FONTE: Yuri Abreu, TRIBUNA DA BAHIA.
Doenças do cotidiano provocadas por ritmo
acelerado.
“Hoje o tempo voa, amor. Escorre pelas mãos.
Mesmo sem se sentir”. O trecho da música Tempos Modernos, do cantor carioca
Lulu Santos, ajuda a ilustrar um pouco da atual realidade que vivem as pessoas
nas grandes cidades do país. Hoje em dia, é muito comum reclamar da falta de
tempo para fazer as coisas e dar conta de tantas atividades. Quando menos
esperávamos, já estamos no dia 16 de dezembro de 2015, há menos de 20 dias para
2016, sendo que, “ontem”, o ano estava apenas começando.
Mas, a
cerca de 20, 30 anos, a impressão era de que o tempo passava em uma “marcha
mais lenta” e os meses não corriam assim, tão rápidos. De acordo com o
psiquiatra, Lucas Alves Pereira, que é membro da Associação Brasileira de
Psiquiatria e um dos diretores da Associação Psiquiátrica da Bahia (APB), a
razão para esta mudança de pensamento por parte das pessoas faz parte da atual
vida moderna.
“Uma
das hipóteses que levo em consideração é o fato de o nosso cotidiano estar cada
vez mais acelerado, mais ocupado, sem contar os avanços tecnológicos que fazem
parte da nossa vida, apesar do nosso ritmo biológico ser mais lento do que toda
essa agitação e termos o mesmo organismo dos indivíduos mais antigos”, disse.
Ainda de acordo com o especialista, isso vai de encontro a uma ordem natural
das coisas. “A ideia seria aproveitar a maior parte do tempo com as coisas que
dão mais prazer”, contou.
A outra
ideia levantada por ele é a de que, à medida que vamos envelhecendo, temos a
percepção de que, de fato, achamos que tudo acontece mais rápido. “Uma criança
de 12 anos acha que será uma ‘eternidade’ chegar aos 18. Já um idoso de 60,
acredita que chegará aos 66 num piscar de olhos”, salientou.
Outro
exemplo dado pelo especialista sobre como a percepção do ser humano é bastante
mutável, é observado quando fazemos uma viagem de carro. “Na ida, tudo é
novidade e, por isso, temos a impressão de que a viagem é mais demorada. Se
fizermos o mesmo caminho, na volta, a ideia é de que o retorno foi muito mais
rápido”, explicou.
Doenças do cotidiano provocadas por ritmo acelerado.
Até
pouco depois da metade dos anos 1990, a internet ainda não era acessível à
maioria da população. Email, sites de notícias, redes sociais e aplicativos de
troca de mensagens eram coisas, até então, pouco utilizadas ou inimagináveis.
Para receber uma informação de um parente distante, usava-se um telefone fixo
ou, a depender da cidade, escrevia-se uma carta.
Mas,
hoje em dia, até mesmo as maiores distâncias conseguem ser vencidas com apenas
um clique. Se antes uma notícia demorava a chegar, a depender do fato de onde
ocorria, hoje está tudo na palma da mão, com os telefones celulares. “Cada vez
mais temos uma grande necessidade de absorver informações. Mesmo em menores
cidades, onde a percepção, ainda, é a de que o tempo passa mais lentamente”,
disse Pereira.
Contudo,
essa sede por informações e a “falta de freio” diante de toda essa correria,
tem levado as pessoas a desenvolverem doenças que já fazem parte do nosso
cotidiano, aliados a um sintoma de estresse intenso: os transtornos de
ansiedade e a depressão.
Atualmente,
a depressão é a segunda causa de afastamento do trabalho. Mas pesquisas apontam
que, até 2030, ela ficará em primeiro lugar”, alertou o psiquiatra.
Para
controlar os excessos, ele alerta que o caminho a ser percorrido passa por três
etapas: moderação, autocontrole e, a depender do caso, consultas com
especialistas, já que, se não for devidamente observada, essa ansiedade pode
trazer problemas no futuro. “É necessário ficar atento à saúde mental. Se essa
aceleração cotidiana trouxer transtornos à mente e ao corpo, é melhor parar. A
prevenção ainda é o melhor remédio”, apontou.
Para as
crianças, que atualmente também estão envolvidas em diversas atividades ao
longo do dia após a escola – cursos de idiomas, aulas de artes marciais, etc. –
a dica vai para os pais: cuidado com a superestimulação.
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