segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

2010 EXIGE DIVERSIDADE NOS INVESTIMENTOS...

FONTE: Aline Cury Zampieri e Nélson Rocco do IG (TRIBUNA DA BAHIA).

O ano de 2010 exigirá esforço extra dos investidores. Uma mistura de juros ainda atrativos e de uma renda variável com potencial de alta questionado torna necessária uma análise mais criteriosa por parte de quem pensa em aplicar seu dinheiro. De forma geral, as alternativas são colocar recursos em ações de empresas ligadas ao mercado interno e fazer apostas em títulos de renda fixa. Operações ligadas ao dólar são as piores opções, já que os analistas não esperam por grandes oscilações para a moeda americana.
Os especialistas acreditam que a aplicação mais rentável continuará sendo em ações, na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), mas alguns já questionam se esse ganho superará a renda fixa. Eles lembram que a bolsa acumula uma alta de 233% desde 2002, e que parte das melhorias econômicas esperadas para o ano novo já foi embutida na valorização do Ibovespa – o principal índice acionário do Brasil – de 2009. “Parece que vamos ter um ano de recuperação de retorno e rentabilidade das empresas”, afirma Álvaro Bandeira, diretor da Ágora Corretora. “Haverá valorização das ações, mas não dá para prever algo como 80%.”
Os mais otimistas esperam que o Ibovespa atinja 85 mil pontos ao final de 2010, alta de cerca de 25% sobre o ano anterior. Eduardo Jurcevic, superintendente de investimentos do Banco Santander, diz que a projeção está calcada num crescimento mais forte do Produto Interno Bruto (PIB), em torno de 5,5%. Com a economia em expansão, crescem também os lucros das empresas, o que provoca ajustes em seus múltiplos de negociação nos cálculos nos analistas.
SEM BOLHA - Na corretora Link, o chefe de análise, Andrés Kikuchi, rechaça a opinião de alguns especialistas de que as sucessivas altas do Ibovespa poderiam ter formado uma bolha, ou seja, uma alta irreal e que resultaria na fuga repentina dos investidores. Segundo ele, é justamente o crescimento do PIB que traz sustentação para o índice, e eleva o patamar de negociação das ações brasileiras. “Há uma evolução forte da economia, sustentada por um mercado interno robusto, o que justifica esperar ações com preços mais altos”, diz Kikuchi.
Para o diretor da área de gerenciamento de ativos do banco Modal, Alexandre Póvoa, o Ibovespa terá desempenho superior ao da renda fixa em 2010. “Mas será um ano de volatilidade, combinando momentos de euforia com depressão”, diz. Ele ressalta que a valorização não será forte como a dos anos anteriores. “As apostas nos mercados emergentes perderam um pouco a graça, já que agora crescemos como os países desenvolvidos, mas com um risco que continua superior.”
Osvaldo do Nascimento, diretor-executivo de investimentos e previdência do banco Itaú Unibanco, acredita que num cenário de crescimento do PIB acima de 5% há espaço para a renda variável. “Mas neste quadro de pós-crise global, as bolsas dos emergentes foram as que mais cresceram”, afirma. Ele acrescenta que o Ibovespa, no patamar atual, se aproxima do pico de cotações atingido antes da crise, de 73.516 pontos, em maio de 2008.
AS EMPRESAS DE CAPITAL ABERTO.
Veja algumas ações recomendadas por especialistas de 14 corretoras e bancos de investimento para 2010.
AÇÃO: Vale do Rio Doce ON (VALE3) e Vale do Rio Doce PNA (VALE5)
SETOR: mineração - Valorização esperada: 35,2% (ON) e 33,7% (PN) - Votos: 9
A Vale do Rio Doce foi a mais votada entre os analistas ouvidos, que esperam que suas ações apresentem desempenho melhor do que o do Índice Bovespa. Segundo os especialistas, a mineradora tem vários pontos fortes. Seus principais clientes, as siderúrgicas chinesas, deverão manter as encomendas de minério de ferro para fazer frente ao crescimento do país. Além disso, a mineradora tem sido eficaz ao manter elevados os preços do minério de ferro nos contratos fechados com a China. A mineradora foi a única entre as recomendações que recebeu votos tanto para sua ação ordinária (com direito a voto) quanto para sua ação preferencial (com direito a dividendos).
