FONTE: TRIBUNA DA BAHIA.
Maquiagem, agentes químicos constantes na fórmula de protetores solares, pólen e ácaros são alguns dos vetores das alergias oculares.
Esses incômodos, que deixam os olhos irritados, vermelhos e coçando, decorrem de uma hipersensibilidade do organismo a determinadas substâncias, chamadas alergenos, e devem ser considerados mais do que um simples desconforto.
A alergia ocular, especialmente em adolescentes, pode evoluir para um quadro de ceratocone, que causa uma deformidade na córnea e desencadeia problemas de visão.
“Ocorre que nesta fase da vida a córnea ainda está maleável e suscetível às deformações causadas pelo ato de coçar os olhos”, alerta o oftalmologista especializado em doenças externas do Hospital Oftalmológico de Brasília, Victor Saques Neto.
O ceratocone é silencioso e tem origem desconhecida, mas alguns fatores são determinantes. Por menor que seja o esforço desencadeado no ato de coçar, o trauma pode fragilizar a córnea, dando-lhe o formato de cone e diminuindo a capacidade de visão.
Uma em cada mil pessoas apresenta quadro de ceratocone. A maioria sequer sabe que é portadora. Pessoas que sofrem de alergia ocular, de asma, ou que já possuem registro de ceratocone na família, bem como jovens, principalmente na adolescência, se apresentam baixa visão e costumam esfregar os olhos, são potenciais pacientes da doença.
“Cerca de 80% destes pacientes têm entre 15 e 25 anos de idade”, comenta o oftalmologista.
Além do ceratocone, Saques Neto alerta que pacientes que não fazem o acompanhamento correto das alergias oculares podem apresentar úlceras, formação de placas e surgimento de vasos anormais na periferia da córnea.
Alguns casos podem evoluir para ceratites (inflamação da córnea) causadas por bactérias ou por vírus. Todas estas complicações são potencialmente graves e podem levar à diminuição da quantidade e qualidade de visão.
O especialista do HOB observa que quando se fala em alergia ocular, na maioria das vezes, refere-se à conjuntivite alérgica, “uma vez que a manifestação da alergia se dá na conjuntiva, a película fina que reveste a superfície ocular. As exceções são as alergias palpebrais (blefarite alérgica), que se manifestam nas pálpebras e quase não ocorrem isoladas das manifestações na conjuntiva”.
CAUSAS.
Apesar de não haver estatísticas oficiais, o especialista do HOB avalia que o volume de pacientes com o quadro de alergia ocular tem aumentado gradativamente.
A maior emissão de poluentes quer seja pelo crescimento do volume de carros circulando nas vias, ou pela liberação de gases tóxicos pelas indústrias nos grandes centros urbanos, aliada à exposição excessiva a equipamentos de ar condicionado, tem agravado o cenário e proporcionado um leve aumento nos casos de conjuntivite alérgica.
Nas épocas do ano em que a umidade do ar está mais baixa, este cenário se agrava e a procura por assistência oftalmológica é mais expressiva, conta Saques Neto.
TIPOS.
As formas mais comuns de apresentação das alergias são: a ceratoconjuntivite vernal e a ceratoconjuntivite atópica.
“A primeira é uma inflamação ocular, bilateral e recorrente, que pode ter ocorrência sazonal e afeta principalmente meninos e adultos jovens, geralmente após os cinco anos de idade, podendo ocorrer resolução espontânea do quadro na puberdade. A forma atópica é relativamente rara, porém potencialmente grave, tipicamente afeta homens jovens portadores de dermatite atópica”, explica Saques Neto.
“Ao contrário da conjuntivite vernal, a conjuntivite atópica perdura por anos e tem alto índice de complicações visuais. O quadro ocular é semelhante em ambas”, completa.
TRATAMENTOS.
As compressas frias são muito eficientes para diminuir a coceira. Quando esta solução não for suficiente, colírios especiais são utilizados no tratamento das conjuntivites alérgicas.
“É importante que um oftalmologista acompanhe o caso para evitar e tratar as possíveis complicações. Existem muitos tipos de colírios para o tratamento da alergia e alguns deles, como os esteroides corticoides, só devem ser receitados por profissionais capacitados, pois o uso incorreto pode ocasionar complicações sérias, como o glaucoma e a catarata precoce”, alerta o especialista do HOB.
Quando o quadro alérgico evolui para o ceratocone o tratamento é mais complexo. Mesmo assim, o ceratocone não tem cura nem a córnea volta a seu estado original.
Os tratamentos atualmente disponíveis, porém conseguem corrigir os altos graus de astigmatismo e reduzir a deformidade da córnea. “Os óculos e as lentes de contato rígidas diminuem o astigmatismo.
Outro tratamento é o anel intracorneano, no qual dois aros são posicionados na córnea para aplanar a superfície. Existe ainda o crosslink, procedimento que estabiliza alguns ceratocones, fortalece e enrijecesse a córnea.
A opção de transplante de córnea para correção de ceratocones mais agressivos, registra 90% de sucesso, mas depende da disponibilidade do órgão em bancos de córnea, explica o especialista.
DICAS.
Victor Saques enumera algumas dicas importantes para evitar o contato com os alergenos e desencadear as conjuntivites e blefarites alérgicas:
-- Não se expor ao alergeno
-- Em crise, procurar imediatamente o oftalmologista para identificar se o quadro é mesmo de alergia e receber a orientação médica mais adequada
-- Colocar tapetes, travesseiros e colchões periodicamente no sol
-- Manter o ambiente de casa sempre bem arejado
-- Lavar roupas guardadas por muito tempo, antes de utilizá-las
-- Procurar manter o filtro do ar condicionado sempre limpo.
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