicado junto com análise de estudos pós-venda de alguns remédios contra diabetes tipo 2.

Esse tipo de pesquisa é feito quando a droga está no mercado e, portanto, já passou pelas três primeiras fases de teste, necessárias para que o remédio possa ser vendido.

Depois disso, são feitos estudos de fase 4 ou observacionais, que analisam o desempenho da droga na "vida real", sem as intervenções dos cientistas e os controles das pesquisas laboratoriais.

                         

De acordo com o reumatologista Marcelo Schafranski, autor do livro "Medicina - Fragilidades de um modelo ainda imperfeito" (Ed. Schoba), a análise pós-venda é importante para avaliar o peso dos efeitos colaterais e o custo-benefício das novas drogas.

Mas faltam regras para controlar a metodologia desses trabalhos, muitas vezes patrocinados e elaborados pelas próprias fabricantes dos remédios. "Os resultados publicados são escolhidos após a coleta dos dados. São selecionados desfechos favoráveis para o fabricante do remédio, em vez de resultados como número de mortes ou internações em UTI. Do jeito que está, esse tipo de estudo não tem credibilidade."

Segundo a análise feita por Edwin Gale, professor na Universidade de Bristol, sobre estudos de análogos da insulina conduzidos pelos laboratórios Novo Nordisk, Eli Lilly e Sanofi, falta rigor científico nos trabalhos.

Um dos estudos, com mais de 66 mil pessoas, acompanhou os voluntários por 18 meses (quando o ideal para esse tipo de pesquisa são cinco anos) e exigia como comprovação de efeito colateral (hipoglicemia) um exame laboratorial. Com isso, foram registrados pouquíssimos desses eventos, dando aparência de vantagem da nova droga sobre a antiga.

De acordo com o texto publicado pelo ex-funcionário da indústria, além de mexer nas estatísticas, os laboratórios permitem que o departamento de marketing acompanhe todas as etapas dos estudos. O grande número de pacientes participantes serve, segundo ele, para disseminar a prescrição do novo remédio entre os médicos.

"Levávamos [médicos] para os melhores hotéis e restaurantes durante as reuniões. Depois, atuavam como 'embaixadores', dando conferências, ensinando médicos e falando com a mídia sobre os benefícios da droga."

OUTRO LADO.

As empresas citadas nos artigos do "British Medical Journal" responderam por meio de nota aos questionamentos publicados.

O laboratório Sanofi afirmou que acredita que os ensaios clínicos devem contar com objetivos científicos claros "para ampliar a base de evidências em prol dos interesses dos pacientes".

Segundo o comunicado, esse princípio é aplicado em todas as pesquisas conduzidas pela empresa. A Sanofi diz ainda que os estudos atendem aos quesitos éticos e regulatórios do Brasil.

"No país, foram e são realizados estudos de alto grau de evidência científica, visando ao melhor controle do paciente com diabetes."

A farmacêutica Eli Lilly afirmou que "não realiza pesquisas médicas com a intenção de que a condução do estudo aumente as vendas de um medicamento".

A empresa disse ainda que continua comprometida com a realização de pesquisas de impacto e relevância, que respondam a questões científicas e clínicas.

A Novo Nordisk disse que seus estudos clínicos estão "100% alinhados" com regras estabelecidas pelas agências regulatórias de cada país.

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