FONTE: DE SÃO PAULO (www1.folha.uol.com.br).
"Comecei a beber depois do meu casamento. Casei com 20 anos, estou com 37. Meu marido, 25 anos mais velho, não gosta de sair. Deixou que eu saísse com as amigas.
De balada em balada, fui bebendo. No começo, cerveja, depois, caipirinha. Ficava tonta na segunda dose. Fui aumentando.
Saía para encher a cara. Gostava da sensação, me divertia. Sempre fui a que mais bebia da turma. Mais que homem.
Com dois anos de casada, tive minha filha. Passei a sair para beber no meio da semana também.
E comecei a misturar: vodca com suco, uísque com guaraná. Depois, uísque puro. Só parava quando passava mal.
Fui aumentando a dose. Comecei a beber em casa. Não precisava mais sair. E não precisava mais ser à noite.
Comprava no mercado. Ia com a minha filha, dizia para ela pegar uma coisa em outra prateleira e escondia a garrafa no carrinho.
Outras vezes, deixava ela na escola, às 7h, na volta comprava vodca no mercado. Bebia vendo TV, pela manhã.
Eu não sabia que era doente. Minha família também não. Fui ficando agressiva. Uma vez, enfiei o pé numa porta de vidro. Outra, caí da escada e quase quebrei o joelho. Prejudicava minha família, mas não estava nem aí.
O viciado só olha o próprio umbigo, é egocêntrico. Só quer saber de se anestesiar. Eu nem sabia por que bebia. Não era mais por diversão. Era necessidade, mas achava que conseguiria parar.
Foi quando tentei parar e não consegui. O máximo que consegui ficar sem beber foi uma semana. Quando voltava, bebia mais ainda.
Percebi que estava fora do controle há sete anos, quando já tinha dez anos de vício.
Procurei um psiquiatra. Tomei antidepressivos. Fui em outros psiquiatras, fiz terapia, mas nada deu certo.
Tentei ir nos Alcoólicos Anônimos, mas vi aqueles tiozinhos dizendo que não bebiam há 25 anos. Aquilo me irritou. Eu bebia meia garrafa de vodca por dia.
O problema do álcool é que ele é fácil. É lícito. Já experimentei outras drogas. A gente é viciado em sensações.
Mas é mais fácil comprar álcool do que ir numa biqueira pegar cocaína. Principalmente para mulher. Não me viciei em cocaína porque não tive coragem de ir comprar.
O último médico falou que eu tinha que me internar. Minha família achava que não, que iam me segurar. Eles procuravam bebida. Eu não tinha mais onde esconder.
Passei a beber álcool de cozinha, um mês e meio antes de me internar. Chegamos à conclusão que eu não conseguiria sozinha. Sou doente, e a doença é incurável.
R. M. T., 37 anos, dona de casa, há três meses em tratamento.
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