sábado, 6 de agosto de 2011

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS É MINORIA NA BAHIA.

FONTE: Roberta Cerqueira, TRIBUNA DA BAHIA.

Você doaria órgãos de um familiar falecido? Apesar das inúmeras campanhas de incentivo à doação e os investimentos em transplantes, mais da metade dos baianos respondem não a esta pergunta. De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), 64,7% famílias com potenciais doadores, entrevistadas em 2011, negaram a doação. O percentual de negativas é maior que a média nacional que é de 50%.


Metade das 1.736 famílias abordadas em todo país no primeiro semestre deste ano se recusou a efetivar a doação, segundo os dados da ABTO. Ano passado, a Bahia registrou 346 potenciais doadores e 107 famílias (30,9%) negaram a doação. Nos seis primeiros meses de 2011, foram registrados 174 potenciais doadores, mas apenas 102 entrevistas foram feitas e destas 66 familiares recusaram a doação, contabilizando 64,7% de negativa.


De acordo com o médico Eraldo Moura, coordenador do Sistema Estadual de Transplantes (Coset) da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), a falta de informação das pessoas em relação ao sistema de doação de órgãos ainda é uma das principais causas destas recusas. “Em países como Estados Unidos, Canadá, Espanha e Portugal a negativa da família é menor que 10%, devido ao nível de conhecimento das pessoas em relação à doação de órgãos, aqui no Brasil ainda existe um tabu muito grande, as pessoas não conversam sobre o assunto em casa e quando alguém da família vem a falecer ninguém sabe se aquela pessoa queria ou não doar os órgãos”, lembra.


Para a ABTO, o número reforça a importância de programas educacionais para a população e de treinamento para os entrevistadores. Essa é a primeira vez que a associação analisa os casos de negativa familiar levando em consideração o número exato de entrevistas feitas e não o número de potenciais doadores - já que nem todas as famílias chegam a ser consultadas.


Conforme o mesmo levantamento, o estado do Maranhão teve, em 2010, 111 potenciais doadores e 37 negaram a doação, o que gerou 33,3% de recusa. Nos primeiros seis meses de 2011, foram identificados 40 potenciais doadores, mas apenas 14 famílias foram entrevistadas e dessas, 11 negaram a doação, o que elevou a negativa para 78,6%.

ACESSO REDUZIDO A TRANSPLANTES.
Um levantamento recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apontou que no Brasil, negros e mulheres têm acesso reduzido a transplantes. A pesquisa teve como foco os transplantes de órgãos sólidos, como coração, fígado, rins, pâncreas e pulmão.


Para realizar o trabalho, os pesquisadores analisaram dados de 1995 a 2004, fornecidos pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). O estudo mostrou que a cada quatro receptores de coração, três são homens. No transplante de fígado, oito em cada dez são para pessoas brancas. O mesmo ocorre com os transplantes de pâncreas, pulmão e rim.

O OUTRO LADO DA MOEDA.

Enquanto de um lado dezenas de pessoas recusam a doação, outras duas mil na Bahia vivem com limitações à espera de um doador. De acordo com Eraldo Moura, 630 pessoas estão na fila de espera por um transplante de córneas, 196 aguardam doadores de fígados e 1.204 necessitam de transplante de rins. A rede pública do estado não realiza transplantes de coração e pulmão e por esta razão não tem estas estatísticas, mas, segundo ele, o governo pretende disponibilizar o transplante de coração no Hospital Ana Nery ainda sem previsão.


Em relação ao número de doadores, entre janeiro e julho deste ano, a Sesab registrou 203 protocolos de morte cerebral, que resultaram em 43 doações de múltiplos órgãos e 53 doações de córneas. Foram realizados no estado 32 transplantes de fígado, 65 de rins, 110 de córneas e 14 transplantes de medula óssea.

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