FONTE: iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
O gestor de redes sociais Danilo Novais, 26
anos, é um entre muitos funcionários de uma agência de publicidade de São
Paulo. Sua orientação sexual nunca foi um problema em seu ambiente de trabalho,
mas uma coisa segue o incomodando: comentários e piadas que citam gays,
lésbicas e transgêneros.
“Ouço quase que diariamente. Não direcionadas
a mim especificamente, mas a gays em geral. O engraçado é que os caras sabem
que sou gay e me tratam numa boa, cumprimentam, mas vivem fazendo piadas do
tipo ‘não entendo como um cara consegue dar o cu’, e coisas assim”, desabafa o
jovem.
Incomodado, Danilo explica que já pensou em
confrontar os colegas de trabalho. “Tenho vontade de levantar e perguntar se
eles lembram que existe um gay ao lado deles. Ou então perguntar se as piadas
são pra mim. Mas confesso que não tenho coragem”, se resigna.
Gestor de redes sociais na agência, ele
explica que já reclamou para sua superiora, mas sua queixa não obteve resultado
positivo. “Minha chefe infelizmente não responde por esses funcionários do
núcleo. Mesmo sendo bastante firme, tendo chegado a recriminar os comentários e
o comportamento deles, notamos que o próprio chefe deles é conivente e não faz
nada a respeito.”
Segundo Magda Hruza Alqueres, diretora de
assuntos jurídicos da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de
Janeiro (ABRH-RJ), a atitude de Danilo foi correta. “Caso a pessoa se sinta
incomodada ou ofendida, o correto é procurar o chefe imediato ou o RH, que irá
verificar como solucionar o problema”, explica.
Alqueres ressalta que o ideal é se informar
sobre as políticas da empresa. “O funcionário sempre deve saber o que consta no
código de ética e conduta da empresa, para saber se está bem protegido.”
Caso o funcionário não tenha retorno ou veja
mudanças na atitude dos colegas, o recomendado é buscar canais competentes e
formalizar uma denúncia. “Na maioria das vezes os gestores e diretores não têm
noção de que essas situações acontecem, portanto é preciso primeiro informar
internamente. Caso não aconteçam mudanças, os órgãos competentes podem ser
acionados”, explica ela, se referindo às coordenações de diversidade estaduais
e municipais e até à justiça do trabalho.
ALUNOS SABEM MAIS QUE OS
PROFESSORES.
A professora de educação física Sara Rayanne
Silva Azevedo, 28, conta que também é alvo de piadas e comentários. “Ouço
comentários o tempo todo, principalmente de colegas. É quase algo naturalizado,
cotidiano. Me sinto bem incomodada e por muito tempo cheguei a esconder a minha
orientação sexual”, relata.
Mesmo considerando não revelar sua orientação
sexual, Sara preferiu sair do armário e enfrentar a situação, mas procura
responder os comentários sempre que possível. “Comecei a fazer piadas também,
do tipo ‘É muito difícil ser hétero’”. Foi assim, com ironia, que ela decidiu
rebater os colegas. Em relação aos alunos, revela ela, a situação é mais suave.
“Eles são bem mais compreensivos que os
professores. Os mais novos estão cada dia mais em meio ao turbilhão de emoções
e com a sexualidade aflorada, e mesmo os alunos LGBT, que sofrem com as piadas,
têm conquistado um espaço que é próprio deles”, relata.
Como dica principal para se defender desse
tipo de situação que ainda é comum, Sara orienta: “Encontre uma forma de
enfrentar, seja com bom humor, seja com conversas. Deixar se tornar algo
natural é o principal problema”, aponta.
Para os casos em que as piadas partem dos
subordinados no trabalho, o conselho de Alqueres vai pela mesma linha. “Quando
se trata de um funcionário, vale sentar, conversar e explicar que aquela
brincadeira pode vulnerabilizar a empresa, pode causar danos. E que esse tipo
de piada não faz parte do contrato”, ensina.
HETERO CONSCIENTE.
Lucas Coelho, 32, publicitário e dono de uma
agência, é heterossexual. Porém, ele também se sente incomodado com as ditas
brincadeiras envolvendo os LGBT. “Acredito que uma das principais ações para
acabar com o bullying em ambiente de trabalho é um hetero consciente”, afirma,
bem humorado.
“É uma reprodução. Quando eu era pequeno, todo
mundo dizia ‘gordo morfético’, sem saber o que aquilo representava, só por
repetição. Fala-se viado, no sentido pejorativo, pelo mesmo motivo. A diferença
é que antigamente ninguém assumia ser homossexual, então não se percebia que
isso seria uma ofensa a alguém. Hoje em dia, não vejo mais desculpa pra
continuar com essa atitude. Apenas a preguiça em raciocinar e mudar.”
Adepto do diálogo aberto, Lucas sempre fez
questão de chamar a atenção dos colegas. Ao fundar sua própria agência, abordou
o assunto antes dele se tornar um problema.
“Tivemos uma estagiária assumidamente lésbica
e desde o primeiro dia reuni a equipe e deixei claro que não iria admitir
qualquer tipo de piada ou comentário por conta disso. No começo, todos acharam
que era apenas brincadeira, mas com um pouco de conversa e seriedade, as
pessoas compreendem que isso é algo que não cabe em ambiente profissional”,
finaliza.
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