FONTE: Catiane Magalhães, TRIBUNA DA BAHIA.
O conforto do lar e o convívio com familiares e amigos podem ser fortes aliados no tratamento contra doença renal crônica. É o que revela o resultado de um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que comparou dois grupos de pacientes: um que recebe tratamento domiciliar; outro, hospitalar.
Durante um ano, os médicos acompanharam os dois grupos e constataram que os pacientes tratados em casa têm mais qualidade de vida e apresentaram melhoras consideráveis, se comparado aos que passam por procedimentos similares em unidades hospitalares.
Além da evolução no quadro médico, os pesquisadores descobriram também que a diálise peritoneal (domiciliar) apresenta um menor custo em relação à hemodiálise convencional, reduzindo em até 5% os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com diagnósticos, terapias dialíticas, internações, medicamentos, honorários dos profissionais de saúde, transporte e perda de produtividade do paciente. Isso significa uma economia de até R$ 2,7 mil por paciente, a cada ano.
Atualmente, o governo gasta mais de R$ 54 mil para cada pessoa afetada pela doença. Com a diálise peritoneal, esse custo cai para cerca de R$ 51 mil por ano, dinheiro que pode ser investido na prevenção de outras patologias.
No Brasil, a doença renal já é considerada um problema de saúde pública e atinge mais de 13 milhões de brasileiros, em diversos estágios de disfunção. Pelo menos 80 mil pacientes renais crônicos fazem diálise pelo SUS, porém, apenas 10% deste universo, ou seja, cerca de 8 mil, fazem diálise peritoneal. O número é considerado muito baixo, já que este método terapêutico faz parte do protocolo de tratamento da doença e seja integralmente custeada pelo SUS.
Segundo o nefrologista Ricardo Sesso, professor associado da disciplina de Nefrologia da Unifesp e responsável pela pesquisa, se o número de doentes renais em tratamento com este tipo de terapia aumentasse para 20%, num período de 5 anos – considerando a taxa anual de crescimento de pacientes diagnosticados com a doença em estágio avançado de 4% –, o governo economizaria cerca de R$ 69 milhões.
Diminuição de custos.
O valor total economizado equivale à ampliação do tratamento dialítico para 1.319 pacientes no período de 5 anos. Desta forma, é possível aumentar o acesso ao tratamento da doença, sem grandes investimentos por parte do governo. Essa economia apontada no estudo deve-se à diminuição dos custos diretos e indiretos em pacientes tratados com diálise peritoneal, independentemente da idade e comorbidades relacionadas.
O especialista ressalta ainda que essa medida é viável e beneficiaria tanto o SUS, como os doentes renais crônicos, uma vez que a diálise peritoneal proporciona qualidade de vida superior em vários aspectos ao paciente quando comparada à hemodiálise convencional.
“Com a terapia domiciliar, além de o paciente ter mais liberdade para realizar suas atividades de rotina, como trabalhar e estudar, existe um ganho relevante em relação à preservação da função renal e aos gastos com transportes e medicamentos relacionados ao tratamento”, afirma o Dr. Sesso. Para Marcos Bosi Ferraz, professor adjunto da Unifesp, diretor do Centro Paulista de Economia em Saúde (CPES) e co-autor do estudo, o aumento de indicação de diálise peritoneal, por menor que seja, pode representar uma economia significativa para o tratamento.
“A ampliação deste tipo de terapia para 20% dos pacientes representa a economia de cerca de R$ 69 milhões em 5 anos, mantidas as condições atuais, e é uma alternativa eficaz para ampliar o número de vagas para o tratamento da doença renal crônica no Brasil”, explica o especialista.
Em outros países, onde a diálise peritoneal é considerada a primeira opção de tratamento, o número de pacientes pode chegar a 80,4%, como na China; 65,8% no México e 46% na Colômbia.“É necessário otimizar a aplicação dos recursos já existentes, e incentivar a adesão a serviços de diálise eficientes para que resultem num melhor atendimento aos doentes renais crônicos”, ressalta Ferraz.
Como funciona a terapia.
A Diálise Peritoneal é uma alternativa de tratamento para pacientes portadores de Insuficiência Renal Crônica. Diferente da hemodiálise, terapia que exige o deslocamento do paciente três vezes por semana para fazer o tratamento na clínica, na diálise peritoneal o paciente é treinado e realiza o procedimento em casa. Dessa forma, a pessoa fica livre para realizar suas atividades diárias normalmente.
No tratamento domiciliar, a solução de diálise é infundida na cavidade abdominal do paciente. Conforme o sangue circula pela membrana peritoneal, tecido semipermeável que reveste internamente o abdome, as impurezas e a água do sangue são absorvidas pela solução de diálise. Tanto a hemodiálise, quanto a diálise peritoneal, como também o transplante renal são custeados na maioria dos casos pelo Sistema Único de Saúde – SUS.
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