AÇÃO: Petrobras PN (PETR4)
SETOR: petróleo - Valorização esperada: 36,6% - Votos: 8
Segunda mais votada, a Petrobras, principal ação da Bolsa brasileira, foi escolhida devido a sua relevância e às boas perspectivas com o pré-sal. Os especialistas sabem que levará anos para que esse petróleo abasteça algum automóvel. Mesmo assim, a petrolífera estatal é a ação mais negociada e uma das melhores portas de entrada do mercado brasileiro para os investidores internacionais.
AÇÃO: Gerdau PN (GGBR4)
SETOR: siderurgia - Valorização esperada: 23,3% - Votos: 5
Tanto no mercado interno, como mercado americano, a siderúrgica estará se beneficiando do crescimento econômico, dizem os analistas da corretora Planner. O mercado americano demonstra uma leve recuperação e as expectativas para o setor de construção civil no Brasil são positivas com o programa Minha Casa, Minha Vida, além dos investimentos em infraestrutura que deverão ser feitos por conta de Copa do Mundo e Olimpíadas.
AÇÃO: ItaúUnibanco PN (ITUB4)
SETOR: bancos e finanças - Valorização esperada: 22,7% - Votos: 4
As ações de bancos são papéis tradicionalmente defensivos, ou seja, recomendadas em momentos de crise, pois os bancos costumam manter seus lucros mesmo quando a economia não vai tão bem. No caso brasileiro, porém, as expectativas com o aumento do crédito – que deverá crescer 25% em 2010 – também anima dos analistas. O ItaúUnibanco deverá ganhar com o aumento dos empréstimos e pretende expandir o número de agências para o próximo ano, além de concluir o programa de integração entre os dois bancos, cuja união foi anunciada em outubro de 2008. “Em 2010, a estimativa é de que a carteira de crédito para pessoas físicas cresça 20% e para as pequenas e médias empresas aumente entre 20% e 25%. Já o segmento imobiliário deve ficar acima da média, com incremento previsto entre 30% e 35%”, dizem os analistas do Banco Safra.
AÇÃO: Lojas Americanas PN (LAME4)
SETOR: varejo - Valorização esperada: 23,8% - Votos: 4
Os analistas recomendam essa ação devido às boas perspectivas para o comércio em 2010, estimulado pelo crescimento da renda e da demanda. A Lojas Americanas anunciou um plano de expansão orgânica agressivo no fim de 2009, planejando inaugurar 400 lojas e dobrar sua área de vendas nos próximos quatro anos. Os analistas do banco Safra são mais conservadores e calculam que a expansão será de 350 lojas, mas avaliam que, mesmo assim, o plano deverá agregar valor aos acionistas.
AÇÃO: BM&FBovespa ON (BVMF3)
SETOR: bancos e finanças - Valorização esperada: 29,6% - Votos: 3
O processo de integração entre a Bolsa e Valores de São Paulo (Bovespa) e a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) foi concluído com louvor no fim de 2009, e a empresa agora pretende crescer significativamente em 2010. Os vetores do crescimento serão o esperado aumento de participantes do mercado e os acordos operacionais que estão sendo negociados com outros mercados, como o americano Nasdaq. Além disso, a Bolsa estabeleceu como meta elevar o número de acionistas individuais no mercado dos atuais 570 000 para cinco milhões nos próximos cinco anos.
AÇÃO: Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) ON (CSNA3)
SETOR: siderurgia - Valorização esperada: 27,5% - Votos: 3
O ano de 2010 será muito importante para a CSN, pois a empresa estará não só colhendo os frutos da recuperação da demanda em siderurgia, mas também a ampliação dos negócios em minério de ferro, do início de produção em escala no segmento de cimento e iniciando os negócios com aços longos. Atualmente, o minério de ferro já participa com 25% do faturamento e esse percentual deve crescer em 2010, já que a expectativa é que as vendas avancem de 22 milhões de toneladas em 2009 para 30 milhões em 2010 e 40 milhões em 2011, tornando a CSN a segunda maior empresa de mineração do Brasil. Já o segmento de cimento terá um volume na faixa de 400 mil toneladas.
AÇÃO: CYRELA ON (CYRE3)
SETOR: construção civil - Valorização esperada: 24,2% - Votos: 3
As perspectivas para a construtora são boas devido à expectativa de crescimento no volume de lançamentos de vendas contratadas, assim como o maior volume de entregas de empreendimentos. A Cyrela está fortemente posicionada no segmento popular, por meio da controlada Living, que responde hoje por 33% dos negócios e deve atingir 50% em 2012. A venda de imóveis populares deverá ser a mais beneficiada por programas como o Minha Casa Minha Vida.
