domingo, 10 de janeiro de 2010

LITORAL NORTE: FALTAM POLICIAIS, COLETES E ATÉ GASOLINA...

FONTE: *** JORGE GAUTHIER, CORREIO DA BAHIA.
Suas roupas ainda estão guardadas. O farto sorriso não sai da memória maternal. A força que carregava lenha para o velho fogão desapareceu. Aquele trágico 30 de maio de 2009 é revivido a cada instante. O cenário é paradisíaco: Sítio do Conde, no litoral norte. O gesseiro Rafael Souza dosSantos, 24 anos, voltava da praia onde jogara futebol com amigos quando cinco homens o sequestraram. E até hoje não apareceu.
Naquele dia, havia apenas um policial na cidade. O reforço demorou mais de quatro horas. “Perdi a esperança na polícia. Quando precisei de ajuda, a delegacia estava fechada”, lamenta a lavadeira Gilvânia Mendes de Souza. A falta de ação no dia do sequestro é reflexo da deficiente estrutura das polícias Civil e Militar nos municípios do litoral norte - área que recebe grande contingente de turistas no período de Verão.
O irmão de Rafael, Cosme SouzaSantos, 23, presenciou o sequestro, mas está descrente. “Semprequevamosna delegacia, a resposta é única: ‘Ainda estamos investigando’. Enquanto isso, não sabemos onde meu irmão está”.
JANDAÍRA
O CORREIO percorreu todo o litoral norte e identificou que faltam policiais, carros, coletes à prova de balas e até combustível. Das nove delegacias, duas não têm sequer um carro funcionando. A cidade de Jandaíra, a 192 km de Salvador, tem aproximadamente dez mil habitantes.
O município cobre as praias de Siribinha, Costa Azul, Coqueiro e Mangue Seco, mas a cidade possui apenas o delegado André Silva Santos e um policial civil, que trabalha um dia e folga três, e o único carro da delegacia está quebrado há dois meses. O delegado destacou que o acesso às praias é deficiente.
“A qualidade da estrada é ruim e isso dificulta as ações”. Enquanto a Polícia Civil tem agente apenas em parte do mês, a Polícia Militar de Jandaíra conta apenas com um ou dois policiais por plantão. O tenente Alex Viana, responsável pela 6ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), explica que para cobrir a área de praias e a zona urbana com um único carro - cedido pela prefeitura - é preciso fazer uma “baldeação”.
No final de semana, quando o fluxo de turistas é maior, dois PMs ficam no distrito de Costa Azul e outros dois em Mangue Seco. “O veículo deixa os policiais em um lugar e leva os outros para outras regiões. Se tiver algum fato em outro distrito, temos que pegar os policiais e fazer o deslocamento”, conta.
ENTRE RIOS
Quatro equipes de ronda com quatro policiais para cobrir Porto de Sauipe, Baixios, Subaúma, Massarandupió e Sauipe - todos distritos de Entre Rios (a 74km de Salvador). É isso que o tenente Luciano Araújo, chefe do policiamento operacional da 56ª CIPM, temà disposição. Ele considera a área de cobertura desproporcional.
“De Entre Rios para o distrito Porto de Sauipe são 70km e para Baixios são 50km de estrada ruim”, explica. Este ano, em Baixios, três homens foram linchados após roubar uma casa de material de construção. “Quando chegamos, só vimos os corpos. O povo aproveitou a distância para fazer justiça com as próprias mãos”.
No distrito de Baixios, dois PMs são destacados para fazer rondas, mas só no final de semana munidos de um carro. Já Massarandupió, que fica às margens da Linha Verde, não tem posto fixo da PM. “Nessa região, a prostituição infantil e o tráfico de drogas são os crimes mais comuns. Mas, no Verão, crescem os roubos e furtos”, concluiu Araújo.
A Polícia Civil de Entre Rios não quis falar sobre a estrutura da unidade policial. CONDE O estado de conservação dos carros de polícia é outro elemento agravante na segurança do litoral norte. Na delegacia de Conde (a 190km de Salvador), que cobre, além deConde, o Sítio doConde, há cotas de R$ 650 por mês para os dois carros - apesar de um estar quebrado há dois meses.
Na unidade funcionam a delegacia circunscricional e de proteção ao turista, com dois delegados e sete investigadores. “Aqui há mais furto e roubo de casa. No Verão, vira um problemão. Ficamos sem atender tudo por falta de gasolina”, revela o escrivão Manoel Messias. Na Polícia Militar da cidade, a situação não é diferente.
O tenente Jailton de Souza Caldeira, da 51ª CIPM, revelou que há apenas três carros disponíveis, sendo que um deles está quebrado. “Já teve situação em que a viatura parou no meiodaperseguição. Paramos para pedir informação e ela quebrou. Tivemos que chamar o reboque”, contou.
CAMAÇARI
Na 26ªDelegacia, em Vila de Abrantes, em Camaçari (48km de Salvador), há apenas três carros. “Tem um que está bem precário. Só sai para lugar bem próximo. Cada um tem uma cota de combustível de R$ 40. Nunca dá”, revelou um agente da unidade que pediu anonimato. Ele é um dos 30 policiais que trabalham na delegacia.
Os três carros disponíveis não são usados ao mesmo tempo por falta de investigadores. “São quatro agentes por plantão. Se sair mais de um carro vai para a rua só com um policial”, disse o agente.

*** Notícia publicada na edição do dia 10/01/2010.

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