quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

VOCÊ E O ORKUT RELAÇÕES PERIGOSAS...

FONTE: Nelson Rocha (TRIBUNA DA BAHIA).
No mundo, hoje, 1,6 milhão de pessoas utilizam o computador para se comunicar. No Brasil, são 68 milhões de usuários, um universo tão grande que, para Tiago Tavares, presidente da Safernet, organização não governamental que atua em nível nacional contra a prática de crimes na internet, é “previsível a prática de crimes. Os mais expressivos são contra os direitos humanos e geralmente relacionados com a pedofilia. Mais de 36 mil denúncias desta prática foram registradas em todo o país só em 2009. Em segundo lugar estão os crimes de ódio, como racismo, neonazismo e xenofobia. Em terceiro lugar podemos destacar a apologia à violência e à crimes contra a vida”, revela Tiago para, em seguida, aconselhar: “ Cuidado com as informações”
Mas quem aciona a luz vermelha e invisível do alerta é o professor de Informática Marco André Vizzortti, da Universidade de São Paulo: disponibilizar dados pessoais no Orkut, site de relacionamento, pode se tornar algo desagradável com resultados que podem nos aproximar do perigo. “O que apareceu como uma forma de contatar, saber notícias de quem está distante e mandar recados, hoje está sendo utilizado com o propósito de, creio ser o seu maior trunfo, obter informações sobre uma classe privilegiada da população brasileira”, considera o mestre em comunicação on line.
“Faço um pedido: quem quiser se expor assim, faça-o de forma consciente e depois não lamente, nem se desespere, caso seja vítima de uma armação”. A preocupação do professor Vizzortti tem fundamento. Com alguns minutos de navegação, alguém mal intencionado passa, a saber, quantos filhos você tem, ou se não os tem, onde estuda, trabalha, locais que gosta de frequentar, nome de familiares, amigos, enfim, o seu perfil e dos que gravitam em torno do seu universo social e profissional. “ E o melhor de tudo, com uma foto na mão, que identifica seu rosto em meio a multidões, na porta do trabalho, onde você está”, observa o professor da PUC.
O policial civil Amado Leal, 41, concorda com o mestre paulista. Há cerca de cinco anos ele criou sua página no Orkut. Entretanto, “para evitar problemas”, como costuma dizer, com o passar do tempo acabou por retirar fotos e informações pessoais do site. “A intenção não era essa, mas existem pessoas mal intencionadas. Hoje levo muito tempo sem atualizar as informações”, revela. Obter pistas concretas sobre os bandidos virtuais, conforme Amado “requer uma investigação mais apurada”. Por isso mesmo, ele torce para que o Congresso Nacional aprove propostas que dificultem os chamados crimes cibernéticos, que envolvem clonagens de cartões e até tentativas de injúria e difamação.
OS ESTRANHOS NO NINHO.
O psicólogo Frederico Lima admite que todas essas ferramentas virtuais (Orkut, MSN, Twitter, etc) “chegaram para ficar. Entretanto, se tornam um problema clínico se utilizada como um fim. Como atividade meio, para pessoas com dificuldades geográficas de aproximação, a rede social virtual é de fundamental importância, num processo clínico que contribui para o acesso ao outro”, ressaltou. Para Lima, esse novo comportamento de relacionamento na sociedade de um novo século pode ser uma forma de ajuda para as pessoas que se sentem deprimidas ou isoladas. “A leitura pejorativa não cabe nesses casos”, afirmou. A jornalista Lílian Machado é partidária do Orkut, mas não abre a guarda com relação ao que chama de “estranhos no ninho”. Quando alguém que ela não conhece pede para ser amigo (a) e compartilhar do seu mundo virtual, a resposta é sempre negativa. “Eu não aceito. Só converso com parentes distantes, amigos de infância, colegas”, afirma e acrescenta que não é viciada em relacionamento virtual. “ Cultivo apenas para conservar os contatos”, esclarece.
Já o comportamento do jovem Pedro César Ferreira, 20, chega a ser compulsivo diante do Orkut. “Utilizo para tudo, principalmente azarar as gatinhas. Estou sempre aberto às novas amizades, principalmente se for de mulher. Tenho paqueras em vários estados. Com elas converso e troco fotografias. Se for de Salvador dá até pra rolar um encontro no shopping, na praia. Só não aceito papo com homens que não conheço”, revela o estudante, sem perceber que agindo desta forma pode estar dando espaço para o perigo, apesar da distância de um computador para o outro.
Um Termo de Cooperação assinado entre o Departamento de Polícia Federal, Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Comitê Gestor da Internet no Brasil e a Safernet, permite aos internautas que se depararem com conteúdos suspeitos denunciarem, de forma anônima, as páginas eletrônicas, por meio de formulário on-line disponibilizado no site do Departamento de Polícia Federal (http://www.dpf.gov.br/). Outro canal para denunciar cibercrimes, acessar dicas de segurança ou simplesmente colaborar é o da própria ong: http://www.safernet.org.br/.
UMA EXPOSIÇÃO MUITO GRANDE, PORTANTO DE ALTO RISCO.
“O Orkut é uma exposição muito grande e, por isso mesmo, perigosa. Eu gosto porque a gente fala com todo mundo ao mesmo tempo. É uma nova forma de relacionamento, mas é preciso estar muito atento até mesmo para a questão da inveja, porque você fica sabendo quem entra na sua página e o que deseja”, comentou a universitária Letícia Mascarenhas, 23 anos, que diariamente passa horas a fio conectada a conversar com amigos e colegas. “O Orkut é um reflexo digital do comportamento humano. O perigo está por toda parte. Com o Orkut a bandidagem tem um novo canal para agir, mas quem é do mal continuará sendo um perigo para a sociedade do mesmo jeito”, analisa o estudante de psicologia Armando Seixas, 24 anos, que prefere conversas on line via e-mails e MSN por considerar “mais seguro”.
“ Oriente seus filhos a esse respeito, pois colocam dados deles e da família sem pensar em consequências. Fazem isso pelo desejo de participar, mas não sabem ou não pensam no perigo de se dar dados pessoais e da família para qualquer pessoa. Pessoas muito próximas a mim, e queridas, já passaram por dramas gratuitos, sem perceber que tinham sido vítimas da própria imprudência”, conta André Virzzortti, que faz campanha na Internet de esclarecimento sobre os maleficios que o site de relacionamento mais acessado no Brasil pode provocar no ambiente familiar. “Reveja sua participação no Orkut ou, ao menos, suprima as fotos e imagens de seus filhos menores e parentes que não merecem passar por situações de risco”, conclui o professor.

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