DESEMPENHO VAI EXIGIR DO GESTOR.
No Banco Fator, o superintendente de alocação de recursos, Marcelo Faria Figueiredo, diz estar otimista com o Ibovespa, mas não ter certeza se o desempenho superará a renda fixa. “O ano de 2010 exigirá mais trabalho dos gestores, pois, para ter ganhos, o investidor deverá ser seletivo e escolher as ações, dentro da bolsa, que ainda não acompanharam as fortes altas recentes.”Os papéis de empresas menores, conhecidos como “small caps” por terem valor de mercado entre R$ 300 milhões e R$ 600 milhões, são apontados por Jan Karsten, diretor de investimentos do Citibank Brasil, como um bom negócio. “Deve-se buscar empresas de menor capitalização e ligadas à economia brasileira, que não dependam tanto do desempenho mundial, de setores como infraestrutura, educação, saúde e varejo”, afirma.Um ponto destacado por Ricardo Martins, gerente de pesquisa da corretora Planner, é a possibilidade de aproveitar a abertura de capital de novas empresas na bolsa para fazer investimentos. “Pode haver muito IPO [lançamento de ações], já que várias companhias adiaram a oferta de ações por causa da crise financeira internacional”, diz. Algumas operações de oferta inicial de ações são vistas como oportunidade de comprar ações por um bom preço.As projeções dos especialistas variam entre R$ 1,60 e R$ 1,80. Com o dólar na casa dos R$ 1,75, a compra da moeda norte-americana não tem sido recomendada pelos analistas.
ANTES DE INVESTIR, FIQUE ATENTO A SEU PERFIL.
Por mais que ofereça os maiores potenciais de rentabilidade, a aplicação em bolsa não será a melhor opção para o investidor avesso a riscos. Os especialistas consultados pelo iG alertam que, antes de fazer uma aplicação, o interessado deve estar ciente de seu perfil e de quanto se dispõe a perder num investimento. A partir deste mês, os bancos terão de oferecer questionários aos clientes de varejo para determinar seu apetite em relação ao risco, a Análise de Perfil do Investidor (API). Tradicionalmente, as casas dividem os investidores em “pacotes”, de acordo com sua tendência.
No Santander Brasil, o superintendente de investimentos, Eduardo Jurcevic, diz que há três perfis básicos.No primeiro, o investidor precisa dos recursos para o curto prazo, ou é avesso ao risco. Nesse caso, a indicação é de aplicação em fundos referenciados no Depósito Interbancário (DI), ou seja, pós-fixados, que não trazem surpresas.
RECURSOS A MÉDIO E LONGO PRAZOS.
O segundo perfil é o de quem tem média tolerância ao risco, ou pode aplicar os recursos no médio e longo prazos. A carteira seria composta por metade dos recursos em DI, 30% em fundos de capital protegido (fundos multimercado) e 20% em ações ou fundos de ações. Já o terceiro investidor é arrojado. Sua carteira ideal tem 40% em títulos pós-fixados, 30% em ações e 30% em fundos multimercados.
Marcelo Faria Figueiredo, superintendente de alocação de recursos, afirma que no Banco Fator o investidor conservador é considerado aquele que aceita no máximo 2% de volatilidade em sua carteira. Em outras palavras, pode perder ou ganhar 4%. Para esse perfil, ele não recomenda a compra de ações, mas sim alocação em DI e renda fixa
No Itaú Unibanco, Osvaldo do Nascimento, diretor-executivo de investimentos e previdência, diz que o tipo de aplicação também varia com a idade do investidor. “Um aplicador de 80 anos não tem o mesmo tempo para recuperar possíveis perdas do que um de 20 anos.” No caso dos mais novos, ele sugere aportes em planos de previdência e em ações. “No longo prazo, a renda variável sempre traz ganhos.” Carteiras de curto prazo, a exemplo dos demais analistas, são focadas em renda fixa ou CDBs.
RISCO - Os analistas de investimentos dizem que o maior risco para a projeção de alta do Ibovespa em 2010 é o cenário internacional. O principal seria a quebra de empresas, instituições financeiras de grande porte ou mesmo países, ainda como rescaldo dos efeitos da crise financeira mundial. Outro risco é uma recuperação mais rápida dos Estados Unidos, que abriria espaço para aquele país subir seus juros. Com isso, a renda fixa nos EUA ficaria mais atrativa.

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