sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

EXCESSO DE ATIVIDADES FAZ TEMPO PARECER MAIS CURTO...

FONTE: Yuri Abreu, TRIBUNA DA BAHIA.


Doenças do cotidiano provocadas por ritmo acelerado.

 “Hoje o tempo voa, amor. Escorre pelas mãos. Mesmo sem se sentir”. O trecho da música Tempos Modernos, do cantor carioca Lulu Santos, ajuda a ilustrar um pouco da atual realidade que vivem as pessoas nas grandes cidades do país. Hoje em dia, é muito comum reclamar da falta de tempo para fazer as coisas e dar conta de tantas atividades. Quando menos esperávamos, já estamos no dia 16 de dezembro de 2015, há menos de 20 dias para 2016, sendo que, “ontem”, o ano estava apenas começando.
Mas, a cerca de 20, 30 anos, a impressão era de que o tempo passava em uma “marcha mais lenta” e os meses não corriam assim, tão rápidos. De acordo com o psiquiatra, Lucas Alves Pereira, que é membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e um dos diretores da Associação Psiquiátrica da Bahia (APB), a razão para esta mudança de pensamento por parte das pessoas faz parte da atual vida moderna.
“Uma das hipóteses que levo em consideração é o fato de o nosso cotidiano estar cada vez mais acelerado, mais ocupado, sem contar os avanços tecnológicos que fazem parte da nossa vida, apesar do nosso ritmo biológico ser mais lento do que toda essa agitação e termos o mesmo organismo dos indivíduos mais antigos”, disse. Ainda de acordo com o especialista, isso vai de encontro a uma ordem natural das coisas. “A ideia seria aproveitar a maior parte do tempo com as coisas que dão mais prazer”, contou.
A outra ideia levantada por ele é a de que, à medida que vamos envelhecendo, temos a percepção de que, de fato, achamos que tudo acontece mais rápido. “Uma criança de 12 anos acha que será uma ‘eternidade’ chegar aos 18. Já um idoso de 60, acredita que chegará aos 66 num piscar de olhos”, salientou. 
Outro exemplo dado pelo especialista sobre como a percepção do ser humano é bastante mutável, é observado quando fazemos uma viagem de carro. “Na ida, tudo é novidade e, por isso, temos a impressão de que a viagem é mais demorada. Se fizermos o mesmo caminho, na volta, a ideia é de que o retorno foi muito mais rápido”, explicou.

Doenças do cotidiano provocadas por ritmo acelerado.
Até pouco depois da metade dos anos 1990, a internet ainda não era acessível à maioria da população. Email, sites de notícias, redes sociais e aplicativos de troca de mensagens eram coisas, até então, pouco utilizadas ou inimagináveis. Para receber uma informação de um parente distante, usava-se um telefone fixo ou, a depender da cidade, escrevia-se uma carta.
Mas, hoje em dia, até mesmo as maiores distâncias conseguem ser vencidas com apenas um clique. Se antes uma notícia demorava a chegar, a depender do fato de onde ocorria, hoje está tudo na palma da mão, com os telefones celulares. “Cada vez mais temos uma grande necessidade de absorver informações. Mesmo em menores cidades, onde a percepção, ainda, é a de que o tempo passa mais lentamente”, disse Pereira.
Contudo, essa sede por informações e a “falta de freio” diante de toda essa correria, tem levado as pessoas a desenvolverem doenças que já fazem parte do nosso cotidiano, aliados a um sintoma de estresse intenso: os transtornos de ansiedade e a depressão.
Atualmente, a depressão é a segunda causa de afastamento do trabalho. Mas pesquisas apontam que, até 2030, ela ficará em primeiro lugar”, alertou o psiquiatra.
Para controlar os excessos, ele alerta que o caminho a ser percorrido passa por três etapas: moderação, autocontrole e, a depender do caso, consultas com especialistas, já que, se não for devidamente observada, essa ansiedade pode trazer problemas no futuro. “É necessário ficar atento à saúde mental. Se essa aceleração cotidiana trouxer transtornos à mente e ao corpo, é melhor parar. A prevenção ainda é o melhor remédio”, apontou.

Para as crianças, que atualmente também estão envolvidas em diversas atividades ao longo do dia após a escola – cursos de idiomas, aulas de artes marciais, etc. – a dica vai para os pais: cuidado com a superestimulação. 

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