FONTE: DÉBORA MISMETTI, EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE" (www1.folha.uol.com.br).
A aposentada Celina Maria Rubo, 71 anos, decidiu pôr no papel suas vontades para o fim da vida depois que a mãe faleceu, há três anos.
Ela escolheu um primo como responsável por decidir sobre um tratamento específico ao qual não quer ser submetida.
"Minha mãe teve obstrução intestinal há seis anos. O médico queria operá-la e nós [os filhos] achamos que ela não deveria passar por uma situação como essa no fim.
Ela teria seu intestino retirado, ficaria com aquela bolsinha (de colostomia). É horrível. Não deixamos. Ela viveu por mais três anos com boa qualidade de vida, foi tratada com remédio paliativo.
Depois, descobri que eu tenho o mesmo problema, uma obstrução parcial do intestino e diverticulite. Estava morrendo de medo de ser operada à minha revelia.
O médico disse: 'Se você chegar no hospital desmaiada, em coma, a gente opera'. Mas eu não quero! Achei que deveria haver um jeito de ter minha vontade cumprida.
Pode operar pulmão, coração, cabeça. Só não pode operar o meu intestino. Até o nome da cirurgia está determinado no documento.
O maior problema foi encontrar alguém responsável em caso da minha incapacitação. Meu filho não quis nem ver. Meu irmão também não, irmã, nem pensar. Sobrinhos também não.
Disseram que gostam demais de mim para falar da minha morte.
Meu primo acabou aceitando. Tem de ser uma pessoa com muita força para lutar contra o resto da família.
O documento ficou pronto na semana passada.
Deixei também uma poupança para a minha cremação. Estou preparando minha morte do jeito que tem que ser.
A gente tem de encarar a morte de forma racional. Não estou doente, cuido bem do meu intestino, meu médico é bom, mas acho que a gente tem de preparar o fim.
Temos uma cultura que tenta esquecer que a morte vem. A morte é a única coisa certa. Por que não preparar uma morte boa?
Vivemos bem, por que não morrer bem?"
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