Localizada
na Flórida, a Miracle Village recebe homens e mulheres condenados por crimes
sexuais e que já tenham cumprido as penas impostas pela justiça norte-americana.
Dezenas de pequenas
casas de madeira pintadas de branco, quintais com a grama cortada e ruas sem
trânsito. A pacata Miracle Village (Vila dos Milagres), situada no sul da
Flórida, lembra mais uma tradicional pequena cidade norte-americana, mas todos
os moradores locais possuem um histórico de crimes. Os 200 habitantes, entre
homens e mulheres, são todos ex-condenados por abusos sexuais que já cumpriram
as penas impostas pela justiça dos EUA, mas seriam excluídos pela sociedade.
O idealizador do
vilarejo exclusivo para criminosos sexuais foi o pastor Dick Witherow. A ideia
surgiu após ele ser condenado por um crime sexual. Witherow foi acusado de se
relacionar sexualmente com uma jovem de 14 anos. Mesmo alegando que a garota
era sua namorada e concordava com o relacionamento, a justiça norte-americana o
condenou por estupro de vulnerável. Após alguns meses, ela engravidou e depois
de muita luta conseguiu a autorização para se casar com o pastor.
Independentemente de o relacionamento ser consentido, ele ficou marcado como um
criminoso sexual perante a sociedade.
Assim como ele, outras
milhares de pessoas passam por situações semelhantes nos Estados Unidos e ficam
estigmatizadas como criminosos sexuais, enfrentando dificuldades para conseguir
empregos e até alugar um imóvel. A legislação norte-americana só permite que
mulheres mantenham relações sexuais após os 16 anos, mesmo com consentimento. A
regra rígida e extremamente polêmica foi criada em 1920, como forma de combater
a prostituição infantil no país. Então, se um casal de adolescentes iniciar um
relacionamento e a garota possuir idade inferior ao que determina a lei, o
garoto poderá ser acusado de estupro e condenado por crime sexual. Outro caso
que também configura crime é quando dois jovens menores de idade começam a se relacionar
e o primeiro completa 18 anos, atingindo a maioridade. Neste momento, perante a
lei norte-americana, o mais velho se transforma num criminoso sexual.
Entretanto, estes casos só são julgados nos tribunais quando denunciados às
autoridades.
A ideia do vilarejo
conta com o apoio de membros da justiça norte-americana. O defensor público da
região de Palm Beach, Carey Haughwout, defende a ideia como uma "forma de
incluir estas pessoas à sociedade e tentar normalizar as vidas delas após
cumprirem as penas impostas pela justiça". A explicação para a iniciativa
é a legislação da Flórida que limita as ações de ex-condenados mesmo após a
conclusão da pena. Entre as exigências impostas pela justiça está a proibição
deles morarem a menos de um quilômetro de distância de escolas, praças e pontos
de ônibus, o que transforma muitos em sem-tetos.
Contudo, o vilarejo não
aceita qualquer integrante e há regras rígidas de conduta interna. Só são
aceitos na comunidade ex-condenados que não possuem histórico de violência,
como estupros, e não estejam envolvidos em casos de pedofilia. Por motivos de
segurança também é proibida a presença de crianças, mesmo que acompanhadas dos
pais.
Entre as exigências
para os moradores locais está a participação em aulas de estudos bíblicos e de
controle da raiva. A ida semanal à igreja do vilarejo também está inclusa na
lista de deveres. A maioria dos habitantes de Miracle Village também são
obrigados a participarem, diariamente, de encontros e reuniões com psicólogos e
terapeutas que auxiliam no tratamento.
Criado em 2009, o
vilarejo, que no passado abrigou cortadores de cana, ganha novos moradores
semanalmente. Segundo os responsáveis pelo refúgio, a Miracle Village recebe em
média 10 solicitações de novos habitantes por semana, porém antes é sempre
realizada uma rígida triagem dos futuros membros da comunidade exclusiva para
ex-condenados por crimes sexuais.
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